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Shelby GT500 “Little Red”: outro Mustang mais raro do mundo acaba de ser encontrado depois de 50 anos

Você acredita em coincidências ou acha que tudo o que acontece já está escrito e planejado? De um jeito ou de outro, fica difícil não se impressionar com esta história. Há poucos dias contamos aqui a história do “Mustang mais raro do mundo” – um Shelby GT500 conversível, com motor V8 big block 428, fabricado em 1967. É o único exemplar do GT500 conversível feito naquele ano e, como o carro saiu da fábrica da Ford e recebeu um número de série, não dá para chamá-lo de protótipo. O que dá para dizer, porém, é que se trata do Mustang mais raro do planeta. Ou um deles.

Talvez você lembre que o Shelby GT500 conversível foi o último de três exemplares do GT500 feitos e registrados em 1967, recebendo o número de série #0039. O primeiro foi um fastback, registrado como #0100 e o segundo foi um cupê hardtop, com carroceria fechada de três volumes, que recebeu o número #0131.

O paradeiro do conversível nunca foi um segredo, mas só na década de 2000 surgiram provas concretas de que ele era, de fato, um Shelby GT500 conversível fabricado em 1967. O fastback foi comprado por seu atual proprietário, um entusiasta de Denver, Colorado, em 1979, e jamais foi restaurado. O hardtop, apelidado “Little Red” por causa de sua carroceria vermelha, não era visto havia exatos 50 anos.

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No último fim de semana, porém, ele foi apresentado diante de um público boquiaberto no Museu Henry Ford, em Detroit. Isto porque até então o carro era dado como desaparecido, ou pior, destruído – afinal, entusiastas procuraram o carro por anos desde que o mesmo sumiu do mapa no fim dos anos 60, e este era o destino comum de muitos protótipos e mulas de testes naquela época.

Quem encontrou o carro foi Craig Jackson, fundador da agência de leilões Barrett-Jackson, que chamou o carro de “a descoberta de uma vida”. E não é difícil de acreditar.

Jackson já é dono de outro Mustang importantíssimo – outro GT500 hardtop, porém na cor verde, que foi usado por Carroll Shelby como plataforma de testes para diversos itens, como o motor V8 428 Cobra Jet, um sistema experimental de injeção mecânica de combustível, freios a disco nas rodas traseiras e um sistema de suspensão traseira independente. O carro, apelidado Green Hornet foi comprado por Jackson em 2011 e foi durante seu processo de restauração, concluído em 2013, que ele teve a ideia de procurar pelo Little Red. De acordo os registros conhecidos dos Mustang Shelby, o Green Hornet e o Little Red foram os dois primeiros e únicos hardtops a receber o tratamento da Shelby.

Segundo Jackson, a principal dificuldade em encontrar o carro tinha a ver com a metodologia usada. Ao rastrear o número de chassi da Shelby (#0131) só era possível reconstruir a trajetória do carro até o ponto em que, assim como os outros dois carros (o fastback e o conversível) ele foi devolvido à Ford e vendido como um Shelby GT500 usado normal.

Antes disto, porém, o carro recebeu bastante atenção do próprio Carroll Shelby, que realizou diversos experimentos tanto com o Little Red quanto com o Green Hornet. Entre eles, a instalação de um supercharger Paxton, modificações na carroceria usando fibra de vido e, especula-se, até mesmo testes com turbocompressores. Depois disto, o carro recebeu o motor V8 428 Cobra Jet de 355 cv com dois carburadores de corpo quádruplo uma caixa automática C-6, além de revestimento de vinil no teto e interior em couro Connolly preto.

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Carroll Shelby e o engenheiro-chefe da companhia, Fred Goodell, dirigiram o carro por algum tempo. Em agosto de 1967 o carro foi examinado por Lee Iacocca, que convenceu Carroll Shelby a usá-lo como base para uma edição especial do Mustang GT hardtop chamada California Special, com as mesmas modificações estéticas do GT500, incluindo a nova grade dianteira e as lanternas traseiras maiores, porém com mecânica comum da versão GT. O California Special foi vendido apenas em 1968, com um total de 4.118 unidades fabricadas.

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Mustang GT California Special: inspirado pelo GT500 Little Red

Pouco depois o carro foi enviado de volta para a Ford e vendido através de seu programa de carros usados, o B-Lot.

Só foi possível determinar o que aconteceu depois ao encontrar o número de série do carro junto à Ford, o que permitiu a Jackson encontrar o registro inicial do carro e, eventualmente, o nome de seu último proprietário – um morador de Dallas, no Texas.

Ele comprou o carro no início dos anos 70 e rodou com ele por algum tempo até que, por conta de um vazamento no radiador, teve de deixar o carro parado. A certa altura o motor do carro foi roubado (!) e, frustrado, seu dono deixou o GT500 apodrecendo na fazenda de um conhecido pelos últimos 20 anos.

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Jackson entrou em contato com o homem em fevereiro de 2018 através das redes sociais e passou alguns dias tentando convencê-lo a mostrar o carro, mas acabou conseguindo agendar uma visita à fazenda no dia 3 março. Jackson foi acompanhado de especialistas em clássicos e munido de toda a documentação que conseguiu reunir para atestar que aquele carro era, de fato, o Little Red.

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Recapitulando: estamos falando de um dos três exemplares do Shelby GT500 que a Ford fez em 1967, sendo o primeiro um fastback, o segundo este hardtop e o terceiro, o conversível sobre o qual falamos alguns dias. Apesar de serem comumente tratados como protótipos, estes carros são exemplares de produção, com números de série e documentação de rua. O Little Red foi o primeiro GT500 hardtop e o Green Hornet, que foi feito em 1968 e também pertence a Craig Jackson, foi o segundo. A Ford, que comprou a Shelby em 1967, não fez outros exemplares do GT500 com carroceria hardtop. É por isto que o Little Red é um carro tão importante.

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Craig Jackson diz que o próximo passo será uma meticulosa restauração, o que deverá ser um processo longo e tortuoso caso o objetivo seja manter o maior nível de originalidade possível – será preciso rastrear o motor que foi roubado, por exemplo, e reconstruir toda a dianteira em fibra de vidro, além do interior. Depois disto o carro será mantido em seu acervo pessoal ao lado do Green Hornet. Apesar de ser o dono e fundador da Barrett-Jackson e de saber que o valor do carro é altíssimo, Craig Jackson já disse que jamais irá vendê-lo.