Quando você acha que já falou tudo o que há para falar sobre determinado assunto, pode ter certeza de que não, você não falou. Quando fomos ao Nürburgring , por exemplo: destrinchamos o traçado, demos um passeio pelos arredores para te ajudar a não se perder pelo vilarejo de Nürburg e até visitamos o Sudschleife, irmão esquecido do Nordschleife. Dificilmente você vai achar um guia de viagem tão completo quanto o nosso.
Mas você sabia que, de vez em quando, uma galera se reúne para disputar um rali no Nürburgring ao contrário? Pois é, a gente ainda não tinha falado disso. Até agora!
Não, não se trata de um rali onde aquele que tiver o pior desempenho vence, e sim do Rallye Köln-Ahrweiler, que acontece todos os anos na Alemanha. A prova é organizada pelo ADAC (Allgemeiner Deutscher Automobil-Club e.V., ou “Clube Geral do Automóvel Alemão”), um dos maiores clubes do automóvel da Alemanha — que, além de organizar provas de automobilismo, também ajuda a definir leis de trânsito e o desenho de ruas e rodovias. Ou seja: o negócio é sério.
Como o próprio nome diz, o Rallye Köln-Ahrweiler é disputado em diversos estágios entre a cidade de Köln e o distrito de Ahrweiler, no oeste da Alemanha. A prova é disputada desde 1971, e desde sempre, carros novos não são prioridade — até hoje, são aceitos apenas carros fabricados entre as décadas de 1960 e 1990.
É óbvio que um rali disputado por carros de competição antigos, por si só, já nos deixa salivando de satisfação. Quem não gosta, não é? No entanto, de tempos em tempos, um estágio especial torna tudo ainda mais interessante. Você já deve ter sacado: estamos falando justamente do estágio de Nürburgring, que não acontece todos os anos. Quando acontece, é sempre em meados de novembro — em 2015, foi no último sábado (14). E, para nossa sorte, o estágio especial do ‘Ring foi incluído no programa. Saca só o vídeo abaixo, composto de vários trechos do evento.
É bem bizarro ver os carros acelerando no sentido oposto ao que estamos acostumados, especialmente em trechos famosos, como o Karussell. Como o Nürburgring está quase sempre lotado, fica a sensação de que a qualquer momento um dos competidores vai dar de cara com um carro vindo na direção certa e causar uma tragédia.
Mas isto não acontece. O que é ótimo, porque a seleção de carros que disputam o Rallye Köln-Ahrweiler é das melhores — especialmente se você é do tipo que curte clássicos europeus: dividindo os pouco mais de 20 km e 73 curvas do Gnirgrubrün Efielhcsdron, vemos de Golf Mk1 a Audi Quattro, passando por modelos antigos da BMW preparados para rali, um punhado de Ford clássicos (Escort, Capri e Sierra), Porsche 911, Renault 5 Turbo e vários outros ícones. Alguns deles foram preparados para rali, enquanto outros são legítimos carros de competição que, em tese, estão “aposentados”.
Se o Nürburgring Nordschleife na direção normal já é um dos circuitos mais desafiadores do planeta, imagine ao contrário! Aliás, nem é tão difícil assim imaginar, pois todo mundo aqui provavelmente tem ao menos certa noção do traçado — se você não teve a sorte de ir até lá e acelerar no solo sagrado do Inferno Verde, provavelmente já passou várias horas dando voltas em uma versão virtual do circuito.
Falando em “versão virtual”, imaginamos que seja justamente com games e simuladores que os pilotos treinem para o estágio especial do Rallye Köln-Ahrweiler no Nürburgring. Ou você acha que, durante os dias em que a pista está aberta para visitantes, é só fazer uma manobra e ir na contramão? Além de ser uma ideia incrivelmente estúpida, isto é proibido pelas regras. Proibido mesmo — e não “proibido”, como são os vídeos onboard. Todo mundo grava vídeos onboard no Nürburgring.
Falando em onboard, este vídeo foi gravado durante a edição passada do Rallye Köln-Ahrweiler e divulgado na página do Nürburgring no Facebook. O piloto Patrick Simon e seu navegador, Olli Martini, demonstram como as coisas ficam confusas quando se dá volta no Inferno Verde em sentido anti-horário.
O desafio não é apenas contornar as curvas no sentido oposto ao que se está habituado, mas também enfrentar o relevo às avessas — aclives se tornam declives, as irregulariades no asfalto estão todas redistribuídas e, para garantir a segurança dos competidores, chicanes são instaladas nos trechos que acabam ficando velozes demais — como a longa subida entre o Flugplatz e a curva Adenauer, que se transforma em uma descida.
É uma sensação diferente a de ver um traçado tão conhecido sendo percorrido no sentido oposto — ao mesmo tempo em que é fascinante, ficamos meio incomodados… e dá vontade de ver de novo. Por isto, vamos encerrar com alguns outros vídeos do Rallye Köln-Ahrweiler, para você se torturar mais um pouquinho.