Com 471 variações só de carroceria e motor no mercado brasileiro, não é de admirar a quantidade de segmentos de mercado que temos hoje disponíveis. E, dentro delas, há diversas formas de classificar os modelos. Nós inventamos uma nova, a relação que existe entre preço, peso e potência. E já estamos na quarta matéria da série, hoje sobre sedãs médios.
A primeira delas foi sobre os dez modelos com a melhor relação entre todos à venda no Brasil . A segunda, sobre hatchbacks médios . A terceira, sobre SUVs compactos.
Vale repassar o raciocínio por trás do levantamento — que durou uma semana inteira para ser tabulado e que nunca termina; sempre tem alguém que aumenta preços. No levantamento dos SUVs, foi o Jeep Renegade. Neste, o pessoal da Renault, que subiu o preço do Fluence, possivelmente animada com o terceiro lugar que ele atingiu no mês passado, atrás apenas dos líderes históricos, Corolla e Civic.
Voltando ao levantamento, ele chegou aos 471 modelos e versões que mencionamos no início. São os mais leves e mais baratos de cada carro à venda no Brasil, com cada um dos motores e das carrocerias que eles oferecem. Com os dados de peso, potência e preço de cada um.
Consultamos engenheiros, economistas e contadores atrás da melhor fórmula que juntasse preço, potência e peso e a que eles nos sugeriram foi potência/peso/preço, ou, mais tecnicamente, (potência/peso)/preço. Eis a calculadora que criamos para esta conta:
Imaginamos um carro de 200 cv, 1.500 kg e R$ 90.000. O resultado da divisão da potência pelo peso e disso pelo preço dá 14,81 x 10e-7, ou 0,000001481, mas preferimos a forma reduzida. Quanto maior é o número, melhor é o equilíbrio do carro entre os três fatores.
Experimente mudar a potência para 500 cv. Vai dar 37,04 (x 10e-7…). Ótimo! Experimente, agora, diminuir o peso para 900 kg. O resultado será 24,69, se os demais valores continuarem os iniciais. Por fim, diminua o preço para R$ 50.000. O índice pula para 26,67. Percebeu? Pode brincar à vontade com a calculadora acima. Inclusive para ver como se saem os carros que você andam considerando comprar.
O segmento dos sedãs médios é um dos mais desejados do Brasil. Em países de mercados mais maduros, e com consumidores com maior poder aquisitivo, são eles e os hatchbacks deste porte os modelos mais vendidos por uma razão simples: são os que melhor acomodam famílias. Modelos compactos são destinados a jovens ou casais sem filhos. Por aqui, devido ao custo e ao baixo poder de compra dos brasileiros, existe a inversão que conhecemos tão bem.
Assim como na reportagem anterior, vamos apresentar os resultados do 10º colocado para o 1º, como nos sugeriu o leitor Roberto Macedo. Cria um suspense legal para descobrir quem oferece mais por menos neste segmento. Pelo menos no que se refere a potência.
Por fim, fazemos a mesma ressalva presente desde o princípio: o que apresentamos não é nenhuma recomendação de compra ou coisa que o valha. São apenas os resultados matemáticos e democráticos a nosso questionamento inicial. Eles não levam em conta acabamento, comportamento dinâmico, sensação ao dirigir nem itens de série (ou a falta deles). Só a melhor relação entre peso, preço e potência.
E os vencedores entre os sedãs médios são…
10º – Renault Fluence Dynamique (15,63)
A renovação fez bem ao modelo. Tanto que ele foi o terceiro colocado em vendas no mês passado. Em boa medida pelo preço, que era de R$ 65.990, mas aumentou para R$ 66.850. Pouca coisa menos do que R$ 1.000, mas fez diferença. Antes do acréscimo, o Fluence era o oitavo colocado, à frente do Sentra e do Civic. Seu peso é um dos mais altos, mas os 143 cv de potência rendiam uma relação relativamente boa entre os dois. Se tivesse motor mais forte, pelo mesmo preço, teria se dado bem na lista.
9º – Honda Civic LXS MT 1.8 16V (15,70)
Quase cometemos uma injustiça com o Civic: pegamos seu peso bruto, não o em ordem de marcha, que é o padrão por aqui. Mas quem tem leitor que conhece não morre na praia. Com as devidas correções (valeu, rapaziada!), sua nota agora foi corrigida, levando-o ao correto nono lugar. Com apenas 1.240 kg, na versão manual, o carro tem motor de 140 cv, suficiente para uma boa relação peso/potência de 8,86 kg/cv. Mas o preço, de R$ 71.900, tira do sedã da Honda a chance de integrar posições melhores. E o preço tem explicação: a demanda monstruosa pelo HR-V, que anda tirando espaço de tudo que sai de Sumaré. A forma da Honda de conter a demanda é aumentar o preço. Se não funcionar, pelo menos ela ganha uns cobres a mais.
8º – Nissan Sentra S (15,71)
O Sentra, como já dissemos, levou a posição na última hora, com o aumento de preços da Renault. É menos potente e mais caro do que o Fluence mesmo depois da mudança de preço, mas é mais leve. Com isso, ele ostenta 9,2 kg/cv, contra 9,57 kg/cv do Fluence. Pena ser caro. Se custasse o mesmo que o modelo irmão, estaria certamente algumas posições mais adiante. Cuidado que o das fotos é o mais completo, o SL. O S tem rodas diferentes, mas não encontramos imagens dele para usar.
7º – JAC J5 (16,11)
Os 125 cv do motor 1.5 do J5 fazem estrago nos irmãos menores, mas, no J5, penalizam o sedã de 1.315 kg. Ele tem a maior relação peso/potência entre os dez primeiros colocados (10,52 kg/cv). O que o coloca em boa posição é o preço, de R$ 58.990, o segundo mais baixo dessa lista. Se dependesse só de preço, ele estariam muito mais bem posicionado, por mais que prometa um desempenho muito inferior em relação aos concorrentes tecnicamente diretos.
6º – VW Jetta Highline TSI (16,15)
Sonho de consumo de muita gente, o Jetta TSI tem a melhor relação peso/potência desta lista: só 6,52 kg/cv. Basicamente pelo motor de 211 cv, já que sua carroceria não é nada leve (1.376 kg), mas é o preço que evita que ele esteja entre os cinco mais. São R$ 94.930, mais barato apenas do que o Subaru Impreza entre os modelos não luxuosos. Se tivesse motor nacionalizado, talvez conseguisse custar menos, o que seria extremamente bem-vindo para dar um pouco de racionalidade aos preços do segmento.
5º – Ford Focus Fastback S (16,43)
Mais uma prova de que o modelo da Ford é injustiçado no segmento. Pelo estilo moderno, pelo conjunto mecânico, a suspensão traseira independente e “otras cositas más”, ele merecia estar em melhor posição no ranking de vendas. Como está neste, por exemplo.
Seu motor traz injeção direta de combustível, algo que só o Jetta oferece entre os dez primeiros. Mesmo sem turbo, ele rende 178 cv. O peso é alto (1.391 kg) e só é inferior ao do C4 Lounge, mas a potência compensa. Se seu preço fosse mais baixo (ele custa R$ 77.900), seria mais fácil vê-lo rodando por aí. E ainda com bom conteúdo, como no exemplo a seguir.
4º – Toyota Corolla GLi (16,48)
O bicho-papão do segmento não deu mole para ninguém com sua nova geração. E é verdade que o Altis passa dos R$ 100 mil (R$ 100.990, para sermos mais exatos), mas o carro também tem uma versão para quem quer pagar menos, a GLi. Em suma, o Corolla atua em diversos espectros. Vendida a R$ 69.690, ela é mais acessível do que a versão de entrada do Focus. A sacada da Toyota é oferecer câmbio manual (o Focus só vem com a transmissão PowerShift), ter baixo peso (1.255 kg) e uma potência bastante razoável para a cilindrada de seu motor (144,1 cv). Vende muito? Não. Dizem até que Corolla manual vira casamento, já que seria mais difícil de revender. Mas, se é pra casar, que seja com um carro que gaste pouco e seja minimamente bom de conviver.
3º – Hyundai Elantra GLS (17,52)
Como a Hyundai consegue extrair 178 cv de um motor sem injeção direta ou turbocompressor é algo que gostaríamos de ver mais de perto, mas, como trabalhamos com os números que a fábrica divulga, estes são os do Elantra. O sedã, apesar de ter o mesmo porte dos concorrentes, consegue a proeza de pesar apenas 1.194 kg, outra proeza que o coloca com uma relação kg/cv de apenas 6,71, muito próxima da que o Jetta TSI ostenta.
O que complica a vida do Elantra é o preço: R$ 85.095,74, mas ele está sendo vendido a preço promocional de R$ 79.990. Se este fosse seu preço permanente, ele teria 18,64 e ficaria na segunda colocação. Se tivesse produção nacionalizada, como o Tucson e o ix35, e um preço competitivo, é bem possível que ele repetisse o fenômeno do i30 de primeira geração. Só que não vai: o preço promocional é para limpar estoque, à espera do modelo novo, que deve ser revelado oficialmente em breve, ainda que sua imagem já tenha vazado em março, com a mesma grade presente no novo i30. Essa aí de cima.
2º – Mitsubishi Lancer MT (17,98)
Se você pensa que só o Lancer Evo oferece bom desempenho, não é o que dizem nossos números. Os 160 cv do motor 2.0, seus 1.290 kg e o preço de R$ 68.990 criam um caso interessante de preço, potência e peso. Um que certamente teria levado o título se não fosse o elemento chinês.
1º – Geely EC7 (22,62)
Modelos com entre-eixos entre 2,60 e 2,80 m são considerados médios. E o entre-eixos do EC7 é de 2,65 m, 5 cm a menos do que o Corolla novo, mas 5 cm a mais do que a antiga geração do médio. Mas, se levássemos em consideração o preço, o Geely competiria com os sedãs compactos.
Vendido a R$ 44.900, ele custa quase a mesma coisa que um VW Voyage 1.6. E vem com motor 1.8 de 130 cv e apenas 1.280 kg. Pela matemática, é o vencedor desta categoria. Por que não vende mais?
Primeiro, porque pouca gente ouve falar nele. Acertadamente, o grupo Gandini, que representa a marca no Brasil, não investe em marketing. Não só porque ele, como importado, sofreu com a alta do dólar, mas também porque a rede ainda é pequena (só 17 revendas). Até que ela ganhe volume (a JAC começou com 50 concessionárias), vale deixar que o boca a boca faça seu serviço. Preço, potencia e peso ele tem para vender bem mais.
Entre os modelos de luxo, o que oferece a melhor relação peso, preço e potência é o Audi A3 Sedan 1.4, por conta de seu preço, mas não só. Todas as versões do carro, inclusive a S3, ficam à frente do Mercedes-Benz CLA. Em boa medida por peso, mas com outro tanto a creditar ao preço mais salgado que a estrela de três pontas anda cobrando.
Para ver a posição de todos os sedãs médios do mercado, confira a tabela abaixo: