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Car Culture

The Liver Run: 35 minutos, 43 km e um fígado para transplante

O dia é 8 de maio de 1987, uma sexta-feira, perto do meio-dia. Bill McIntyre e Graham Fordham, dois oficiais da Polícia Metropolitana de Londres, estão curtindo uma pausa para o café quando recebem um chamado urgente: um fígado precisa ser levado para o Hospital Cromwell, no centro de Londres, onde uma paciente está pronta para receber um transplante. Eles terão 35 minutos para percorrer 43 km, e entregar o fígado aos médicos até as 12:30. Ou eles conseguem, ou a paciente – que já recebeu um transplante e está apresentando rejeição – morre.

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Parece a premissa de um filme de ação, mas aconteceu de verdade há 32 anos. Na verdade, embora esta história épica não seja tão conhecida por aqui, trata-se de uma das mais emblemáticas ocorrências policiais do Reino Unido, e ficou conhecida como Liver Run – ou “Corrida do Fígado” em tradução literal.

McIntyre e Fordham estavam sentados em seu Rover SD1 quando receberam o chamado, e tiveram poucos minutos para planejar a rota, comunicar a Scotland Yard, que deu apoio à operação, e partir em sua corrida contra o tempo.

O fígado veio de avião da cidade de Hull, aterrissando no aeroporto de Stansted, no condado de Essex. Idealmente, ele seria levado de helicóptero do aeroporto até o hospital em poucos minutos. Mas esta não era uma opção: dias antes, um dos helicópteros da Polícia Metropolitana de Londres havia sofrido uma pane mecânica, e todas as outras unidades foram impedidas de decolar até que fossem inspecionadas. Não havia uma ambulância veloz o bastante para cumprir a tarefa. A vida do paciente estava nas mãos dos policiais em seus carros.

O Rover SD1 era um carro executivo médio vendido no Reino Unido entre 1976 e 1986 e, em sua versão mais potente, tinha um motor V8 de 3,5 litros com injeção eletrônica e 193 cv. Apesar da má fama dos carros britânicos daquela época, o Rover SD1 V8 era adorado pelos policiais britânicos e, quando a fabricante anunciou que iria tirá-lo de linha, a Polícia Metropolitana comprou uma estoque deles para durar ainda alguns anos. 

Duas unidades foram convocadas para transplantar o fígado: o carro de McIntyre e Fordham, que foram à frente, e o carro de Les Crossland e Steve McCabe, que foi como reserva e também trazia uma câmera, que filmou toda a ação.

O fígado foi entregue aos policiais às 11:55 da manhã. Com a chegada ao hospital marcada para as 12:30, sem atraso, eles têm exatos 35 minutos para percorrer os 43 km que os separam do hospital. Não parece muita coisa, mas apenas metade do caminho é feita pela rodovia M11. Na outra metade, eles vão precisar percorrer o centro de Londres. Em uma sexta-feira. Na hora do almoço.

Na primeira parte do percurso não foi muito difícil ganhar tempo – as duas viaturas de polícia com as sirenes e luzes ligadas deram conta de abrir o tráfego, enquanto o motor V8 de 3,5 litros garantiu velocidades superiores a 190 km/h em determinados momentos.

Mas esta parte da viagem durou menos de dez minutos – o verdadeiro desafio começou quando os policiais chegaram a Londres e precisaram encarar o trânsito na hora do rush. Para isto, confiar apenas nas luzes e sirenes não seria suficiente. A comunicação com a Scotland Yard garantiu que mais de 50 policiais fossem mobilizados para se posicionar estrategicamente ao longo do percurso e pudessem limpar o tráfego em pontos críticos, como junções, cruzamentos e rotatórias.

 

Logo que entram na cidade, os policiais dão de cara com o trânsito, mas o que se dá a partir dali é uma verdadeira demonstração de habilidade ao volante e de organização da força policial londrina.

Depois de se livrar do tráfego, os policiais seguem por uma das vias principais de Londres, cheia de comércios e pessoas nas calçadas para a hora do almoço – atingindo velocidades superiores 100 km/h nas ruas mais livres. Em determinado momento, dois policiais de motocicleta ajudam a abrir caminho, seguindo à frente e alertando os carros e pedestres. Uma das motos acaba fundindo o motor no processo – e o policial que estava com ela decidiu deixar a equipe de motociclistas dias depois do ocorrido.

Percorrendo as ruas de Londres a uma velocidade média de 100 km/h, os policiais conseguiram levar o fígado ao hospital a tempo – às 12:25, na verdade, com cinco minutos de respiro. Tempo suficiente para retirar o órgão do carro e levá-lo até os médicos.

Foi só então que os policiais souberam que o procedimento de transplante já havia começado, e que a equipe médica estava contando com o órgão a tempo. Caso o órgão não estivesse no hospital até as 12:30, a operação teria sido abortada, pois não havia chance de sobrevivência para a paciente. Dá para ver um dos policiais desabando contra a lataria do carro, perceptivelmente exausto e aliviado pela missão cumprida.

O vídeo com todo o trajeto foi guardado pela polícia. Até algum tempo atrás, ele estava disponível na íntegra no Youtube, mas hoje em dia só está disponível uma versão editada, quase completa, com narração e música.

Esta versão foi  apresentada na TV em 1996 programa Police Camera Action! em um episódio especial – que também mostra a mulher que recebeu o fígado, Aliza Hillel, de origem israelense, assistindo às imagens pela primeira vez. Ela diz que será eternamente grata, pois sabe que sem o esforço daqueles policiais, não estaria entre nós.

A Liver Run também foi tema de um episódio do programa For the Love of Cars, que em 2014 recriou um dos carros usados na operação com base em um SD1 encontrado em um celeiro. Os apresentadores Ant Anstead e Philip Glenister tentaram recriar a Liver Run escoltados pela Polícia Metropolitana, mas o melhor que conseguiram foi pouco mais de uma hora.

O episódio com o fígado ajudou a colocar o Rover SD1 entre os carros britânicos mais emblemáticos de todos os tempos. Um deles foi preservado – o carro reserva, que também levava a câmera – e é mantido pelo departamento policial de Londres. O que é uma honra para estes carros, já que geralmente viaturas policiais aposentadas vão a leilão ou são destruídas.