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Car Culture

Superformance: o outro jeito de ter um Ford GT40 moderno

Há nove anos, a Ford resolveu prestar uma homenagem a um de seus maiores sucessos nas pistas e lançou o Ford GT. Ele era uma releitura moderna do GT40 que venceu em Le Mans por quatro anos consecutivos (1966-1969) que, surpreendentemente, era muitíssimo parecido com o bólido de quase cinco décadas atrás. Ele durou pouco, fez muito sucesso e virou um clássico instantâneo.

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Se o Ford GT é uma reinterpretação moderna do GT40, ele não é a única: há diversas empresas que fazem réplicas do carro. Contudo, dificilmente você encontrará uma que faça isso com tanto capricho quanto a Superformance.

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Na verdade é até meio injusto chamar o GT40 da empresa fundada na África do Sul e atualmente sediada na Califórnia de “reinterpretação moderna”. Para todo efeito, o que os caras fazem é dar sequência a produção dos cerca de dez GT40 originais que foram construídos na década de 1960. Os carros são licenciados pela Shelby, já foram acompanhados e aprovados pelo próprio Carroll, usam uma estrutura monobloco idêntica e seguem até a mesma numeração de chassi.

A Superformance faz isto há mais de doze anos, e é a única empresa que pode usar a marca “GT40” (cujo logotipo aparece no botão da buzina). Eles fazem questão de dizer que seus carros não são réplicas ou kit cars, e sim uma continuação do modelo original — tanto que os modelos se chamam GT40 MkI e MKII “Continuation”.

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Quando você compra um GT40 da Superformance, você não está comprando um carro e sim um chassi rolante, completo e totalmente montado, com exceção do conjunto mecânico — motor e câmbio são oferecidos à parte e há uma boa variedade de opções, mas se você quiser pode levá-lo para casa em cima de um caminhão e colocar seu próprio motor. Contudo, não há razão para fazer isto — na verdade, esta opção só existe para que a Superformance seja classificada como uma fabricante de réplicas e não precise se preocupar com as constantes mudanças (e exigências cada vez maiores) nas leis para emissões e segurança.

Se o GT40 da Superformance é uma réplica quase exata dos GT40 usados para vencer em LeMans em 1966 e 1967, o que temos são verdadeiros carros de corrida que receberam algumas amenidades — apenas no limite para serem toleráveis nas ruas. Mas não se engane: neste caso, se trata de um elogio.

O carro é tão fiel ao original que, segundo a Superformance, 85% de seus componentes são intercambiáveis com um GT40 autêntico — e os que não são, provavelmente são de melhor qualidade. O apelo está justamente no fato de a empresa não ter alterado a receita original, apenas desenvolvido algumas melhorias técnicas para tornar os carros um pouco mais confortáveis e bem mais confiáveis graças aos componentes novos.

O projeto é o original de 1966, mas a execução é moderna. A suspensão, por exemplo, é independente com braços sobrepostos do tipo “duplo-A” nas quatro rodas como antigamente, mas com amortecedores Bilstein e molas H&R. Os freios são Brembo, calçados por rodas de 15 polegadas de visual clássico, porém construídas e testadas nos padrões atuais de segurança. Os motores podem ser crate engines com garantia de fábrica ou você pode escolher um V8 de alto desempenho — o que significa que você pode escolher seu GT40 com o V8 Coyote 5.0 do Mustang ou um big block de sete litros todo de alumínio.

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O interior tem ar-condicionado, tomadas de 12 volts e bancos mais confortáveis, mas você ainda se senta com o traseiro beijando o asfalto, os pés lá na frente e, se tiver mais de 1,70 de altura, possivelmente terá de encomendar o seu carro com a famosa Gurney bubble, a bolha no teto que foi idealizada por Dan Gurney para que o piloto coubesse no carro com capacete. São permitidos alguns luxos como escolher a cor (aplicada com pintura de primeira) o lado no qual o volante será instalado (sendo um projeto desenvolvido em conjunto por equipes de engenharia nos EUA e no Reino Unido, todo GT40 tinha o volante à direita) e, no caso da mão inglesa, escolher entre a instalação da alavanca de câmbio no console central ou na soleira da porta do motorista.

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E eles parecem ter sido bem sucedidos em sua proposta de unir o visual e todo o espírito dos carros de corrida da época dourada da Ford no Endurance — ao menos é o que dizem reviews nas revistas Autocar, Car and Driver Motor Authority, por exemplo. Boa parte das publicações elogia o aspecto do carro por dentro e por fora (fala sério: mesmo por fotos, dá para não elogiar?), mas diz que, embora os carros sejam sólidos e tenham construção superior a de qualquer kit car, ainda existem alguns ruídos aqui e ali, folgas entre os painéis da carroceria e uma ou outra imperfeição.

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Só que isto só ajuda a aproximar o GT40 “Continuation” do real deal — os carros de competição da década de 1960 estavam longe de serem máquinas de construção precisa e visual perfeito em cada detalhe, e a Superformance pode até não ter pensando em um pouco deste aspecto para sua “série de continuação”, mas o que talvez fosse um defeito acabou se tornando uma marca de caráter.

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De qualquer forma, talvez seja esta a maneira mais barata de se ter uma experiência próxima de se pilotar um GT40 original — um carro da Superformance costuma custar algo em torno de US$ 150 mil (quase R$ 400 mil). Se quiser um Ford GT moderno, prepare-se para desembolsar algo entre US$ 700 mil e US$ 1 milhão (algo entre R$ 1,8 milhão e R$ 2,5 milhões). Um GT40 legítimo? Boa sorte encontrando um que custe menos de sete dígitos.

Nesta linha de raciocínio, faz mais sentido procurar um GT40 da Superformance do que um original, ou mesmo um Ford GT, concorda?