Às vezes a gente precisa enaltecer o que é bom. Quer dizer, o Fiat 126 não é bom do ponto de vista entusiasta. Quer dizer, depende do tipo de entusiasta. Ou melhor: a maioria dos entusiastas não vê muita razão para gostar do Fiat 126, mas eu sou do tipo que gosta. Muito. Para mim, hoje, neste momento (desde ontem à noite, aliás), o Fiat 126 é o carro mais legal que existe neste planeta. Amanhã eu posso pensar diferente, mas hoje eu quero um Fiat 126.
O Fiat 126 deve ter sido o carro mais fácil de projetar na história dos carros. Claro, a Fiat nunca disse isso e provavelmente não foi tão fácil assim (afinal, ainda estamos falando de um veículo feito para levar pessoas em relativa segurança de um lugar para outro), mas também não deve ter deixado os engenheiros noites sem dormir.
Era 1972, e a Fiat já vendia o Fiat 500 (o original) havia 15 anos, desde 1957, e ele era um sucesso absoluto. Pequeno, simpático, robusto e econômico – e com motor a ar na traseira – ele parecia ter sido feito sob medida para as vielas revestidas de paralelepípedos das antigas cidades italianas. Ao mesmo tempo, garantia a diversão de quem sabia que potência em um carro não é tudo: se ele pesar o mesmo que um maço de cigarros quase vazio (na verdade eram 499 kg), mesmo um dois-cilindros de 479 pol³ e 13 cv, dá para se divertir em uma estrada cheia de curvas. Porque dirigir um rápido em um carro lento costuma ser mais divertido que dirigir devagar em um carro rápido. Nunca escondi minha predileção por carros “normais” antes de superesportivos de altíssimo desempenho, afinal.
Enfim, divagações. O Fiat 500 já era um sucesso, e a Fiat precisava de um substituto que tivesse visual mais moderno para se adequar às novas tendências de design e preferências do público. Nos anos 70, a moda era ser quadrado (os carros, não as pessoas). E quadrado o 500 ficou: basicamente, a Fiat pegou o chassi do Fiat 500 e colocou sobre ele uma carroceria que trocava as simpáticas curvas por simpáticas linhas retas. Comparando os dois carros, pode reparar: todos os elementos da carroceria estão exatamente no mesmo lugar – faróis, lanternas, janelas, para-choques, entradas de ar para o motor, tudo. Só que, em vez de arredondados, ele são retilíneos.
Ambos compartilhavam o diminuto entre-eixos de 1,84 m, e o 126 também herdou toda a mecânica do 500, que àquela altura consistia em uma versão de 594 cm³ do dois-cilindros, capaz de entregar 23 cv; e um câmbio manual de quatro marchas. O carro ficou um pouco mais pesado, com 580 kg, mas ainda era peso-pena. Se movia devagar, mas com desenvoltura.
Sim, o 126 parece um Fiat 147 ainda menor. É intencional – o 147 é a versão brasileira do Fiat 127, que foi lançado na Itália em 1971 e emprestou sua identidade visual ao irmão menor, que chegou no ano seguinte. Foi por isso, aliás, que a minha namorada ficou apaixonada pelo Fiat 126 quando mostrei alguns destes vídeos a ela.
Você vai notar que a maioria deles foi feita em países do Leste Europeu, especialmente na Polônia. Há um bom motivo para isto. O Fiat 126 conviveu por mais três anos com o 500, que deixou de ser produzido só em 1975, pois a demanda ainda era alta. A Fiat deve ter entendido que o novo 126, apesar de seguir a mesma fórmula do 500 e de ser um carro mais seguro, não tinha o mesmo carisma. Assim, ele deixou de ser fabricado na Itália já em 1979, sete anos depois de lançado. Menos da metade do quanto durou o 500.
Só que “se tu não quer, tem quem queira”. E os poloneses quiseram. Em 1973, a Polski Fiat – a divisão da Fiat na Polônia, caso você não tenha sacado – começou a fabricar o 126 por lá. Com suspensão mais alta, piscas dianteiros com lentes laranja em vez de brancas e uma nova grade na traseira, o carro era praticamente idêntico ao original da Itália. Para diferenciar os dois modelos, o carro polonês foi batizado Polski Fiat 126p. E foi um sucesso gigantesco, produzido até o ano 2000 sem grandes modificações no projeto – apenas melhorias para adequá-lo aos novos tempos, como ignição eletrônica, faróis melhores, freios mais eficientes e bateria mais forte.
Fiat 126p em 1973, e depois em 2000. Se fosse ruim, teria mudado
O Fiat 126p custava pouco, e foi sem dúvida o carro mais vendido na Polônia ao longo dos anos 80. Ele foi para os poloneses o que o Fusca se tornou para os brasileiros: apesar de não ter sido criado lá, tornou-se um ícone cultural polonês. É difícil encontrar quem nunca tenha dirigido um, e eles até arrumaram um apelido carinhoso para o carrinho: Maluch, que significa “o pequenino” ou “criança pequena” em polonês. Em 1997, a Polski Fiat aceitou Maluch como o nome oficial do carro, mais ou menos como a Volks fez com o Fusca no Brasil.
No total, foram produzidas mais de 4.673.655 unidades do 126. Destas, 3.318.674 foram fabricadas na Polônia, e exportadas para outros países do Bloco do Leste Europeu. Eu ficaria feliz só com uma delas. E aposto que, depois de assistir a estes vídeos, alguns de vocês também. Bora?
Eu topei com este vídeo ontem à noite, e fiquei assistindo a outros vídeos do 126 por mais um tempo. Foi quando tive o estalo, e naquele momento o Fiat 126 se tornou meu carro favorito no mundo todo. Resolvi fazer este post por causa disso. Como é muito barato na Polônia, o 126p é usado para toda sorte de projetos insanos – e, no caso deste aqui, estamos diante de um 126p com para-lamas alargados ao extremo, suspensão pushrod e o quatro-cilindros da Honda CBR1100 na traseira. O vídeo traz a visão onboard e também o ponto de vista de uma câmera filmando o motor, que fica dentro do carro sem qualquer isolamento. Dá para vê-lo vibrando furiosamente ao girar a mais de 10.000 rpm, e também a suspensão trabalhando. Deve ser loucura pilotar um negócio desses.
Mas, sabem… este aqui me apetece mais: este 126p tem visual bem mais original, mas parece ainda mais insano. Você deve lembrar dele: trata-se do carro de Piotr Filapek, conhecido como “Malucha”, que tem um supercharger em seu motor de 0,7 litro. Como tem entre-eixos minúsculo e não pesa quase nada, o carro quase voa pelas curvas de terra, passa por cima dos canteiros, salta, rodopia e continua, sempre em ritmo alucinante. Olha só esse carinha! Ele resiste a tudo, e não tem medo de nada!
Já estes dois Fiat 126p, que eu vou apelidar aqui de “ketchup e mostarda”, mostram que mesmo 100% original (exceto pelos pneus de neve) o pequeno Maluch honra sua reputação. Você só precisa de quilômetros e quilômetros de estradas rurais estreitas, sinuosas e cobertas de neve.
Você já deve ter visto aquele vídeo do Fiat Uno que desbanca uma Volkswagen Amarok ao subir uma ladeira coberta de barro e lama, não? Pois esta é a versão polonesa, estrelando um Fiat 126P e um Jeep Grand Cherokee de primeira geração que mostra ao SUV quem é que manda (é força de expressão, OK?).
Agora, é claro que os italianos sabem aproveitar muito bem a base minimalista oferecida pelo Fiat 126. Este pertence ao piloto Salvatore Giunta, e é equipado com um motor Suzuki capaz de girar a 11.000 rpm, como seu ronco deixa bem claro. Giunta participa com ele de provas de Slalom com cones, que são bastante populares na Itália.
Sempre quis saber o que um abafador esportivo é capaz e fazer pelo dois-cilindros do Fiat 126? Agora você sabe.
Eu quero um.
E que tal outro vídeo de Piotr Filapek? Nunca é demais, de verdade. Dispensa comentários.
JEste Fiat 126 vermelho de arrancada pertence ao britânico Chris Skinner, fundador da preparadora Taz Racing, especialiada no Fiat 500. O carro usae um motor Chevrolet 383 (ao que tudo indica, um small block Chevy 350 com curso ampliado), montado à dianteira. Tem bielas e comando Crower, pistões Wiseco e carburador Holley 750, mais algumas modificações para entregar 500 cv. Dá mais de 20 vezes a potência original – é como um Fiat Uno de 1.200 cv.
Estes caras aqui fizeram uma paródia de “Velozes e Furiosos 7” usando o Fiat 126p, um Trabant e um Fiat 125p, versão rebatizada do Fiat 124/Lada Laika. Eles roubam as falas de Vin Diesel, Paul Walker, Ludacris e toda a galera para criar uma hitória bizarra na qual alguém tem seu trator roubado, e precisa da ajuda do trio em seus clássicos soviéticos. Só podia ter ficado… hilário.
É sério, eu não me canso de ver estes vídeos: outro Fiat 126 de Slalom, desta vez com motor Suzuki de 600 cm³, aparentemente (aceito correções).
Para encerrar, vejam só: isto é um encontro só de Fiat 126 realizado em um circuito na cidade de Lodz, na Polônia. Há projetos de carro de corrida, carros com stance e cambagem negativa, um pequeno circuito entre as árvores para quem quiser se aventurar a dar uma volta com seu 126. E há centenas deles, como mostra este vídeo da edição 2016. Quem está a fim de colar no próximo?