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Car Culture

Quando o Mustang quase virou um Mazda

Nesta semana o Mustang completou 60 anos de estrada, mas esta história poderia ter sido diferente — ou talvez sequer existir até hoje — se a Ford tivesse seguido adiante com seus planos para o pony car no final dos anos 1980: transformá-lo em um esportivo japonês.

Pois foi quase isso o que aconteceu no início dos anos 1990, quando a Ford começou a planejar o sucessor do Mustang de terceira geração, também conhecido como “Fox Body”.

Àquela altura, a Ford já havia transformado o Mustang Fox em um carro mais interessante, dando um pouco mais de potência ao motor V8 de cinco litros e criando uma interessantíssima versão 2.3 turbo — que, mais tarde, seria a base histórica para o atual Mustang EcoBoost.

O Mustang Turbo, por ser um carro mais leve e equilibrado, e com praticamente a mesma potência do desajeitado GT V8 de 5 litros, poderia ser uma direção para o futuro do esportivo. Aqui é importante lembrar que, nos anos 1980, os cupês japoneses começaram a se consolidar nos EUA, como o Mazda RX-7, o Nissan Z e o Mitsubishi Starion, que foi vendido também sob as marcas da Chrysler no mercado americano. Isso, sem contar, que o Dodge Charger havia sido transformado em um cupê de tração dianteira. Os muscle cars como conhecemos pareciam não ter mais espaço no mundo, àquela altura dos anos 1980.

Dodge Conquest, um Mitsubishi Starion com sotaque americano

Talvez a Ford ainda não tivesse noção da importância do nome e da marca Mustang, e de tudo o que ele representava. Nos anos 1960, ele foi um dos grandes responsáveis pelo surgimento dos muscle cars e pony cars, tornou-se um herói das corridas de arrancada e mostrou que podia ser um bom carro de corrida com a ajuda de Carroll Shelby. Mas no início dos anos 1980 ele era apenas uma sombra de seu passado, sem um grande apelo como o do Corvette, que havia conseguido se manter como o “heartbeat of America” mesmo após a crise do petróleo. O Mustang rodava pelo mesmo caminho do Thunderbird. Era preciso evitar isso.

A Ford, então, lançou mão de uma fiel parceira: a Mazda. De 1975 a 2015 as duas empresas tinham uma relação muito próxima: em 1975, a Ford comprou 7% da Mazda, participação que aumentou ao longo dos anos até chegar a 33,3% em 1996. As duas compartilhavam recursos técnicos – os motores Zetec, Duratec e Sigma da Ford, , por exemplo, foram projetados com uma boa ajuda da fabricante japonesa. Havia também o Mazda 121 vendido na Ásia nos anos 1990, que era um Ford Fiesta rebatizado, e a Mazda B Series, que era uma Ranger com olhos puxados.

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Naquela época, a Mazda vinha fazendo relativo sucesso nos EUA com o cupê Mazda MX-6, cupê de tração dianteira com motor de quatro cilindros e apelo esportivo que custava pouco e não decepcionava em dinâmica. Para a Ford, era exatamente assim que o Mustang precisava ser naquele momento. Então, o novo Mustang seria baseado no MX-6 – simplesmente uma nova carroceria seria desenhada em volta da plataforma GD da Mazda, e o novo Mustang aproveitaria cerca de 60% de seus componentes.

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O trabalho começou no fim de 1982, com o designer Toshi Saito encarregado de criar as linhas do novo Mustang. Foi um trabalho que durou quase um ano e, em setembro de 1983, a equipe da Mazda tinha um protótipo em escala criado a partir de várias ideias selecionadas pela cúpula da Ford.

No entanto, de última hora, os americanos exigiram algumas mudanças no visual do carro, especialmente na dianteira, pois havia ficado “japonês demais”. A revisão estética adicionou mais dois meses ao prazo, e o desenho final foi entregue à Ford em dezembro de 1985.

Tudo estava pronto para que o novo Mustang começasse a ser produzido em 1990. Contudo, algo nada surpreendente aconteceu: quando a decisão de se fazer um Mustang de tração dianteira virou notícia, os admiradores do pony car se manifestaram em cartas para a Ford, criticando a manobra. Em resposta às manifestações, a Ford deu início ao desenvolvimento de uma nova reestilização para o Mustang, que foi concretizada em 1990, e passou a desenvolver uma nova geração de tração traseira, com o motor longitudinal dianteiro, como em todo Mustang até então.

Foi o bastante para dar um sopro de vida ao pony car, cuja evolução culminou no primeiro de todos os Mustang SVT Cobra R. Primeiro modelo da recém-inaugurada Special Vehicle Team, o Cobra R tinha um V8 Windsor de cinco litros e 238 cv, reforços estruturais e perdia equipamentos para chegar aos 1.417 kg – 40 kg a menos. Apenas 107 exemplares do Mustang SVT Cobra R foram fabricados em 1993. Em 1994, o Mustang foi totalmente reformulado para sua quarta geração. O resto, como dizem, é história.

E o novo Mustang? O projeto já estava avançado demais para ser cancelado e, então, depois que a poeira baixou, o carro foi lançado como Ford Probe. Ironicamente, o Probe foi fabricado na unidade de Detroit onde o Mustang é feito desde 2005.

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O nome vinha de uma série de cinco carros conceituais apresentados entre 1979 e 1985 – Ford Probe I, II, III, IV e V, assim em algarismos romanos mesmo. Criados pelo estúdio italiano Ghia, os conceitos tinham a proposta de unir elegância e modernidade. Eram carros diferentes, mas tinham características em comum, como a traseira Kamm (com um corte abrupto e vertical) e rodas traseiras cobertas.

O redesign da dianteira não adiantou muito, na verdade. O Probe ainda tinha cara de carro japonês… até  porque os faróis eram os mesmos do Mazda RX-7 FC, penúltima geração do clássico esportivo com motor Wankel. O painel de instrumentos também era emprestado da Mazda, e podia ser digital na versão “de luxo” LX.

O motor era um quatro-cilindros de 2,2 litros que podia ser naturalmente aspirado ou turbinado, com 110 cv e 145 cv, respectivamente; ou um V6 naturalmente aspirado de três litros e 140 cv. Passado o susto com a mudança que acabou não acontecendo no Mustang, o Probe foi bem aceito pelo público e até ganhou uma segunda geração, que foi lançara em 1993, mas, como ainda mais parecida com um esportivo japonês, só durou até 1997. Já o Mustang…