Com a evolução significativa da segurança dos carros ao longo dos últimos 20 anos, a mortalidade no trânsito das cidades vem reduzindo, embora recortes estatísticos tentem provar o contrário. Mas as mortes ainda acontecem, e as maiores vítimas são, claro, aqueles que não têm uma armadura de aço como proteção: os pedestres e motociclistas.
A solução passa pela adequação dos limites de velocidade e sua fiscalização, mas não apenas isso. Um carro que infringe o limite de velocidade tido como seguro, o ambiente viário continua inseguro e a única coisa que acontece é que o estado enche seus cofres. O risco continua lá.
Por isso, é preciso também adotar medidas efetivas, que fazem o carro reduzir a velocidade onde é preciso que ela seja reduzida. A engenharia de tráfego está cheia destas medidas, mas a prefeitura de Ísafjörður, na Islândia, decidiu adotar ilusões de ótica para frear os carros e tentar garantir uma travessia segura aos pedestres.
Trata-se de uma faixa de pedestres “tridimensional”, que vista à distância de dentro do carro, parece uma fileira de blocos de concreto obstruindo a passagem. A ideia é que o motorista veja e reduza a velocidade até chegar a uma distância mais próxima, onde o efeito desaparece e ele se sente seguro para seguir normalmente.
Esse tipo de ilusão é obtido através de pinturas anamórficas, que usam a perspectiva visual para que a imagem pretendida seja visível somente por um determinado ponto de vista. Veja só como é a pintura quando observada pelo sentido contrário do fluxo de veículos:
Segundo Gauti Ívar Halldórsson, CEO da Vegamálun, a empresa que fez a pintura da faixa, a ideia foi inspirada pelas faixas de Nova Délhi, na Índia. As faixas foram criadas por duas indianas chamadas Saumya Pandya Thakkar e Shakuntala Pandya como forma de contribuir com a redução de mortes no trânsito da capital indiana, onde há uma morte no trânsito a cada cinco minutos.
Mãe e filha: as criadoras das faixas 3D na Índia
As faixas estão sendo implementadas próximo a escolas, uma vez que as crianças são as maiores vítimas entre os pedestres, com uma marca inacreditável de 16 mortes por dia. Segundo o governo local não houve atropelamentos após a pintura das faixas, e a velocidade dos veículos foi reduzida entre 1,6% e 20,3%.
É uma notícia animadora, sem dúvida, mas sem um período maior de observação ainda é cedo para dizer se elas são realmente eficientes, ou apenas uma forma de chamar a atenção e gerar publicidade para o problema dos atropelamentos.
Isso porque esse tipo de faixa ainda tem o elemento surpresa e estão com a pintura bem conservada. Quando os motoristas acostumarem a elas, eles ainda continuarão reduzindo os limites?
Um comercial da Honda feito com pinturas anamórficas
Também há outro questionamento: um motorista que nunca viu esse tipo de ilusão não corre o risco de se assustar e causar um acidente, seja por tentar desviar, ou por frear bruscamente? Especialmente se estiver seguido por alguém que já está habituado a faixa?
Talvez seja por esse motivo que somente Nova Délhi, a pequena cidade islandesa de Ísafjörður e alguns locais da China adotaram esse tipo de faixa.
Como alternativa, entre os diversos elementos de redução de velocidade usados tradicionalmente pela engenharia de tráfego estão o estreitamento da faixa de rodagem, que faz os motoristas reduzirem a velocidade de forma natural (basta pensar em como você dirige nos estacionamentos fechados), chicanes, lombadas, travessias elevadas (aquelas lombadas largas com a faixa sobre elas), sonorizadores e até mesmo o afunilamento do trânsito em faixas simples ou vias de mão dupla. Ah, e claro, a conservação e iluminação das faixas de pedestres, para que elas sejam facilmente percebidas.