Você já conhece a receita clássica de um bom hot rod americano: carroceria da década de 1930, motor V8 preparado e barulhento, cores vibrantes e rodas expostas. Mas o que acontece se você juntar influências da Fórmula Indy e da Fórmula 1 da década de 1950 à mistura? O Troy Custom Roadster, de 1959, é a resposta para esta pergunta.
O carro é uma criação de Wally Troy, que ficou famoso por ser o primeiro concessionário Jaguar do estado de Illinois, nos EUA. Depois de vender, em sua loja na cidade de Springfield, carros estonteantes como o XK120, Troy decidiu que era hora de criar seu próprio automóvel. Ele já havia feito algo parecido antes: em meados da década de 1950, a Wally’s Garage conseguiu emplacar alguns carros customizados, como o Troy Special, um Oldsmobile 1950.
Fotos: Tim Riordan/Kustomrama
Foi então que nasceu o Troy Custom Roadster. Chamá-lo de um mero hot rod é praticamente um eufemismo. Ele tem um V8 na dianteira e rodas expostas, claro, mas é impossível olhar para ele e não lembrar dos monopostos de competição daquela época.
A carroceria em forma de “charuto” e as rodas expostas deixam isto bem evidente. Eram características comuns aos carros que disputavam os grand prix da época, como o Mercedes-Benz W196 que dominou a Fórmula 1 em 1954 e 1955, com Sir Stirling Moss e Juan Manuel Fangio ao volante; e aos Indy Roadsters que corriam na época.
Os Indy Roadsters eram os carros que dominavam as 500 Milhas de Indianápolis nos anos 1950 e 1960. Eram carros pequenos, com motor dianteiro, carroceria baixa e rodas expostas, feitos com poucos recursos e muitos experimentos técnicos, como injeção mecânica de combustível e motor de modo a concentrar mais peso do lado esquerdo.
O Troy Custom Roadster foi projetado do zero por Wally – do chassi tubular aos painéis da carroceria de alumínio, que foram moldados a marretadas antes de serem encaixados à estrutura. Esteticamente, o carro é um monoposto de corrida para as ruas. Suas formas deixam evidente como a aerodinâmica não era uma preocupação naquela época – em nome da leveza, os hot rods perdiam teto, para-lamas e tudo o que não fosse essencial ou obrigatório para rodar nas ruas. Neste carro em especial, notamos também certa influência do design futurista da época – repare que o para-brisa de acrílico forma uma bolha dupla de acrílico, algo que podia ser visto também no Lincoln Futura, de 1955.
Na dianteira ficava um motor V8 Chevrolet small block, provavelmente oriundo de um Corvette. É o que se sabe, pois quando o carro foi redescoberto, em 1975, o motor original não estava no cofre. Em seu lugar, foi instalado um V8 350 com dois carburadores de corpo quádruplo, acoplado a uma transmissão manual de quatro marchas. Esta leva a força para as rodas traseiras através de um diferencial Ford de 9 polegadas. Os freios são a disco da Chevrolet na dianteira, com tambores Ford na traseira. Já a suspensão trazia braços triangulares sobrepostos na dianteira e um eixo rígido na traseira, com feixes de molas transversais nos dois eixos.
A história de seus primeiros anos é um tanto misteriosa. Sabe-se que o carro apareceu na capa da revista Hot Rod em 1960. A tradicional publicação americana o comparou a um monoposto italiano, exceto que com dois lugares e elementos típicos dos hot rods clássicos: estepe sobre a tampa traseira, faróis destacados da carroceria, saídas de escape cromadas nas laterais e itens de acabamento cromados, como um charmoso para-choque traseiro, as capas dos filtros de ar do motor e as rodas do tipo knock off, que exigiam o uso de um martelo forrado com couro para remover as porcas dos cubos.
Depois disto, o carro saiu de cena até aparecer quinze anos depois, sem o motor, e comprado por seu segundo dono. O homem ficou décadas com o carro, e realizou uma restauração completa em meados da década de 1990. Em 2012, o carro foi anunciado no eBay, e vendido pela segunda vez.
Agora, é a agência Mecum quem oferece o carro em um leilão que acontecerá no Texas, entre os dias 6 e 8 de abril. O carro está quase exatamente igual ao que era quando foi restaurado pela primeira vez – exceto por dois detalhes: as rodas, que eram vermelhas e agora foram pintadas na cor original, e as canaletas das costuras dos bancos, que também eram vermelhas e agora são pretas.
Infelizmente, não parece haver registros de época do carro, o que impossibilita determinar o nível exato de originalidade da restauração. E o fato de seu criador ter morrido em 2000, dezessete anos atrás, também não ajuda. Dito isto, trata-se daquele que é certamente um dos hot rods mais europeus que já vimos – e também deve ser bem rápido. A Mecum não divulga o valor estimado para o Troy Custom Roadster.