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Automobilismo

Quando o ABBA foi parar na Fórmula 1

Aquela sensação de que antigamente as coisas eram melhores tem nome: nostalgia da era de ouro. É uma sensação bem comum e já serviu como base para livros, filmes e até mesmo um punhado de matérias do FlatOut. Uma delas falava sobre as velhas manhãs de domingo da F1, que tiveram seu auge, no Brasil, durante os anos 1980 e 1990, no período em que tivemos Nelson Piquet e Ayrton Senna (entre outros) – foi um comparativo de eras e gerações que, considerando apenas números e dados, mostrou que a também houve domínio de uma equipe sobre as outras e um pouco mais de imprevisibilidade.

Existiu mesmo uma “era de ouro da Fórmula 1”?

Deixando os números e estatísticas de lado, contudo, havia um elemento que tornava a Fórmula 1 do passado um esporte muito diferente do atual: os pilotos e equipes garagistas. Você sabe do que estou falando: equipes nanicas, formadas por verdadeiros sonhadores, caras que só queriam dar um jeito de colocar seus carros no grid para fazer parte daquilo e, quem sabe, contar com uma zebra para aparecer e viver da Fórmula 1. A chamada “era romântica” do automobilismo.

Talvez fosse o quase-amadorismo, ou aquela tendência natural que todo mundo tem de defender o mais fraco (ou torcer por ele, nesse caso), mas essa era romântica resultou em algumas das equipes mais carismáticas da Fórmula 1. Era o caso da Minardi, da Larousse e da Coloni, ou até mesmo a Jordan – talvez a última garagista de verdade da Fórmula 1.

E apesar de abrir as portas para pilotos pagantes, algo que, às vezes, é sinônimo de “piloto mediano com muita grana”, elas também deram chance para muita gente boa de verdade deixar seu registro na história da Fórmula 1.

Christian Fittipaldi, por exemplo, fez suas 40 corridas e seus 12 pontos na categoria pela Minardi e pela Footwork. Roberto Pupo Moreno, que chegou ao pódio do GP do Japão de 1991 ao lado do amigo de adolescência, Nelson Piquet naquela que foi a última dobradinha brasileira, conquistou seus primeiros pontos pela nanica AGS em 1986 e depois colocou uma fraca Coloni no grid de largada do GP de Mônaco de 1989 e repetiu a dose com a sucessora Andrea Moda em 1992. E ele só saiu da Benetton, porque Flavio Briatore encontrou um gênio chamado Michael Schumacher, que havia estreado em 1991 pela… Jordan.

Nesse sentido sim, a Fórmula 1 do passado era mais interessante que a atual. Isso, claro, sem contar histórias inusitadas, impossíveis de se repetir atualmente. Como a vez em que o Abba – isso mesmo, a banda sueca famosa por “Dancing Queen” – foi parar no grid da Fórmula 1.

Aconteceu no GP de San Marino de 1981, quando o piloto Slim Borgudd conseguiu sua estreia na categoria depois de passar os anos 1970 escalando as categorias de base – ele primeiro correu no campeonato sueco de turismo, depois foi para a Fórmula Ford escandinava, onde venceu o campeonato de 1973, subiu para a Fórmula 3 e acabou chegando à Fórmula 1, aos 34 anos.

A idade avançada pra um estreante tinha uma explicação: Slim Borgudd era Tommy Borgudd, um talentoso baterista sueco que conseguiu relativa fama nos anos 1960 com as bandas Lea Riders, Made in Sweden, Solar Plexus e Hootenanny Singers.

Nesta última ele encontrou um parceiro musical que se tornaria seu grande amigo no ramo, Björn Ulvaeus, um multi-instrumentista e produtor que mais tarde fundaria uma banda com sua esposa Agneta Fältskog e com o casal de amigos Benny Anderson e Anne-Frid Lyngstad. A banda foi batizada com as iniciais dos casais: Agneta e Björn, Benny e Anne-Frid, ou ABBA.

Segundo consta, Tommy chegou a tocar em algumas sessões de estúdio com a banda, mas colocou as baquetas em segundo plano para se dedicar à sua outra paixão, o automobilismo. Ele havia corrido algumas provas nos anos 1960, mas trocou o macacão e o capacete pela bateria. Ironicamente, o Abba deslanchou no Eurovision de 1973, justamente no ano em que Tommy foi campeão escandinavo de Fórmula Ford.

A relação de Tommy com Björn Ulvaeus nos anos seguintes é um pouco obscura. Algumas fontes mencionam que ele era o baterista do Abba nas turnês, outras dizem que ele era o baterista de estúdio (o cara que grava as baterias nas músicas novas). Na ficha técnica dos álbuns do ABBA, contudo, não há nenhuma menção a Slim ou Tommy Borgudd. O que se sabe é que, quando o baterista conseguiu seu cockpit na F1, Björn estava lá para ajudá-lo.

Borgudd não era um piloto pagante: ele conquistou a vaga na equipe depois de superar o tempo do outro piloto da ATS na época, Jan Lammers. E assim ele estreou no GP de San Marino de 1981. O problema é que a ATS não era a equipe mais rica do circo e, por isso, ele sabia que precisaria levar dinheiro – ou seja: precisaria ser um piloto pagante.

Para atrair patrocinadores, ele teve uma ideia brilhante: pediu ao seu amigo Björn Ulvaeus autorização para colocar o logotipo do ABBA em seu carro, pois isso atrairia muita atenção da imprensa, destacando os outros patrocinadores. E foi assim que o ABBA acabou aparecendo no grid da F1. Não só com seu logotipo, mas também com uma visita de Björn aos boxes para conhecer o carro de Slim.

Slim terminou a corrida em 13° e, nas corridas seguintes sofreu com um carro muito fraco. Mesmo assim, ele conseguiu se classificar para o GP da Grã-Bretanha daquele ano e terminou a corrida na sexta posição, conseguindo seu primeiro ponto na Fórmula 1.

Seu desempenho foi notado por Ken Tyrrell, que o contratou para ser companheiro de Michele Alboreto na temporada de 1982. Slim, contudo, não se adaptou à nova equipe e, mesmo com resultados positivos nas três primeiras corridas da temporada, foi sacado por Tyrrell assim que o dinheiro de seus patrocinadores acabou.

Àquela altura o ABBA já estava em declínio com o fim da era disco e a separação dos casais que formavam o grupo, o que levou ao seu fim naquele mesmo ano. A marca ABBA já não poderia mais ajudar Slim Borgudd, que acabou migrando para categorias menores e para o Campeonato Europeu de Caminhões (a F-Truck local), onde foi campeão da Divisão 2 e Divisão 3.

Ele se manteve competitivo até o fim dos anos 1990, quando se aposentou das pistas acusando a Mercedes de favorecer outros pilotos. Ele ainda correu esporadicamente pelo Porsche Club do Reino Unido e se envolveu com a Radical Sportscars, primeiro como gerente internacional da marca, depois como piloto e piloto de testes. Desde 2016 ele mantinha a Slim Racing, uma equipe que organizava corridas com os modelos da Radical no Reino Unido.

Em 2022, Slim foi diagnosticado com o mal de Alzheimer. Ele vinha sendo tratado desde então, mas sucumbiu à doença nesta última quinta-feira, 23 de fevereiro.


 

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