E aí, galera do FlatOut! Aqui vou contar a história de amor entre eu e um hatchzinho francês temperamental. Como toda história intensa, existem as partes boas e as partes ruins – e vocês irão conhecer os dois lados da moeda (bem, sorte que as partes ruins foram poucas). Meu nome é Breno Bassani, tenho 31 anos, sou analista de sistemas por profissão, ocasionalmente mecânico por opção, e atualmente moro em uma cidade da Grande SP.
Minha história com os franceses começou quando tinha 14 anos: mudança de colégio, mudança de bairro, enfim… cortando várias partes sem graxa, chegamos na parte onde fiz amizade com um carinha da minha classe e seu irmão mais velho – que, apesar de não gostar tanto de carro quanto o mais novo, me influenciou muito no amor pelos franceses. O pai deles comprava carros em leilão, arrumava e vendia. Em um belo dia, soube que comprou um Citroën que “a suspensão subia e descia sozinha”. Passado alguns dias fui ver o tal carro, mais de curiosidade.
Lembro até hoje: era um Xantia VSX 2.0 16v, azul, interior de couro preto, acabamento em madeira. O carro era lindo, mas precisava de cuidados: tinha dado uma encostada em alguém, precisaria de reparos no capô, novos faróis, grade, para-lama, etc. Passadas algumas semanas o carro estava pronto. Fomos dar uma volta – e foi essa volta que mudou minha vida. Foi quando descobri que os carros franceses como esse, além de acelerarem bem, faziam curvas muito bem.
Após algum tempo, o irmão mais velho desse meu amigo me chama e fala que ganhou uma fita VHS de um amigo do pai deles e me chamou para ver. O começo era meio chato, mas logo se tornava hipnótico: poeira, árvores, um corte de cena, um carro passa por cima da câmera, câmera on board… nada mais nada menos que o vídeo mais famoso de rally já feito: “Climb Dance” (este aí embaixo). Junto com a fita vieram alguns episódios do Top Gear, numa época em que o Stig, James May e Richard Hammond sequer sonhavam em participar. O programa era apresentado pelo Tiff Needel, Jeremy Clarkson e Vicki Butler-Henderson. Meu amor por carros europeus e rally nascia ali.
Mas onde o 106 entra nesta história?! Depois de ter como primeiros carros um Escort Zetec e uma Corsa Wagon 1.6 16v Turbo, resolvi ter um carro mais forte. Vários modelos passaram pela minha cabeça, mas acabei caindo em nada menos que um Citroën Xsara VTS 2.0 16v. Nessa época já era fanático por WRC – porque então não partir pro então carro campeão, não é mesmo?
Muitas “índias e vindas”, upgrades aqui e ali, quebras, track days, arrancadas, dyno days, decidi: o VTS iria ser turbo. Turbina escolhida, o que fazer, onde fazer, como fazer, tudo escolhido. Meta: 350cv. Daí surgiu um kit nitro no caminho com 4 foggers – na hora lembrei de um VTS branco que usava essa receita e era o terror lá no Sul. Então, que venha o gás do riso: kit nitro comprado, o carro já tinha um chão fenomenal, coilovers D2, rodas OZ Superleggera, discos de freio de 300 mm e pinças de 3000GT… só faltava em empurrão extra nas retas mesmo.
Com tudo isso no Xsara, pensei: vou precisar de um carro para o dia a dia. Mas o que comprar? Comprar um automóvel pelado pra uso diário não seria uma das coisas mais fáceis (racionalmente falando), ainda mais com orçamento limitado e com a ideia de não querer mexer em uma virgula do carro. Então vamos comprar um carro pelo menos bonitinho e que andasse bem originalmente. Como tinha a paixão pelos franceses, rali, etc, pensei em partir para um AX GTI: uniria o útil ao agradável, pequeno e discreto, não chamaria a atenção, espertinho, fazia muita curva. Contudo, passado algum tempo, nem havia nem sombra de achar algo que eu não tivesse de gastar outro carro para deixá-lo andável – nem confiável, andável mesmo.
Fiquei sabendo de histórias sobre a existência de alguns exemplares de Saxo VTS/VTR no Brasil, mas sem chance de encontrá-los também. Bem, então o que é que chega mais perto de um Saxo? Um Peugeot 106 GTI, mas no Brasil? Sem noticias de nenhum no radar, vamos então para o 106 normal. Mas, peraí: um simples 106 não é nem um pouco rápido e muito menos bonito. No meio desses pensamentos todos, lembrei que o mecânico que ia montar o nitro no VTS tinha um 106 – só que não era um 106 normal, ele era bem diferente do normal.
Tratava-se de um 106 Quiksilver. Na real, era um 106 normal: nenhum item de conforto além de vidros elétricos. Segurança? Bom, tinha um teto e portas, melhor que uma moto, acho. Mas ele tinha para-choques, saias, polainas, aerofólio, esteticamente era um GTI! Além disso, tinha rodas de liga aro 15 e era algo em torno de 5 cm mais baixo, ficou bem legal.
E então, após seis meses de procura, achei no Webmotors dois exemplares 2001, na cor prata (como todos os Quiksilver). Um era supostamente de segundo dono, não informava a km (depois descobri que tinha 123 mil km), o anúncio dizia que era de fino trato. Tinha sido anunciado um dia antes, em uma sexta-feira. Quando liguei lá, me falaram que ele era rebaixado, rodinhas aro 15 do 206 cc, e foi aquele papo de sempre de vendedor, só rasgação de seda. Marquei de ver o carro no sábado. O outro também era de loja, mas estava em Campinas. Pra variar, toda aquela conversa de vendedor, “vem cá pra Campinas que você não vai perder viagem”, etc.
Bem. Um amigo meu estava de bobeira no sábado e resolveu ir comigo ver os dois carros. Saímos cedo e fomos ver o mais perto primeiro. O que me chamou a atenção é que ele estava baixo demais. Olhei, olhei, andei… o carro estava bem espertinho por estar com 3 pessoas dentro. Bateu uma coisa diferente pelo carrinho, uma ligação.
Daí, pé na estrada para Campinas. Pra encurtar a história, o carro era um lixo, o oposto do que o vendedor dizia. Na volta para São Paulo, resolvi dar uma puxada com o VTS – antes não tivesse feito. Quarta marcha no corte, chute na embreagem, engato a marcha seguinte e BUMMMMMM! Não tem desculpa, eu errei a marcha: em vez de entrar a quinta, entrou a terceira. Na hora que soltei o pé da embreagem percebi a cagada e tentei desacoplar o motor da transmissão pisando de volta, mas o estrago já estava feito e eu sabia que não era pouca coisa. Ao mesmo tempo sabia que ia precisar de um carro “novo”. Pensei muito enquanto o guincho não vinha , e decidi: o escolhido ia ser mesmo o primeiro que tinha visto.
No domingo a loja não abria, então aquele foi um dia bem longo. Já na manhã de segunda liguei para o vendedor, dizendo que passaria lá à tarde para fechar negócio – e que faria o depósito do sinal já de manhã. “Misteriosamente”, o módulo de som e o subwoofer que estavam no Peugeot quando o vi pela primeira vez desapareceram, mas enfim: o que importa é que três dias depois estava com o 106 comigo.
Depois que postei a foto do Quiksilver em um fórum, muito me disseram que ele mereceria um swap de motor para o 1.6 16V, algo inédito até então. Minha intenção nunca foi fazer isso: eu o queria para ser meu carro de dia a dia – o brinquedo era o VTS! Mas meu mecânico, que é ninguém menos que o Mark Kuhn da MK Serviços Automotivos (o mesmo que tem o 205 com swap para 2.0 16v e o 106 com motor central-traseiro de Hayabusa), me fala que tem um motor de AX GTI dando sopa na oficina e que iria vendê-lo. Foi ai que o destino do carro mudou totalmente.
Decidi que o Quiksilver iria ser meu brinquedinho, o meu carro de track day. O fato de conhecer o fórum inglês 106 Owners Club só jogou mais gasolina da fogueira: lá é a confraria dos donos de 106 e tem tudo – manutenção básica, swaps simples e, claro, os monstros, como um vermelho que tem 400 cv e pesa 800 poucos kg. Fora os swaps totalmente insanos, como o que tem o powertrain de um Escort Cosworth! Abaixo temos uma pequena amostra das coisas que rolam por lá – este carro em específico é uma das minhas inspirações.
Fiz toda a receita do 106 Quiksilver – e tudo começava pelo 1.4 do AX. Depois disso, sabia que precisaria melhorar o chão do carro, freios, suspensão, etc, mas nunca pensei que seria tanto. Foram muitas mudanças, muitas evoluções, muito tempo, e claro, muita grana. Como você pode ver na imagem de destaque, já rolou outro swap. Já pensei em turbiná-lo, em desistir, em vender, já quis metê-lo debaixo de um caminhão, tacar fogo… mas sempre desisto. E acabo fazendo algo mais para deixá-lo do jeito que eu sempre quis.
Acham que acabou? Que nada. Há alguns meses comprei outro carro para ser o projeto de track day: um Subaru WRX, que tem mais potencial no cronômetro e ainda traz alguns itens de conforto, como o ar condicionado e a direção hidráulica. “E o 106 Quiksilver?”, você pergunta. Voltou a ser um carro de rua – o legítimo pega-trouxa. No próximo post vou detalhar todas as modificações que eu já fiz e as que eu estou planejando!
Por Breno Bassani, Project Cars #66