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Achados Meio Perdidos

Quanto vale um Fiat Uno Turbo de fibra de carbono e 450 cv?

Sim, o Achados Meio Perdidos está de volta! E este carro que trazemos nesta “nova temporada” do nosso “Achados”, coincidentemente, é um carro que tem a ver com a nossa história e com a história desta seção. Senta, que o tio Leo vai contar a história.

O Achados Meio Perdidos começou no Jalopnik Brasil em 2010. Foi uma adaptação minha e do editor do Jalop na época, o Leo Nishihata. Eu sugeri o formato, ele o nome. O quadro foi inspirado em dois formatos do Jalopnik americano: o “Down on the Street” e o “Nice Price or Crack Pipe”.  O primeiro mostrava carros encontrados no bairro onde morava um dos editores do site, Murilee Martin. O outro, eram carros que a equipe encontrava a venda nos classificados por preços relativamente acessíveis.

Os primeiros “Achados Meio Perdidos” brasileiros eram uma mistura dos dois, mas adaptado à cultura local: sem a variedade do mercado americano, eu escolhia dois tipos de carros para o “Achados”: raros ou colecionáveis. Poderia ser um carro que estava estacionado na rua, poderia ser algo legal encontrado durante o surfe de classificados. Esta, aliás, foi a grande sacada do “Achados”: transformar algo que todo entusiasta faz em um conteúdo especial.

O primeiro “Achado Meio Perdido” do Jalopnik Brasil

Salvo engano, o primeiro deles foi um Mazda MX-5 Miata vermelho de primeira geração, que eu via todo dia indo para meu antigo emprego, e que não estava à venda. Com o tempo, de forma quase natural, os carros anunciados dominaram a seção, de forma que, em 2013, quando formatamos o FlatOut, trouxemos o quadro com o mesmo nome. Hoje, “achado” é um jeito popular de se referir aos carros legais que a gente encontra a venda.

Um destes carros, por acaso, é um dos carros que deram as caras naquele Jalopnik Brasil que inventou o Achados Meio Perdidos: o Fiat Uno 2.1 Turbo Carbon. Não, ele não era um Achado Meio Perdido. Era um projeto apresentado por sua originalidade — algo como fazemos hoje no FlatOut Classics & Street. Na época, a história do carro foi contada pelo Rafa Souza, conhecido pelos entusiastas como Rafa Run4Fun, um dos colaboradores do Jalopnik e de outras publicações da época, como a revista Speed Master.

Já faz quase 15 anos que esse carro apareceu para o grande público, mas ainda hoje ele é um projeto muito acima da média — a ponto de ser estarmos colocando-o aqui, no novo “Achados” do FlatOut. Se você ainda não entendeu, esse Uno está a venda.

O que faz dele um projeto tão especial? Bom, trata-se de um Fiat Uno CS 1984/85 que está sob os cuidados da mesma família desde 1994 – 31 anos, portanto, algo que, por si, o tornaria interessante como um “Achado”. Mas o que faz dele realmente especial é sua história e o conceito do projeto — principalmente por sua execução.

Seu proprietário, Daniel Silveira, herdou o carro após a partida de sua mãe, que ganhou o Uno em 1994. Por algum tempo ele chegou a ser o único carro da família, servindo às necessidades diárias de uma família comum brasileira dos anos 1990. Por isso, quando Daniel colocou as mãos no carro em 2002, ele precisava de alguns reparos de mecânica e funilaria. E ali começou o projeto: na época leigo em mecânica, a ideia original era apenas instalar um jogo de rodas de 15 polegadas e fazer os reparos necessários.

O carro em 2014, no blog do Rafa Run4Fun

Entre idas e vindas frustradas a funilarias e oficinas de pintura, Daniel decidiu que levaria o carro para casa e faria tudo por conta própria, com ajuda dos amigos. O projeto agora seria diferente: com tempo, sem nenhum prazo para conclusão e sem nenhuma pretensão de vendê-lo — o carro acabou se tornando uma herança de sua mãe, que adoeceu e partiu durante o processo —, Daniel faria um projeto dos sonhos, transformando o Uno CS em um esportivo com a mesma proposta de seu hot hatch dos sonhos, o Lancia Delta HF Integrale.

Para isso, o Uno foi levado a uma concessionária Fiat onde teve toda a sua carroceria refeita de acordo com o padrão da fabricante – com o ponteamento da carroceria, substituição de chapas e adesivos estruturais no padrão original. De lá, o carro foi para a garagem de Daniel, que decidiu dar ao carro o visual do Uno Turbo, mas não feito de fibra ou plástico ABS, e sim um bodykit de fibra de carbono. O problema é que, na época — aqui estamos falando do início dos anos 2010, ninguém trabalhava com o material no Brasil. Daniel aprendeu a fazer tudo sozinho, algo que deu origem à sua empresa atual, a DS Special Parts. O carro, além de ser uma herança e uma escola, também acabou definindo a carreira de Daniel.

Foi assim que ele ganhou o body-kit completo do Uno Turbo em fibra de carbono — incluindo as saias laterais, arcos de para-lamas e até mesmo as maçanetas e retrovisores externos. Tudo foi feito cuidadosamente a mão pelo próprio Daniel, aos poucos, e instalado no carro. Além do bodykit, o Uno também recebeu uma série de acessórios que completam o visual de carro-de-pista-sem-pintura, como as travas Aerocatch no capô, a tampa de combustível da Sparco e o engate rápido Quik Latch na dianteira. Há ainda detalhes preciosistas como o conjunto óptico original da Arteb na traseira e Cibiè na dianteira.

Se a ideia era fazer um “Uno Integrale HF”, ele precisaria de um motor 2.0 16v Twin Cam, então o carro recebeu um motor vindo do Tempra Turbo, combinado a um cabeçote de 16v com preparação inspirada nos motores da TC2000 argentina. Em detalhes, isso significa o uso de pistões forjados de 86 mm da Powertech, bielas forjadas Scat de 152,4 mm, virabrequim standard nitretado e balanceado, coletor de escape tubular, turbo Masterpower 6164, linha de pressurização de inox, válvulas do turbo Tial, bicos originais de Tempra Turbo e bicos auxiliares Ford Racing de 160lb, radiador de óleo original do Uno Turbo e embreagem de cerâmica sem mola PRT com “chapéu chinês” duplo. Segundo Daniel, a preparação extrai do motor 450 cv de roda, mas pode chegar a perto dos 600 cv com overboost.

Como disse mais acima, a ideia original de Daniel era fazer um carro inspirado no Delta HF Integrale — o que exige tração integral. A opcão disponível na época era o sistema de tração do Audi S3, mas Daniel não queria fazer o “cruzamento de marcas” e, por isso, deixou o carro com tração dianteira, mantendo o câmbio original do Uno Turbo, com uma nova relação de marchas (1ª 3.54, 2ª 2.24 , 3ª1.44, 4ª 1.03, 5ª 0.87) e diferencial da linha Locker da Fiat, com bloqueio de 100% quando acionado. O trambulador, contudo, já foi preparado para receber uma transmissão sequencial, embora ainda tenha o padrão H.

O interior do carro também é um apanhado criterioso de peças: tem as forrações de porta originais do Uno Turbo, as forrações do Uno furgão nas laterais traseiras, forro de teto original do Uno Turbo, com o teto solar também trazido do Uno Turbo, combinado ao relógio de teto com cronômetro do Uno 1.5R. O carro também tem uma gaiola de aço inoxidável de oito pontos, projetada pelo próprio Daniel, um par de bancos concha Sparco Sprint com cintos Sabelt. O volante Momo também tem o legado da Fiat: é o mesmo modelo usado no Palio Weekend Stile. Um toque especial mencionado por Daniel é a tampa do tanque de combustível da Momo feita para o Uno, um item raro de se encontrar mesmo na Itália.

Quanto à suspensão e freios, o carro usa os discos de 285 mm do Marea Turbo na dianteira e do Tempra Turbo na traseira. Toda a suspensão é do Uno Turbo, com amortecedores ajustáveis da Fênix, com haste encurtada e mais carga, enquanto as buchas são feitas de poliuretano. Para completar, um jogo de rodas Weldsport TC105N de 3,9 kg.

Apesar de o carro estar pronto há quase 10 anos, Daniel conta que o próximo passo do projeto seria, enfim, dar a ele a transmissão integral agora que a Fiat lançou a Toro diesel 4×4 com caixa manual de seis marchas. Esta seria a modificação que o tornaria o “Delta Integrale feito em casa” que ele havia imaginado, mas depois de 30 anos com o carro e 20 anos desde o início do projeto, Daniel decidiu vendê-lo.

Alguns de vocês já devem ter visto o carro nas redes sociais. Ele fez algum barulho por seu preço: R$ 200.000. Sim, duzentos mil reais é a pedida. Imagino que seja uma pedida inicial, e que o valor seja negociável.

Conhecendo a história do projeto, os detalhes e a qualidade do que foi feito, fica evidente que não é um projeto barato. Um conjunto de fibra de carbono como este certamente não custará menos de R$ 40.000. Não com esta extensão. Depois há o motor, que também custará ao menos metade disso. Gaiola, suspensão, funilaria, pintura… comece a fazer contas e você entenderá de onde veio o preço.

Ao mesmo tempo, o carro é um Fiat Uno de primeira geração. Uma plataforma acessível no mercado brasileiro. Ele também é um carro que foi construído ao longo de cerca de 15 anos, um projeto muito personalizado e que, por isso, terá seu público-alvo muito restrito — algo que tende a reduzir o preço de qualquer produto, ainda que seja algo excepcional. Se vale o valor pedido… o mercado é quem decidirá. O que você acha?

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