Se ter um supercarro ou exótico raríssimo não é o suficiente para você, a solução é simples: construa o seu próprio carro ou, se puder, peça que façam um para você — um carro único, do qual não exista nenhum outro no planeta. Um one-off. Perguntamos aos leitores quais eram os one-offs mais incríveis já feitos, e agora temos a lista com as respostas.
Nossa sugestão foi a belíssima Ferrari P4/5 by Pininfarina do diretor de cinema, colecionador e piloto milionário Jim Glickenhaus, feita com exclusividade sobre a última Ferrari Enzo disponível para compra. Dos leitores, foram quase 600 sugestões, e nós selecionamos as melhores respeitando dois critérios simples: conceitos de fabricantes ficaram de fora, e o carro precisa ser legalizado para as ruas — ao menos em teoria. Confira a lista abaixo:
Blastolene Special
Jay Leno é o cara que se aplica perfeitamente ao exemplo: o apresentador americano é conhecido por seu enorme queixo sua coleção de centenas de supercarros e modelos exóticos, vários deles raridades de valor quase incalculável. Um de seus carros mais impressionantes é o Blastolene Special.
O Blastolene Special foi construído pelo escultor Randy Grubb, que usou como inspiração os antigos carros feitos para quebrar recordes de velocidade no início do século 20. O motor escolhido foi o V12 de um tanque Patton M47 — uma verdadeira monstruosidade de 29,36 litros que entregava, originalmente 810 cv.
Ao comprar o Blastolene Special, Jay Leno tratou de mandar instalar dois turbocompressores — elevando a potência para mais de 1.600 cv e o torque, para mais de 418 mkgf. E uma curiosidade: o carro só entrou no game porque os produtores da série Gran Turismo foram até a garagem de Jay Leno capturar o ronco de alguns dos carros. Eles viram o Blastolene Special e o acharam tão fodástico que decidiram incluí-lo no jogo — onde foi batizado como “Tank Car”. Faz sentido, não?
New Stratos
Se há uma frustração unânime entre os entusiastas, esta é a promessa não cumprida de um novo Lancia Stratos — o lendário italiano que dominou o Mundial de Rali no início dos anos 70 (leia mais aqui). Tudo começou em 2005, quando um estúdio de design britânico chamado Fenomenon apresentou uma releitura moderna do Stratos no Salão de Genebra.
Com um V8 de 425 cv, carroceria e estrutura de fibra de carbono e um visual que acertava na mosca, o Fenomenon Stratos era a receita perfeita para um sonho não realizado — ainda mais quando, depois de Genebra, apareceu no Salão de Frankfurt trajando as clássicas cores da Alitalia.
Parecia que tudo não iria passar de um conceito. Contudo, o piloto de rali e empresário alemão Michael Stoschek gostou tanto da ideia que, em 2010, anunciou que encomendaria uma versão moderna do Lancia Stratos inspirada pelo Fenomenon. O trabalho de design e desenvolvimento ficou com a Pininfarina e, natualmente, o carro escolhido como base para o projeto foi uma Ferrari — mais especificamente, uma F430 Scuderia.
O caro herdou o V8 de 4,3 litros da Ferrari, preparado para render 540 cv a 8.200 rpm em vez dos 510 cv originais — força suficiente para chegar aos 100 km/h em 3,3 segundos com máxima de 320 km/h. A estrutura de alumínio permaneceu a mesma, porém teve o entre-eixos encurtado em 20 cm e recebeu uma nova carroceria de fibra de carbono. Até o interior foi todo refeito, com design exclusivo no painel e até porta-capacetes nas portas.
A reação ao carro foi tão boa que Stoscheck chegou a considerar a produção de uma série limitada a 25 unidades. A Ferrari, porém, não gostou nada da ideia e vetou a realização do projeto — proibindo até mesmo que seus fornecedores colaborassem. Assim, o sonho morreu.
Porsche 935 Straβenversion
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, já diria o Tio Ben, mas também trazem grandes privilégios — como a possibilidade de ligar para a Porsche e encomendar, direto com os caras grandões, um carro de corrida para as ruas só porque você pode pagar. Foi isto que o milionário saudita Mansour Ojjeh que, sendo sócio majoritário da holding TAG (que detém 21% das ações do McLaren Group) é dono de 1/5 da McLaren. Ouçam, fabricantes: quando um cara desses te liga pedindo um carro exclusivo com um cheque em branco nas mãos, você diz “sim”.
Foi o que a Porsche fez quando recebeu o pedido de 17 páginas de Mansour, explicando com era o carro que ele queria: um Porsche 935, o carro de corrida baseado no 911 Turbo que venceu as 24 Horas de Le Mans em 1979, feito para as ruas — com todos os itens de luxo a que tivesse direito.
Em vez de pegar um 935 de corrida e convertê-lo para as ruas, a Porsche seguiu o caminho oposto: pegou um Porsche 911 Turbo, aplicou nele as modificações do 935 (incluindo a dianteira inclinada slant nose e a traseira longa), instalou o boxer de 3,3 litros e 380 cv do Porsche 934 e deu ao interior um tratamento especial, com couro creme, detalhes em madeira (algo inédito em um 911 até então) e sistema de som de alta fidelidade da Clarion.
Ao todo, cerca de 550 modificações foram realizadas — o que, sem dúvida, torna o Porsche 935 Straβenversion um dos carros mais exclusivos do mundo. Você pode ler mais sobre ele aqui.
Black Pearl
Ser o vocalista e guitarrista de uma das maiores bandas de heavy metal do planeta tem suas vantagens. James Hetfield, do Metallica, sabe bem disso — e ele aproveitou para gastar sua fortuna (quem disse que thrash metal não dá dinheiro?) em um hot rod exclusivo: o Black Pearl.
Hetfield garante que seu carro não usa nenhum outro como base — o chassi foi feito sob medida, usando apenas as longarinas de um Jaguar 1948, e a carroceria segue a linhas rabiscadas por ele em uma folha de papel, com inspiração nos modelos aerodinâmicos do pré-Guerra. Tudo foi feito de maneira artesanal pelos irmãos Marcel e Luc De Lay, dois dos maiores especialistas em fabricação de carrocerias da atualidade, em uma oficina da Califórnia.
Com interior espartano e impecável, típico modelos dos anos 30, e uma carroceria que não traz soldas ou emendas aparentes, o Black Pearl é uma obra de arte sobre rodas. Mas não lhe falta poderio: o motor é um tradicional V8 Ford 302 que entrega 380 cv. Parece modesto para os padrões atuais, claro, mas talvez a gente esteja mal acostumado. Esta coisa deve ser um barato de se acelerar.
Ferrari SP12 EC
Depois que citamos a Ferrari P4/5 de James Glickenhaus, era natural que outra criação sob medida do estúdio Pininfarina viesse à tona nos comentários. Estamos falando da Ferrari SP12 EC, encomendada pelo deus da guitarra Sir Eric Clapton como uma homenagem à clássica 512 BB.
Contudo, em vez de um flat-12 de 4,9 litros 340 cv, a SP12 tem o V8 de 4,5 litros e 570 cv da 458 Italia, carro em que foi baseada. Novamente o trabalho de modificação foi feito pela Pininfarina, que deu seu melhor para transformar a 458 em uma 512BB moderna. E eles conseguiram, claro, mesclando as linhas marcantes dos anos 80 às proporções modernas da 458.
O carro foi apresentado durante um envento especial em novembro de 2012 e custou nada menos que US$ 4,7 milhões, ou cerca de R$ 14,7 milhões em conversão direta. Um dos maiores guitarristas de todos os tempos também tem um belo gosto para carros.
Maybach Exelero
A Maybach foi uma das várias fabricantes de automóveis que surgiram no início do século XX produzindo carros de luxo (ainda que, na época, qualquer carro fosse considerado um artigo de luxo). Em 1960 a empresa foi comprada pela Daimler-Benz e tornou-se a divisão de luxo da Mercedes, posição que ocupa até hoje — atualmente, uma versão especial do Mercedes-Classe S é comercializada sob a marca Maybach.
Como se um Maybach não fosse exclusivo o bastante, a empresa fabricou em 2004 o Exelero, um esportivo ultra-luxuoso equipado com um V12 biturbo de 5,9 litros biturbo de mais de 700 cv. O carro usado como base foi o Maybach 57 sedã que, por sua vez, é derivado do Mercedes-Benz Classe S.
O Exelero foi desenvolvido sob encomenda da fabricante de pneus Fulda, divisão alemã da Goodyear, para ser utilizado como veículo de testes para pneus de alto desempenho. O pedido não foi feito por acaso: a Maybach cedia seus carros para que a Fulda testasse pneus nos anos 30, e o Exelero marcou a volta da parceria após décadas.
O resultado? No circuito de Nardò, a pista de testes circular da Porsche, o Maybach Exelero chegou aos 351,45 km/h no dia 10º de maio de 2005, estabelecendo um novo recorde de velocidade para veículos de luxo com pneus de rua. Depois disso, o carro foi vendido para o rapper americano Birdman em 2008, pela bagatela de US$ 8 milhões (cerca de R$ 25 milhões em conversão direta).
Lotec Mercedes-Benz C1000
Este supercarro foi encomendado em 1995 por um milionário árabe que queria o supercarro mais rápido do mundo. Para isto, ele procurou a empresa alemã Lotec, que construía chassis para carros de competição nos anos 60 e, em 1983, passou a fabricar componentes aerodinâmicos para a Mercedes Benz. A proximidade com a os alemães permitiu que a Lotec utilizasse componentes da Mercedes e até batizasse o carro com sua marca. Nasceu, assim, o Lotec Mercedes-Benz C1000.
O motor é o V8 M117 da Mercedes, que foi produzido entre 1969 e 1992. Entregando até 300 cv, o M117 equipou diversos sedãs de grande porte da Mercedes-Benz, mas para ser utilizado em um supercarro o V8 recebeu a ajuda de dois turbocompressores Garrett. A potência total é de pouco mais de 1.000 cv — que, em teoria, seriam capazes de levar o C1000 até os 431 km/h.
Não há por que não acreditar nisso: apesar do visual pesadão típico dos anos 90, com proporções de protótipo, elementos arredondados na dianteira, um canopi e traseira futurista, o C1000 pesa apenas 1.080 kg graças ao uso abundante de fibra de carbono. Só há um problema: o desempenho do carro (que é 100% legalizado para as ruas) jamais foi medido.
Rolls-Royce Phantom 1 Jonckheere Coupe
Nas primeiras décadas do automóvel as pessoas compravam carros de uma maneira um tanto diferente da que estamos acostumados. Era muito comum que os fabricantes de automóveis vendessem chassis completos, prontos para rodar, ao passo que a carroceria era fabricada sob encomenda por empresas especializadas. A londrina Hooper era uma delas. Fundada em 1805 como fabricante de carruagens, a Hooper passou a fabricar carrocerias para automóveis no início do século XX, e permaneceram em atividade até 1959.
O Rolls-Royce Phantom 1 Jonckheere Coupe foi originalmente encomendado em 1924, por uma rica senhora de Detroit, nos EUA. Contudo, depois de pronto o carro jamais foi entregue, por razões desconhecidas. Em vez disso, foi comprado por um Rajá (um título de nobreza) indiano, que enviou o carro diretamente para a carrozziere belga Jonckheere. Fundada em 1881, a Jonckheere hoje produz carrocerias para ônibus, mas na época era uma das mais importantes fabricantes de carrocerias da Bélgica.
Não se sabe quem foi o projetista da espetacular carroceria art-deco do Phantom 1 Jonckheere Coupe, mas até hoje o carro é apreciado por seu visual belíssimo, com portas circulares, linha de cintura alta e uma imponente grade do radiador. Atrás dela, repousa um seis-em-linha de 7,6 litros com comando no bloco, acoplado a uma caixa manual de quatro marchas. Não há dados sobre seu desempenho, mas relatos da época dizem que ele era silencioso o bastante para conversar dentro do carro enquanto se dirigia a 160 km/h.
Depois de trocar de mãos algumas vezes nos anos 40 e 50, o carro desapareceu. Seu paradeiro é desconhecido até 1991, quando foi adquirido por um colecionador japonês. Este ficou com o carro até meados dos anos 2000, quando o Museu Petersen convenceu o então proprietário a vendê-lo para seu acervo. O carro foi totalmente restaurado nas especificações originais e, em 2005 foi uma das estrelas do Concorso d’Eleganza Pebble Beach, na Califórnia.
Alfa Romeo Zagato TZ3 Corsa
Um dos últimos carros de tração traseira da Alfa Romeo — antes do atual revival que começou com o pequeno 4C e continua com o novo Giulia — foi o belo 8C Competizione inspirado nos carros de corrida da marca italiana nos anos 30. Além de ser equipado com um V8 Maserati de 4,7 litros e 450 c, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em 4,2 segundos com máxima de 292 km/h, o 8C Competizione é muito, muito bonito.
Contudo, ser dono de um dos 500 8C Competizione produzidos entre 2007 e 2009 não era exclusivo o bastante para o colecionador alemão Martin Kapp, que encomendou ao estúdio de design Zagato um modelo único feito com base no grand tourer. O carro foi apresentado em 2010 durante o Concorso d’Eleganza Villa d’Este, na Itália, e presta homenagem ao Alfa Romeo Giulia TZ, carro de competição que correu entre 1963 e 1967.
A carroceria foi feita à moda antiga: moldando artesanalmente, usando um martelo, as chapas de alumínio. Apesar da estrutura e das proporções gerais semelhantes às do 8C Competizione, o novo carro — batizado como Alfa Romeo Zagato TZ3 Corsa — é mais veloz, graças ao motor V8 de 4,2 litros com cárter seco (como nos carros de corrida) de 420 cv, ao peso mais baixo e à caixa sequencial de seis marchas. O TZ3 Corsa é capaz de chegar aos 100 km/h em 3,5 segundos com máxima de 300 km/h.
O TZ3 Corsa foi tão aclamado por público e crítica que o estúdio Zagato decidiu criar uma nova versão — com linhas semelhantes, porém feita sobre o Dodge Viper (e equipada com o mesmo V10 de 8,4 litros e 600 cv do superesportivo americano). Apresentado em 2011, o chamado TZ3 Stradale não tem o mesmo status de único no mundo: existem, no total, oito ou nove unidades.