Tudo certo, pessoal? Meu nome é Dirceu e venho dividir com vocês a experiência de recuperar e presentear meu pai com o próprio carro dele, um Ford Taurus LX 1995 de segunda geração que está na família há quase 15 anos.
Minha paixão por carros começou ainda guri, quando brincava na garagem do vô. Lembro de ver as calotas brilhantes da Variant 74 dele, pegar um pano e polir até ficar como um espelho. Uns anos mais tarde eu me dei conta que tinha um carro em cima, que restaurei logo depois que o vô faleceu – ainda nos meus 14 anos. Aquele carro veio a ser meu meio de transporte, culminando em um prêmio no encontro de Fuscas de Caxias do Sul/RS. Pode ter sido ele também a minha inspiração para cursar engenharia na UFRGS.
Agora voltando ao Taurus. Ele foi comprado pelo meu pai em 2002 com 44 mil km apenas, e durante muito tempo teve como despesas só a gasolina, IPVA e a troca de óleo. Apesar de um carro de 1995, a baixa quilometragem ajudou a manter as despesas baixas. Os 7 km/l na cidade nunca empolgaram o uso diário e ele foi relegado aos finais de semana.
Pra quem não conhece o Taurus – ou não viu a matéria do Flatout sobre o irmão malvado dele, Taurus SHO – esse foi um dos primeiros importados a entrar no nosso país ainda na infância do Plano Real. A versão LX tem um motor 3.0 12v que difere muito da imagem que temos dos carros americanos. São parcos 140 HP, que num carro de 1,5 tonelada não empolgam a direção esportiva mas fazem um rodar silencioso e suave com muito torque em baixa rotação. 1,4 milhão de Taurus da 2ª Geração foram vendidos pela Ford, um sucesso de vendas da época.
Sucesso com a mulherada também
Só no ano passado resolvi dar um trato na banheira: consertar um “presente” que o meu eu de 17 anos deu pro meu pai no para-choque dianteiro, consertar alguns vazamentos de óleo, e dar um tapa no interior. Esta última se provou a etapa mais demorada.
Como sabemos, os carros da década de 1990 tendiam a abusar no plástico. Aparentemente, na época eles não conheciam a espuma antirruído que vem enrolada em todos os chicotes dos veículos mais modernos. Isso, somado a uma desinstalação e remontagem do painel mal feita por uma oficina, durante a troca do radiador de calor do ar quente fizeram do carro um verdadeiro chocalho sobre rodas.
Os anos 1990 também foram o primórdio do Design Assistido por Computador (CAD), quando foi usado basicamente para compactar o maior número de peças dentro do “sedã de tamanho médio”- como ele é categorizado nos EUA. Isso significa muitos dedos esfolados hoje até nas tarefas mais simples. Com muita tentativa e erro, e uma grande ajuda dos amigos do Clube do Taurus, consegui remover todo o painel. Troquei as lâmpadas, forrei todos os chicotes e peças móveis e recoloquei no lugar. Pra minha surpresa, isso reduziu em 80% o barulho no interior. Acho que o esforço para tirar os outros 20% não compensaria, já que eu precisaria soltar o painel do chassi para acessar a caixa do ar, mas agora já estou repensando essa lógica.
Imagine-se projetando um carro em 1990
Algumas surpresas boas também vieram do interior, como um conserto de R$ 10 nas guias da alavanca de câmbio, tirando a folga e deixando a sensação de carro novo. Um reaperto nos parafusos da coluna de direção que também tirou completamente a folga de 5 graus que fazia a direção parecer desconectada. Uma boa desmontada e lubrificação das canaletas das máquinas dos bancos fizeram eles correrem livres e o mesmo procedimento salvou uma das máquinas dos vidros de ver o ferro velho.
Durante muito tempo eu e meu pai pensamos que em função da raridade do carro aqui no Brasil seria difícil lidar com ele na oficina. Isso é verdade em partes. Muitos componentes são os mesmos de carros nacionais da Ford, ao ponto de um membro do clube ter feito uma planilha relacionando as peças originais com as similares dos modelos brasileiros. Já algumas peças de acabamento são bem específicas do Taurus, e ainda assim são abundantes no Ebay americano. Por R$50 consegui o pisca dianteiro novo na Amazon, trazido de lá pela namorada de um amigo. Os 4,87m de comprimento e os para-choques enormes também me obrigaram a instalar um sensor de estacionamento de 8 vias powered by china para cobrir tanto a frente como a traseira.
Vale lembrar que a empreitada nesses carros é uma brincadeira que pode ser cara caso seja decretado o falecimento do câmbio. Pra não chegar a esse extremo, fiz a troca do fluido, filtro e retentor com antecedência, mesmo que não houvesse sinal de uso no fluido antigo. Um checklist criterioso pode ser visto no clube e é obrigatório se você está pensando em comprar um Taurus.
Aliás, se você realmente está pensando em voltar aos anos 1990, não pode esquecer da nostalgia de um dos figurantes de Barrados no Baile incessantemente falando sobre cada uma das inovações que o carro introduziu.
Claro que a ressurreição do Taurus não veio sozinha. No final do ano passado quando subia a serra a bomba de gasolina começou a se recusar a trabalhar. A oficina que trocou a bomba resolveu remover o interior de um dos catalisadores por conta própria alegando entupimento e só avisou quando foi entregar o carro. Agora, além do ronco de D20, a sonda não está lendo a composição dos gases de escape de três dos seis cilindros, o que deixou o carro ainda mais gastão e fraco.
Esse catalisador está sendo a maior dor de cabeça até o momento, ao ponto de eu pensar em importar a peça. A remoção completa dos catalisadores é uma causa comum de problemas no câmbio, como reportado em fóruns gringos, e sabendo que a ECU original não tem leitura por OBDII, é bem difícil de saber a leitura correta da sonda lambda.
Uma vez corrigido o problema do escapamento, o próximo passo é tirar até o último grilo do painel. Afinal, meus dedos já estão a muito tempo sem se esfolar! Essa é a história que veremos no segundo post. Até lá, pessoal!
Por Dirceu Corsetti, Project Cars #180