Você é um dos engenheiros automotivos mais respeitados de todos os tempos, pai daquele que, para muitos, é o maior e melhor automóvel já feito na história – o McLaren F1, que já foi o carro produzido em série mais veloz do mundo. Que carro você compra para lhe fornecer toda a diversão ao volante de que você precisa? Aparentemente, um Alfa Romeo GT Junior Zagato preparado pela Alfaholics. Ou seja: um clássico raro, compacto, orgânico, modificado por verdadeiros experts em restauração e preparação. Gordon Murray é mesmo um homem inteligente e de muito bom gosto.
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Como você deve ter visto no FlatOut já há algum tempo, Gordon Murray encomendou com os britânicos da Retropower um Escort Mk1 com motor Cosworth – o carro já está quase pronto, diga-se, e deve aparecer por aqui em breve. Mas isto já aconteceu há mais de um ano e meio – falamos a respeito em março de 2018. Neste meio tempo, Murray deu início a outro projeto, feito nos mesmos moldes. Mas, em vez de um ícone britânico, trata-se de um clássico italiano mais obscuro, porém igualmente matador.
O Alfa Romeo GT Junior Zagato, também conhecido como Junior Z, foi um cupê feito com base no Giulia cupê dos anos 1960 e 1970. A base mecânica era a mesma, mas o entre-eixos era 10 cm mais curto (de 2,35 m para 2,25 m), o que o tornava ainda mais ágil nas curvas – e acabava com o espaço para o banco traseiro. Foram feitos 1.117 exemplares, mas dois deles foram destruídos pela própria Zagato antes mesmo de sair da fábrica porque, de acordo com a empresa, não estavam de acordo com o padrão de qualidade. Entre 1969 e 1972, o motor usado era o Twin Cam de 1,3 litro (1.290 cm³) da Alfa Romeo, com carburador de corpo duplo 89 cv. Parece pouco mas, com apenas 920 kg, o Junior Z 1.3 era capaz de chegar até os 175 km/h. De todo modo, a partir de 1973, o motor passou a ser o 1.6 (1.570 cm³) da linha, com 109 cv, o que elevou a velocidade máxima para 190 km/h.
Isto posto, o grande atrativo do carro era mesmo seu design belíssimo. A dianteira era baixa e relativamente longa, com faróis cobertos sob lentes transparentes, perfil fastback e uma traseira alta, ao estilo Kamm. O interior era aconchegante e bem acabado, com todos os comandos à mão e a alavanca de câmbio bem elevada no console central. Feito para ser um driver’s car, o Junior Zagato usava um arranjo de suspensão simples, MacPherson na frente e eixo rígido atrás, e não foi pensado para as pistas, mas para as ruas e estradinhas sinuosas da Itália.
Na visão de Murray, porém, o Junior Zagato é um Alfa Romeo cheio de potencial inexplorado. E foi para encontrar este potencial que ele contratou os britânicos da Alfaholics, que indiscutivelmente é uma das melhores para o serviço: seus restomods até já apareceram por aqui com seu Alfa Romeio Giulia GTAm 270-R – um projeto de restauração e modificação com motor 2.0 naturalmente aspirado de 225 cv e 835 kg na balança (ou seja, 270 kg/cv, explicando seu nome).
Sob o comando de seu fundador, Richard Banks, a Alfaholics começou restaurando e realizando manutenção nos carros. Quando seus filhos, Andrew e Richard, completaram idade suficiente para entrar no negócio, eles começaram a correr com o Giulia GTA. Com o passar dos anos e o sucesso nas pistas, veio a ideia de comercializar os componentes desenvolvidos para seus carros de corrida. Hoje em dia, esta é a principal atividade da Alfaholics.
Murray confiou na experiência dos caras para desenvolver um projeto que fosse tecnicamente superior ao original, com alguns toques de personalizações sutis, mantendo a essência clássica inalterada. O briefing era simples: “consertar tudo o que a Zagato não fez direito e tornar o carro adequado para uso diário”. Isto fica claro ao observar o carro, que manteve a maior parte das linhas originais, incluindo o belo conceito na dianteira e as proporções gerais. As mudanças são poucas e discretas: o para-choque traseiro integrado à carroceria e pintado na mesma cor, um belíssimo tom de verde sólido; e as maçanetas externas ocultas – algo que, em nossa opinião, é o único aspecto controverso do carro. Todo o restante é perfeito.
O motor foi substituído por um Twin Cam de 2,1 litros feito do zero, com comandos ocos (ou seja, mais leves), válvulas de competição com 8 mm de diâmetro e retentores de titânio, pistões e bielas forjados, duas velas por cilindro, volante aliviado e injetores de alta vazão.
A potência de 225 cv não é astronômica, mas pense que se trata de um motor naturalmente aspirado com mais que o dobro da força original. Ele foi ligado a um câmbio manual de relações mais curtas, feitas sob medida, e com alavanca de engate rápido.
E não é só isto: a suspensão também foi modificada e, agora, tem braços triangulares de titânio na dianteira e um sistema ajustável do tipo coilover na traseira – independente nas quatro rodas, como sempre deveria ter sido. As rodas, aliás, são de 15 polegadas e calçadas com pneus 195/60 – medidas conservadoras para manter a postura clássica.
O interior é interessante por si só: apesar do aspecto minimalista, o Junior Z de Gordon Murray foi equipado com ar-condicionado, bancos aquecidos com suporte lombar ajustável e vidros elétricos. Couro, Alcantara e lã foram usados nos revestimentos, e a traseira recebeu um suporte para bagagem acompanhado de duas malas feitas sob medida para uma viagem no fim de semana.
A Alfaholics divulgou ontem (11) as primeiras imagens do carro pronto, e prometeu mais algumas nos próximos dias – nós é que não aguentamos esperar. O que temos certeza: o Alfa Romeo vai ficar ótimo ao lado do Escort Mk1 que Murray encomendou a outra oficina britânica, a Retropower. Que, aliás, deve ficar pronto muito em breve.