Se você é fã dos carros esportivos japoneses, são grandes as chances de você já ter sonhado com um jogo dessas belezinhas: as RAYS Volk TE37. Talvez você até tenha colocado elas no seu carro. Seu desenho limpo, sem invencionices, com seis raios e uma borda bem marcada, é neutro a ponto de ficar bem em praticamente todo carro mas, ao mesmo tempo, tem personalidade o bastante para ser instantaneamente identificado e reconhecido.
As Volk TE37 caem como uma luva em um esportivo japonês moderno, mas também combinam perfeitamente com um clássico dos anos 80 – especialmente se for um projeto com pegada de pista. Na real, o carro nem precisa ser japonês para ficar bonito calçando um jogo de TE37.
Mas o visual emblemático da Volk TE37 passa longe de ser a única razão para que ela seja tão popular e desejada no mundo todo – ela é bonita, sim, mas se não tivesse “algo mais”seria só mais uma roda bonita entre as dezenas (centenas?) de opções que o aftermarket oferece, ainda mais considerando que existem rodas desenhadas nos anos 50 e 60 que ainda são muito populares hoje em dia.
E o que seria esse “algo mais”? Resumidamente, a Volks TE37 foi a primeira roda a proporcionar aos entusiastas a chance de usar uma roda forjada com tecnologia de pista em seus carros de rua. Uma roda leve, resistente e rígida e, ainda por cima, bem estilosa. Mas vamos desenvolver esta história um pouco mais, ok?
A RAYS Engineering foi fundada no Japão em 1973 e logo especializou-se em fabricar rodas para carros de competição sob a marca Volk Racing. Por isso é comum que se pense que “Volk Racing” é a companhia que fabrica as rodas RAYS, quando na verdade é o contrário.
Naquela época a RAYS empregava o método de fabricação de rodas em três partes – miolo, aro e tala – inaugurado pela alemã BBS – o que resultava em rodas visualmente semelhantes às encontradas na Europa. Alguns modelos traziam a instrição “Volk Three Piece Wheel” nas calotinhas.
Nas décadas de 70 e 80, inúmeros carros de competição, tanto de turismo quanto protótipos, usaram rodas Volk Racing em corridas da elite do automobilismo. Um exemplo é o Dome Toyota Celica Turbo abaixo, que competia na IMSA, nos Estados Unidos, em 1981 e usava rodas Volk.
A Volk Racing oferecia uma linha completa de rodas de competição e também para as ruas, e houve alguns modelos icônicos anos antes da TE37 – como a combinação das rodas Volk Mesh com calotas Turbo Fan, especialmente desenvolvidas pra canalizar ar frio para sobre os freios e assim, resfriá-los.
Difícil encontrar quem não ache ao menos intrigante o visual conferido pelos acessórios, empregados principalmente em protótipos-esporte como o Mazda 767B – o antecessor do Mazda 787B que venceu as 24 Horas de Le Mans em 1991, e também equipado com um motor rotativo Wankel de quatro rotores que, com apenas 2,6 de deslocamento, entregava mais de 600 cv.
Foi em 1996 que a RAYS Engineering colocou no mercado a Volk Racing TE37. Àquela altura as rodas de três peças, embora ainda fossem bastante utilizadas tanto por carros de competição e projetos street, já não eram a última palavra havia alguns anos. A RAYS foi uma das primeiras fabricantes japonesas a investir principalmente na manufatura de rodas forjadas, dando especial atenção aos materiais utilizados e ao método de forja. E, com a Volk TE37, esta tecnologia invadiu as ruas.
O “TE” da TE37 quer dizer Touring Evolution, significando que as rodas proporcionariam aos entusiastas comuns toda a engenharia e cuidado na fabricação, na escolha dos materiais, nos testes de durabilidade e demais características que antes só eram acessíveis às equipes de corrida. Já o “37” era uma representação do peso da TE37 em sua menor medida disponível, 15×6 polegadas: 3,7 kg. Cara, tem noção do que é isto? É menos que duas garrafas de dois litros de Coca-Cola.
Era uma fórmula simples e eficiente, tanto que a TE37 logo foi adotada em massa por equipes de corrida em categorias importantes no Japão, como os campeonatos de turismo JGTC e JTCC e Super GT, imediatamente caindo no gosto dos gearheads – afinal, quem não gostaria de ter em seu project car as mesmas rodas usadas por seus ídolos nas pistas?
A RAYS sempre enfatizou a influência de rodas leves no desempenho de um carro no circuito. Segundo eles, reduzir a massa não-suspensa em apenas 1 kg pode ser ter tanto impacto positivo na performance quanto eliminar 15 kg da massa total do carro.
Além do baixo peso, outras duas características presentes nas TE37 são fundamentais: rigidez e resistência. Não, não é a mesma coisa: uma roda com maior rigidez transmite mais força para o pneu e para o asfalto; já uma roda mais resistente quebra com menos facilidade. Há uma relação íntima entre as duas características – e em fabricantes high-end como a RAYS, as propriedades da roda são testadas à exaustão, com critérios que dependem da finalidade daquele modelo.
Talvez outro fator que contribua para o status de referência das Volk TE37 seja a tradição. Desde o início de suas atividades a RAYS jamais investiu na construção de outras fábricas fora do Japão em busca de mão de obra barata, prática comum na indústria que barateia o custo de produção – conforme explicamos neste post, onde abordamos a questão das rodas falsificadas, e pode ser que isto influencie na percepção de qualidade que os entusiastas têm. E de fato a Volk investe pesado na infraestrutura de suas fábricas no Japão, sendo por exemplo a única fabricante de rodas forjadas com uma máquina capaz de exercer 10.000 toneladas de pressão sobre uma peça de alumínio. A máquina se chama RM8000, e é uma prensa de conformação rotativa – a maior e mais potente do mundo –, responsável pela manufatura do aro da roda. Os raios usam menos pressão, mas ainda assim o processo é suficiente para tornar a TE37, especialmente na versão SL, uma das melhores na relação entre baixo peso e alta resistência.
O processo de forja utilizado pela visa obter o máximo de rigidez, resistência e leveza de uma roda. Por si a forja é o método que melhor mantém a dureza do metal na hora de dar forma a ele por submetê-lo à pressão em temperaturas altíssimas e, desta forma, comprimindo o material enquanto o mesmo é moldado, resultando em uma estrutura mais compacta e densa – o que não é o caso com uma roda fundida. E a RAYS também orgulha-se de não realizar nenhum corte no billet de alumínio que é transformado em uma Volk TE37. Com isto, a resistência de uma delas pode ser até três vezes maior do que de uma roda fundida.
Por essa razão as réplicas de TE37 costumam ser as mais pesadas que a média das rodas de liga leve, chegando a 15 kg por roda dependendo do diâmetro, justamente porque o desenho original da Volk Racing leva muito em conta o material usado e o processo a qual ele é submetido. As réplicas precisam ser superdimensionadas e, como não utilizam o mesmo método de produção para reduzir custos, acabam ganhando muito peso.
Mesmo o número de raios não foi uma escolha aleatória, ou puramente estética: é que desta forma, é mais eficiente a dispersão de energia ao longo de toda a circunferência interna e externa da roda sob stress, o que permite que ela lide melhor com todos os impactos que sofre uma roda de corrida.
Ao longo de vinte anos foram lançadas diferentes variações da Volk TE37, como a TE37V, com face côncava (deep dish) e borda polida; TE37SL, de Super Lap, com a marca vermelha em um dos raios que é 400g mais leve que uma TE37 comum de 18×10,5 polegadas graças ao uso de menos metal na parte de trás dos raios e do centro; e TE37RT, de Rigid Tune, que de acordo com a RAYS é 6% mais rígida sem comprometer a leveza da roda. Ela é oferecida apenas na cor vermelho Burning Red.
Todas elas primam pelo baixo peso. Uma TE37 “standard” de 15×8 polegadas pesa 5,5 kg. Se forem 16×7 polegadas, são impressionantes 5,2 kg. A versão de 17×9,5 polegadas pesa 7,9 kg. Com 18×10,5 polegadas são 8,7 kg, e uma TE37 de 19×8,5 polegadas pesa 9,1 kg. Já houve uma versão de 13×8 polegadas que pesava parcos 3,6 kg!
É óbvio que não há planos para descontinuar a Volk TE37 – seria loucura, na verdade, e a RAYS Engineering certamente ainda irá lançar novas versões nos próximos anos.