Qualquer um que entenda pelo menos um pouquinho sobre carros japoneses (ou tenha jogado bastante Gran Turismo) deve saber que o Toyota Celica e o Toyota Supra são dois carros diferentes. O primeiro foi um cupê que nasceu com tração traseira, depois ganhou tração integral e motor quatro-cilindros turbo e venceu no WRC, e depois se tornou um esportivo estiloso de tração dianteira. O segundo é um clássico moderno, com um seis-em-linha biturbo de 300 cv, visual para lá de atraente e história no cinema e nos games.
Mas nem todo mundo sabe que, lá nos anos 1980, o Supra era uma versão do Celica: o Celica Supra (que outro nome você esperava?), único da família com um seis-em-linha embaixo do capô. O motor era aspirado e a tração, traseira — a receita para um clássico, se querem saber. E os caras do canal Everyday Driver, que já apareceram aqui algumas vezes com seus vídeos, foram dar uma volta em um exemplar impecável que tem uma bela história, para nos mostrar como era o Supra das antigas.
E como era? Bem, estamos falando de um esportivo japonês dos anos 80. Sabe quando você se pega pensando “poxa, seria bacana ter um Gol GTI” (ou um Uno Turbo, um Kadett GSi, um Escort XR3 ou qualquer coisa do gênero), mesmo sabendo que carros comuns de hoje são mais velozes que esportivos da época? É mais ou menos a mesma coisa com o Celica Supra.
Enquanto todos os outros Celica tinham motores de quatro cilindros em linha, a versão Supra era dotada de um seis-em-linha de 2,8 litros e 12 válvulas com comando duplo no cabeçote. O chamado 5M-GE era alimentado por um sistema de injeção Bosch L-Jetronic e entregava 145 cv a 5.200 rpm e 21,4 mkgf de torque a 4.400 rpm. Não parece muito, mas era mais do que o suficiente para que, há 34 anos (ele chegou ao mercado em dezembro de 1981), o Celica Supra fosse, sim, considerado um esportivo.
Ele ia de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos, cumpria o quarto-de-milha em 17 segundos a 130 km/h, e tinha velocidade máxima de 201 km/h. Não é o que se considera rápido nos dias de hoje — especialmente com as relações longas do câmbio, que fazem você esperar um pouco mais para usar a potência escondida no topo da faixa de rotações. Contudo, nem só de desempenho desmedido vive um bom esportivo, e o pacote do Celica Supra tinha muito mais a oferecer.
A começar pelas outras modificações em relação ao Celica comum. No departamento estético, a dianteira mais longa e baixa, com faróis escamoteáveis e linhas retas, já torna o carro instantaneamente mais desejável. O interior tinha bancos muito envolventes (e bem bonitos), ergonomia de primeira e muitos botões físicos para controlar as funções do carro — para fãs de automóveis oitentistas, não fica melhor que isso.
E tudo era muito analógico e orgânico: o para-brisa próximo do rosto, você sente as marchas engrenando ao mover o câmbio, o volante é pesado e comunicativo, apesar da relação não muito direta. A suspensão é firme na medida certa, e permite atacar as curvas com confiança e sem muita rolagem da carroceria. Diferentemente de uma potência astronômica, boa dinâmica é algo obrigatório em qualquer bom esportivo.
E foi por isso que o dono, um jovem de 18 anos chamado Devin, gosta tanto de seu Celica Supra. O carro foi comprado por ele e seu pai há quatro ano, e os dois pagaram US$ 1.600 por ele, ou quase R$ 5.400 em conversão direta. O objetivo? Que os dois restaurassem o carro juntos, e Devin aprendesse sobre carros e mecânica com o pai.
Apesar de não ser muito potente ou veloz, o Celica Supra é um belo primeiro carro. E um modelo histórico, pois foi o primeiro de uma adorada linhagem de esportivos nipônicos — e, como é dito no vídeo, deu a Devin a certeza de que, em sua vida, ele só terá carros de que gostar. Que assim seja a todos nós.