Não há dúvidas de que o Ford GT40 é um dos carros de corrida mais emblemáticos já construídos – afinal, vencer as 24 Horas de Le Mans quatro vezes seguidas, entre 1966 e 1969, é um feito tão impressionante que ainda falamos a respeito cinco décadas depois. Da mesma forma, seu contemporâneo Ford Mustang é um dos automóveis mais importantes que existem: ele foi o primeiro pony car da história, incorporando o mesmo apelo dos muscle cars em um pacote mais compacto, econômico e barato, criando uma nova tendência que foi totalmente abraçada pelo mercado — e até mesmo tomou o lugar dos muscle cars originais.
Sabe o que acontece quando se junta os dois? O Shelby GT500 Super Snake, de 1967, do qual foi feito apenas um exemplar. É o carro aí em cima.
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O Ford Mustang 1967 era um carro diferente dos outros que haviam sido feitos até então: ele era maior, com bitolas mais largas, uma traseira fastback mais pronunciada e identidade visual ligeiramente atualizada. Havia uma boa razão para isto: a Ford queria colocar um motor big block no cofre, pois os small block já não estavam dando conta da demanda popular por mais potência.
Na época, a Shelby já oferecia aos fãs do Mustang sedentos por um pouco mais de punch o Shelby GT350, um Mustang preparado para as pistas, equipado com um V8 small block Windsor de 289 pol³ (4,7 litros) que, graças à adoção de um enorme carburador Holley 715 CFM de corpo quádruplo, entregava 310 cv em vez dos 275 cv originais. Com a chegada do Mustang 1967, havia espaço para a instalação de algo ainda mais forte. E foi assim que surgiu o Shelby GT500, movido por um V8 big block da família FE – 428 pol³, ou sete litros, dois carburadores Holley 600 CFM de corpo quádruplo e 360 cv. Foram feitos pouco mais de 2.000 exemplares do GT500 em 1967 – carros identificáveis pelo novo conjunto frontal, com faróis auxiliares nas extremidades da grade, e pelas lanternas traseiras adaptadas do Mercury Cougar –, o que já torna o GT500 1967 um carro bastante raro nos dias de hoje.
Mais raro, porém, é o GT500 Super Snake. O carro foi idealizado por Don McCain, ex-gerente de vendas da Shelby American, que simplesmente sugeriu a Carroll Shelby que ele colocasse no GT500 um V8 427 de competição – mais precisamente, o V8 FE Cobra de 427 pol³ utilizado pelo GT40 em 1966, ano de sua primeira vitória nas 24 Horas de Le Mans – que, por sua vez, era derivado do motor utilizado pelo Ford Galaxie na Nascar. O próprio Carroll Shelby estava envolvido no projeto do GT40, e conhecia bem o motor, que tinha cabeçotes de alumínio, componentes internos forjados, coletor de admissão com maior fluxo e coletor de escape bundle of snakes (batizado assim porque os tubos de escape eram torcidos e, de fato, lembravam um ninho de cobras). Estamos falando de um motro com potência bruta de quase 600 cv – o que justifica totalmente o sobrenome dado ao GT500 especial: Super Snake.
O motor foi acoplado a uma nova caixa manual de cinco marchas, que por sua vez era ligada a um diferencial reforçado no eixo traseiro do Mustang. No mais, o carro era virtualmente idêntico a um GT500 qualquer, com pintura branca e faixas azuis – que seguiam um padrão exclusivo, com uma faixa mais larga ladeada por duas faixas mais estreitas, em vez de duas faixas idênticas como era nos outros carros. Além disso, a moldura para os faróis auxiliares era cromada, como não se via em nenhum outro Mustang.
O objetivo inicial do carro era demonstrar um conjunto de pneus em uma pista de testes oval. Para isto, foram insstaladas molas e amortecedores mais firmes do lado do passageiro, a fim de contrabalançar a transferência de peso nas curvas de alta velocidade. Durante o teste, o Shelby GT500 Super Snake mostrou do que era capaz, atingindo impressionantes 273 km/h na demonstração rápida. Durante o teste de longa duração, o Mustang percorreu 800 km a uma velocidade média de 228 km/h sem grandes problemas.
Talvez nem precisemos dizer mas, em todo caso, é óbvio que o GT500 Super Snake foi um sucesso entre os entusiastas e jornalistas que presenciaram a demonstração. O carro foi levado para a concessionária de Mel Burns, na Califórnia, a pedido de Don McCain – ele havia tido uma visão: uma série limitada de 50 exemplares do GT500 Super Snake, que em sua opinião tinha tudo para ser um sucesso.
Mas não era para ser: as modificações realizadas no GT500 para transformá-lo em um Super Snake resultaram em um preço alto demais – US$ 8.000, que não parecem muito hoje em dia, mas estamos falando de quase duas vezes do que custava um GT500 normal. Por conta disto, o projeto acabou cancelado.
O carro acabou enviado para uma concessionária Ford em Dallas, no Texas, onde foi comprado por uma dupla de pilotos de avião que, nas horas vagas, disputavam corridas de arrancada. O GT500 Super Snake trocou de mãos mais algumas vezes antes de ir parar na garagem de seu atual dono, um homem chamado John Wick. Em algum momento de sua vida o Mustang foi restaurado nos padrões originais, e é assim que ele se encontra hoje em dia. Ele foi leiloado recentemente pela Mecum Auctions e arrematado por US$ 1,3 milhão – cerca de R$ 4,95 em conversão direta.