Dizer que algo cai do céu equivale a imaginar que se pode ter algo sem o menor esforço, apenas estendendo os braços. Para a Audi, cair do céu vai ganhar um novo significado assim que sua tecnologia para produzir diesel a partir de água e dióxido de carbono, o gás que agrava o efeito estufa, estiver disponível. E não deve demorar muito para o Blue Crude ganhar escala industrial.
Explicando melhor, a Audi, em parceria com a Sunfire, conseguiu criar um processo que gera o chamado Blue Crude, que poderia ser comparado ao petróleo comum. Refinada, essa substância ajuda a criar o que a marca das argolas chama de e-diesel, um combustível que pode ser misturado ao diesel comum ou queimado puro por motores atuais sem nenhum tipo de adaptação. Hoje, a empresa já conta com uma usina piloto que gerará em breve 160 litros por dia do diesel sintético em Dresden na Alemanha. Antes que a usina comece a operar, o e-diesel já vem sendo usado para mover o Audi A8 da Ministra da Educaçao e Pesquisa da Alemanha, Johanna Wanka.
O processo, explicado pela marca, dá a impressão de ser absurdamente simples. Com energia elétrica gerada a partir de fontes naturais, como eólica ou solar, a água passa por eletrólise reversa, separando o oxigênio e o hidrogênio presentes em sua composição. O oxigênio é liberado para a atmosfera e o hidrogênio é levado para outra estação.
Em outra parte da usina, dióxido de carbono captado da atmosfera é quebrado para formar monóxido de carbono. Esse monóxido de carbono é levado para a estação onde está o hidrogênio e submetido a altas temperaturas e pressões para formar hidrocarbonetos de cadeia longa. Em outras palavras, para gerar o Blue Crude. Depois de refinado, o Blue Crude dá origem ao e-diesel.
Resumindo, o que a nova técnica faz é converter energia elétrica, de fontes renováveis, em energia química, na forma de combustíveis conhecidos, que eliminam a necessidade de adaptações. Motores a combustão atuais podem fazer uso dele sem mudanças.
Além da vantagem de não ter fontes não renováveis, o e-diesel não tem material particulado, como enxofre, que é um dos grandes vilões da poluição atmosférica. Ele também seria bem mais eficiente na queima do que o diesel comum, segundo a Sunfire. A eficiência de sua queima beira os 70%, segundo estudo da empresa.
A produção de 160 litros por dia é apenas experimental. Quando houver demanda para uma produção maior, Audi e Sunfire construirão uma fábrica maior, suficiente para vender o e-diesel entre 1 euro e 1,50 euro por litro. A média de preço do diesel na Europa, com o barril de petróleo em valores historicamente baixos, é de 1,50 euro o litro. Em outras palavras, não vai faltar competitividade ao novo combustível.