Não é difícil topar com a opinião de que o Honda Prelude da década de 1990 é um carro muito bacana, mas seria mais legal ainda se tivesse tração traseira. Por mais que o cupê seja um carro de tração dianteira extremamente bem acertado, contando até mesmo com o sistema 4WS (esterçamento das rodas traseiras) em algumas versões (como é o caso do Prelude do Barata, o Project Berger), tal constatação faz certo sentido se considerarmos que, tradicionalmente, esportivos de alto nível levam a força para as rodas de trás, o que via de regra favorece o comportamento dinâmico em pista.
Se tratando de um JDM, também é inevitável mencionar a questão do drift – sem “tração nas rodas certas’ é impossível provocar a saída de traseira e seguir de andando de lado, controlando o carro com aceleração e contra-esterço. O que é uma pena, porque o Honda Prelude, com seu visual belíssimo na quarta geração, daria uma bela drift machine.
Por sorte existem pessoas como Peuek Szorstki. Ele tinha um Honda Prelude, e ele queria participar de eventos de drift. O que ele fez? Converteu seu carro para ter motor longitudinal e tração traseira! Ou você acha que a foto de abertura deste post é montagem?
E essa aqui, é montagem também?
Peuek não fala inglês, mas a barreira do idioma foi superada com a ajuda do pessoal da Hoonigan, que topou com o cara durante um evento no Leste Europeu (provavelmente na Polônia) para conhecer mais detalhes do carro no vídeo que você confere abaixo:
É preciso ter em mente que este é um projeto de drift, o que na maioria das vezes quer dizer que a função vem muito antes da forma e que certas soluções de engenharia podem parecer soluções técnicas alternativas (as famosas gambiarras), mas a ordem é a seguinte: se funcionou bem, que mal tem? Carros de drift sofrem bastante abuso na pista, o que significa que não se pode ter muito apego à estética, a detalhes de acabamento ou ao famigerado factory look – aquelas adaptações que “parecem de fábrica”. Assim, por mais que o visual do carro de Peuek seja muito parecido com o de um Prelude original que foi rebaixado e recebeu um jogo de rodas Volk TE37, a primeira olhada debaixo do capô deixa claro que se trata de um híbrido. O nosso tipo de híbrido.
O motor, que foi instalado na longitudinal, é um Mercedes-Benz M111 (que recebeu um adesivo “Honda VTEC” na tampa de válvulas só pela piada) que ao menos é period correct: ele fez sua estreia no Mercedes-Benz W124, que foi lançado em 1992 e foi o primeiro Mercedes a receber a nomenclatura Classe E – o Prelude de quarta geração foi apresentado em 1991. Originalmente o quatro-cilindros de dois litros com bloco de ferro fundido e cabeçote de alumínio entregava entre 163 cv e 193 cv, dependendo do modelo.
No caso deste Prelude, porém, foi instalado um turbocompressor (infelizmente não há detalhes a respeito do sistema), elevando a potência para… cerca de 200 cv. Não é um ganho muito grande em relação ao rendimento original do motor, mas é o suficiente para garantir mais ânimo ao carro aliviado.
Foi preciso fabricar novos suportes para o motor, obviamente, mas o trabalho de adaptação foi facilitado pela adoção dos subchassis do Opel Omega B, o mesmo que foi vendido no Brasil entre 1999 e 2007 – na dianteira para instalar o motor e a coluna de direção, e atrás para sustentar o diferencial e os semieixos.
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O túnel central, que originalmente no Prelude serve para acomodar o sistema de escape, neste carro está dando passagem para o cardã. O escape é direto, e as saídas ficam… no cofre, apontadas para cima, exigindo que se adaptasse o capô.
A suspensão do carro usa amortecedores ajustáveis do tipo coilover na dianteira e na traseira, sendo que o conjunto traseiro foi projetado originalmente para o Vectra e o dianteiro foi feito sob medida. O sistema de direção, por sua vez, foi adaptado para aumentar o ângulo de esterçamento das rodas dianteiras. Um dos caras no vídeo chama atenção para um efeito colateral: os pneus dianteiros “pegam” nas bordas dos para-lamas às vezes, e o resultado são pedaços de borracha preta grudada nos retrovisores.
O interior do carro, parcialmente aliviado, entrega que apesar da pintura branca novinha este carro era bordô. Lá o negócio é business as usual: uma enorme alavanca para o freio de mão, painel de instrumentos adaptado e um volante de competição.
O porta-malas, por sua vez, abriga o tanque de combustível e é possível enxergar o diferencial espiando pelo assoalho. Também são notáveis a ausência do para-choque traseiro (que possivelmente foi retirado para a pista) e a falta de acabamento nos para-lamas traseiros. Mas quando a gente lembra que este é um projeto de drift feito para ser usado e abusado, fica tudo certo.
Talvez os fãs mais radicais da Honda e do Prelude não tenham curtido muito, mas é preciso lembrar que estamos falando de outro país, outra cena e uma realidade completamente diferente. Mas pode ser que parte da graça para Peuek seja justamente a cara de ponto de interrogação das pessoas, que é inevitável quando se descobre o que há por baixo do capô de seu Prelude. Ou ele não teria colocado um adesivo da Honda na tampa de válvulas…