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Carros Antigos

Série de despedida é bom negócio como investimento em clássicos?

Não é todo carro que sai de linha com uma série especial para se despedir do público. É preciso ter uma combinação de fatores como tempo de mercado, carisma e qualidades que vão além de sua função como automóvel. Não é à toa que só uns poucos modelos brasileiros mereceram uma série destas.

Veja o Escort, por exemplo: foi produzido por 20 anos e saiu à francesa, pela porta dos fundos, sem sequer uma plaqueta de agradecimento. O Chevette também: ficou em produção por mais de 20 anos, mas saiu de linha ofuscado por um Kinder Ovo — para usar um apelido da época.

O mais recente caso de carro que se vai, mas deixa uma série de despedida para seus entusiastas é o Volkswagen Gol. Depois de 42 anos de estrada — dos quais 27 foram na liderança do mercado —, ele finalmente sucumbiu à pressão europeia para ser substituído pelo Polo, um produto global e, por isso, mais rentável. Não chega a ser uma Kombi ou um Fusca, mas marcou a vida de muita gente e fez parte da história do Brasil sobre rodas e, por isso, merecidamente, ganhou uma série de despedida.

O conjunto não é dos mais especiais que o Gol teve, mas é que a Volkswagen pôde fazer — e o fato de ela dedicar tempo para fazer um carro desse já é algo que deve ser bem considerado pelos entusiastas. Ele não tem motor 1.6? Paciência. Reclame ao IBAMA, que impôs a nova fase do Proconve e, assim, proibiu indiretamente a Volkswagen de lançar no Last Edition o 1.6 8v que o Gol usou em seus últimos anos de vida. Faz parte do mundo que queremos no futuro, não?

Foram feitos 1.000 exemplares. Só 1.000. E, destes, 650 ficaram no Brasil. O restante foi para outros países onde o Gol passou ao longo de sua carreira. E dos 650 que ficaram por aqui, dois tiveram uma destinação especial. Um deles foi para o acervo histórico da Volkswagen; o outro foi leiloado pela própria Volkswagen por R$ 154.000. É um valor e tanto para um Gol — e que já valoriza a série especial antes mesmo de ela se tornar histórica pelo tempo.

O preço regular do Gol Last Edition nas concessionárias era R$ 95.990, então alguém pagou R$ 58.010 acima do preço da concessionária. Faz sentido? Pra muita gente não, mas para quem chegou atrasado e queria muito um Gol Last Edition, pode fazer. Até por que o Gol Last Edition leiloado foi escolhido a dedo pela Volkswagen por ser o número 0042/1000 — uma referência aos 42 anos de estrada.

Ele também tem certificação digital por NFT e garantiu ao comprador uma visita ao acervo histórico da Volkswagen, que não é aberto ao público. Ainda é um valor expressivo, mas começa a fazer sentido do ponto de vista do colecionismo e do entusiasmo pelo modelo. Fãs fazem esse tipo de coisa — tem fã que paga centenas de dólares para tirar uma foto com seu artista favorito, então é algo inerente à admiração intensa.

Além disso, a escassez do Gol Last Edition e o fato de ele ter sido disputado em um leilão virtual até ficar 60% mais caro que nas lojas, mostra que há mais demanda que oferta. E quando isso acontece, você sabe o que acontece com os preços no mercado de usados e colecionáveis.

Por ora, tudo ainda é muito especulativo, afinal, não sabemos como será a memória do Gol em médio e longo prazo. O que sabemos é que um Gol Last Edition, neste momento, dificilmente trocará de mãos por menos de R$ 100.000 — isso se não houve ágio nas últimas unidades. Com o leilão balizando os preços, espere vê-los por entre R$ 100.000 e R$ 150.000 nos próximos meses.

É claro que especulações, salvo exceções que confirmam a regra, não são infundadas. Todas elas têm uma base minimamente racional e, no caso do Gol Last Edition, esta base são as outras versões especiais de despedida lançadas no Brasil — tanto as três lançadas pela Volkswagen, quanto as duas da GM do Brasil e as duas da Fiat.

Quando eu soube do valor atingido pelo Gol Last Edition no leilão, minha primeira reação foi de espanto: “Cento e cinquenta e quatro paus por um Gol Last Edition?” Mas aí lembrei das outras séries e dos preços que elas atingiram e daí surgiu a ideia desta matéria: por quanto estes carros estão trocando de mãos atualmente?

 

Fusca Série Ouro

Não foi a primeira série de despedida do Fusca no Brasil, nem a última no mundo como foi a da Kombi, mas certamente foi a mais popular de todas. Foi lançada em 1996 para encerrar a história do Fusca no Brasil com 1.500 unidades especialmente pintadas e decoradas para a ocasião.

Eles eram mecanicamente idênticos aos demais Fusca “Itamar”, mas dispensaram as faixas adesivas amarelo e preto das laterais, usando apenas um emblema “Série Ouro” nas laterais dianteiras, entre as portas e os para-lamas, e um emblema exclusivo com o nome Fusca em dourado na tampa do motor. As cores eram as perolizadas vermelho Dakar e verde Nice, a metálica prata Lunar, e o sólido branco Star.

O visual do exterior era completado pelos faróis de milha e as lanternas traseiras fumê, além dos borrachões nos para-choques. Por dentro ele tinha o volante emborrachado do Gol da época, instrumentos com fundo branco, bancos e portas com forração de veludo emprestados do Pointer GTI da época. Além disso, ele tinha o pacote completo de opcionais, com vidros verdes, desembaçador traseiro e vidros laterais traseiros basculantes.

Um Fusca Série Ouro, dependendo da quilometragem, tem sido negociado por entre R$ 45.000 e R$ 120.000. Os modelos que foram mantidos sem uso, dependendo da cor da carroceria, podem facilmente passar desta faixa de preços — caso do vermelho Dakar, que já teve ao menos uma unidade negociada por R$ 200.000, segundo nossa apuração.

 

Diplomata SE Collectors

Um dos pioneiros das séries especiais de despedida, o Diplomata SE Collectors foi o adeus do Opala ao mercado brasileiro. A série Diplomata Collectors foi anunciada em 1992 com apenas 100 unidades nas cores preta, azul ou vinho, acompanhadas de um certificado, uma fita de vídeo especial da série e um livreto com a história do Opala. Eles eram identificados pelos logotipos Collectors na traseira e no volante, e podiam vir com bancos de couro opcionais.

Quem procurar um destes a venda irá encontrar notícias de um exemplar anunciado a R$ 500.000 e outros exemplares na faixa dos R$ 180.000.

Contudo, um dos poucos registros públicos de venda de carros antigos, o site Picelli Leilões — que é o leiloeiro oficial/legal do Circuito de Leilões — mostra que em novembro de 2021 um Diplomata SE Collectors foi vendido por R$ 134.000, e que em 23 de abril de 2022 um outro exemplar foi vendido por R$ 115.000. É claro que cada um tinha suas particularidades, mas eles servem de parâmetro para o valor de mercado atual. Um exemplar com baixa quilometragem e em excelente estado de conservação pode chegar aos R$ 200.000.

 

Kombi Last Edition

Aqui há um caso peculiar. A Kombi Last Edition foi lançada em 2013 para ser a despedida definitiva da Kombi no mundo todo. Teve um filme emocionante, uma campanha com gente de todo o mundo e, claro, a série especial de 600 unidades.

Acontece que, depois de esgotar a série especial, a Volkswagen decidiu lançar mais uma série de 600 unidades — o que, evidentemente, deixou furiosos os compradores da primeira série, afinal, o carro já não era mais tão raro como no começo.

Como isso envolve valor futuro, teve até processo judicial contra a Volkswagen — um cliente, preocupado em perder dinheiro depois de pagar R$ 85.000 pela Kombi, alegou propaganda enganosa e desvalorização do bem, e ganhou na justiça o direito de devolver a Kombi, com direito a correção monetária do valor pago.

O caso aconteceu em 2016, então o cliente deve ter recebido cerca de R$ 107.600 em novembro de 2016, quando a sentença foi proferida. Em valores de hoje, estamos falando de R$ 145.600, aproximadamente. Ironicamente, este é o valor aproximado das Kombi Last Edition atualmente. Em abril deste ano, um exemplar com 50.000 quilômetros foi leiloado por R$ 135.000. Parece que o processo não foi um bom negócio…

 

Agradecemos a José Paulo Parra e Henrique Mendonça pelas informações sobre os valores de mercado destes carros.


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