Se você é daqueles que curtem esportivos à moda antiga, não tem do que reclamar: hoje em dia, mesmo em meio a híbridos e elétricos, há uma boa seleção de esportivos puristas — aqueles com motor dianteiro, tração traseira, baixo peso e diversão de sobra para oferecer. Os caras da Motor Trend levaram dois deles para a estrada, e depois para a pista, a fim de decidir qual se dá melhor não apenas na hora de conferir o cronômetro, mas também na hora de colocar um sorriso no rosto de quem está ao volante. É claro que estamos falando do novo Mazda MX-5 Miata e do já-não-tão-novo-assim Subaru BRZ.
Estes são dois esportivos muito semelhantes na proposta inicial, mas bem diferentes na abordagem. Ambos são pequenos e não são o que se considera super potente hoje em dia. Ambos têm tração traseira, motores aspirados de quatro cilindros e câmbio manual de seis marchas. Ambos são japoneses, e ambos foram feitos para serem divertidos. Mas qual dos dois se dá melhor nesta árdua tarefa?
Para tentar responder a esta pergunta, vamos assistir ao comparativo da Motor Trend com Carlos Lago na estrada e o experiente Randy Pobst na pista. Se prepare, porque são mais de 20 minutos (muito bem gastos, por sinal):
Qual vai primeiro? A resposta é sempre “Miata” — não é o que dizem, “Miata Is Always The Answer”? Pois bem: o pequeno roadster, como você já deve saber, chegou recentemente à sua quarta geração, conhecida como ND. Como já comentamos aqui antes, o carrinho ficou menor, mais leve e, pasme, menos potente: agora, o 2.0 com comando duplo no cabeçote entrega 155 cv a 6.000 rpm e 20,5 mkgf de torque a 4.600 rpm. O anterior tinha 167 cv mas, por outro lado, menos torque — 19,4 mkgf.
Por outro lado, o Miata emagreceu: com exatamente 1.000 kg na balança, são 100 kg a menos que a geração anterior. Some a isto as dimensões ligeiramente reduzidas (5 cm mais curto e 1,3 cm mais baixo), e o que você tem é um carro ainda mais ágil. E que faz questão de transmitir esta agilidade ao motorista — na pegada do volante, na ergonomia voltada a quem está no comando, na posição de dirigir bem perto do chão… e até na rolagem da suspensão.
O Miata usa um sistema independente nas quatro rodas, com braços sobrepostos na dianteira e multilink na traseira. Assim, o carro aponta muito bem, e é absurdamente equilibrado. Não há qualquer resquício de subesterço (a famosa saída de frente) e, quando a traseira escapa (o que não é difícil), buscá-la de volta é uma operação bastante intuitiva.
Mas a carroceria rola bastante nas curvas, pois a suspensão é complacente demais. Dito isto, Carlos Lago repete as mesmas impressões de outros jornalistas, que compilamos neste post: a Mazda deu ao carro um acerto de suspensão bem complacente porque, no fim das contas, trata-se de um carro de rua. Por outro lado, esta mesma rolagem é o que torna a experiência de dirigir o Miata tão envolvente, pois ajuda o motorista a ter uma noção perfeita do que o carro está fazendo, de para onde a dianteira está apontando e a carga que cada uma das rodas está suportando a todo momento. Isto pode não ser muito bom na hora de virar tempos na pista mas, de qualquer forma, não foi para isto que o carro foi feito.
Em seguida, é a vez do Subaru BRZ. Ele é mais potente, e seu boxer de quatro cilindros e dois litros borbulha como todo bom Scooby deve fazer. São 203 cv a 7.000 rpm e 20,9 mkgf de torque a 6.000 rpm. Mas o carro também é mais pesado, com 1.298 kg na balança.
A relação peso-potência dos dois carros é praticamente idêntica: 6,45 kg/cv no Miata e 6,4 kg/cv no BRZ, mas o Subaru é sensivelmente mais lento na arrancada: ele leva 6,3 segundos para chegar aos 100 km/h, enquanto o Miata é meio segundo mais veloz, com 5,8 segundos. No quarto-de-milha, a situação se repete — o Mazda leva 14,5 segundos a 151 km/h e o Subaru, 14,9 segundos a 152 km/h. A explicação está no câmbio: ambos têm seis marchas, mas o Miata tem relações mais próximas.
Na hora de fazer curvas, porém, o BRZ se mostra mais preciso: a rolagem na carroceria é bem menos gritante e o carro passa a impressão de ser mais plantado no chão. Em termos de equilíbrio, porém, a impressão geral é a mesma do Miata, com uma traseira que desgarra fácil mas também pode ser controlada com facilidade.
Mas há uma diferença importante: o Mazda Miata deixa bem claro que seu compromisso não é ser o mais veloz, e sim o mais divertido. O BRZ, com sua suspensão mais dura, carroceria cupê e motor mais potente, te estimula a tentar extrair cada vez mais do carro. Dito isso, a segunda metade do comparativo — os dois carros na pista —, surpreende.
O circuito é Streets of Willow, em Willow Springs, na Califórnia. São 2,6 km de curvas rápidas, um skidpad e uma longa reta — o lugar perfeito para testar estes dois prodígios. Desta vez, o BRZ sai na frente, e Randy Pobst fica impressionado com sua precisão nas curvas e com a facilidade de fazê-lo mudar de direção, especialmente em uma sequência de curvas de alta. A suspensão é firme e mantém o carro plantado, mas ao mesmo tempo absorve bem as irregularidades do piso e lida com elas de forma satisfatória.
No Miata, Pobst sente logo de cara a natureza mais lúdica do roadster. “O Miata é um brinquedo, e não tem a menor pretensão de ser algo mais ou algo menos do que isto”. O experiente piloto gargalha várias vezes ao lidar com as curvas, e também observa que a rolagem da carroceria é mais evidente. Ao mesmo tempo, também elogia seu equilíbrio e o envolvimento do piloto — o que inclui o ronco do motor invadindo a cabine com a capota abaixada.
Mas e no cronômetro? Eis a surpresa: o Miata é mais veloz em Streets of Willow, virando 1:29,91, enquanto o BRZ consegue percorrer o circuito em 1:31,27. Apesar da suspensão mais macia, o Mazda leva vantagem com o baixo peso e o entre-eixos curtos. Na reta final, o Subaru poderia reagir, mas o câmbio mais longo acabou prejudicando sua aceleração.
Curiosamente, na hora de escolher qual foi o mais divertido, os dois se dividem: Lago prefere a precisão e a maior potência do BRZ, enquanto Pobst fica com a espontaneidade e a leveza do Miata. E você, qual dos dois escolheria?
O outro gêmeo
Nós andamos no irmão gêmeo do Subaru BRZ — o Toyota GT86. Se ainda não conferiu nossas impressões ou não assistiu ao vídeo, não deixe de conferir!