Foto: Darcy Vieira
Preston Tucker foi um visionário – o homem que, no fim da década de 1940, quis enfrentar as gigantes de Detroit com um carro muito mais moderno e seguro do que qualquer outra coisa que circulasse nas ruas na época. O resultado foi o Tucker 48, um dos automóveis mais inovadores já feitos. Tão inovador, na verdade, que mostrou-se inviável. E acabou levando Preston Tucker à ruína. Mas ele, decidido a seguir com o sonho, acabou vindo para o Brasil, onde pretendia fabricar um novo automóvel: o Tucker Carioca – um esportivo que tinha visual de vanguarda e muito potencial para agradar aos entusiastas.
Preston Tucker morreu de pneumonia, causada por um câncer de pulmão, em 1956, aos 53 anos de idade. Ele nunca pode colocar seu plano em prática. Mas agora, mais de seis décadas depois, o Tucker Carioca pode finalmente se tornar realidade.
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Conforme já contamos no FlatOut, o Tucker 48 era um carro impressionante em diversos aspectos. O problema é que seu desenvolvimento mostrou-se tão demorado e dispendioso que Preston Tucker acabou criando uma situação desesperadora para si mesmo – a ponto de ser processaro por fraude. Apenas 51 carros foram feitos entre 1948 e 1949 antes que a Tucker cessasse suas atividades, e o processo acabou arquivado. Mas Preston Tucker sabia que não conseguiria se reerguer nos EUA, onde sua reputação estava manchada. E assim, já no início de 1951, decidiu mudar de ares e veio para o Brasil.
Contamos a história neste post, mas aqui vai um refresco: Preston Tucker, na época, já havia sido diagnosticado com câncer de pulmão e estava bastante debilitado. Na época o almirante Lúcio Meira, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas como responsável pela implementação da indústria automotiva no Brasil, havia ido para os EUA à procura de potenciais investidores, e um deles foi Preston Tucker. Acredita-se, porém, que uma das motivações para a vinda de Tucker ao Brasil foi um tratamento experimental para seu câncer, sem o uso de radioterapia ou remédios.
Ainda que, provavelmente, verdade a respeito desta questão jamais possa ser esclarecida, é fato que Preston Tucker realmente pretendia fabricar automóveis no Brasil. O Tucker Carioca foi concebido por Preston e pelo projetista Alexis De Sakhnoffski, famoso pelos carros aerodinâmicos que desenhou no início do século 20. De certa forma ele até lembrava o Tucker 48, mas era um carro menor e de apelo esportivo. Como o Leo contou no post que fizemos sobre o Carioca e supostos esboços originais, o Carioca seria um carro muito mais simples que o Tucker 48, porém, igualmente inovador.
Os para-lamas seriam como os de moto, fáceis de remover, pois Preston dizia que a sujeira acumulada no interior dos para-lamas comuns poderia pesar até cinco quilos, o que afetaria o desempenho do carro. Os para-lamas dianteiros moveriam-se junto com as rodas, como no projeto inicial do 48 Torpedo. Ele também teria o conjunto de três faróis, sendo um central, mas ao contrário do sedã Torpedo, o farol “ciclope” seria fixo. Por dentro, acomodaria quatro ocupantes e o painel seria compacto com um único instrumento agrupando o amperímetro, indicador de nível de combustível, velocímetro, manômetro do óleo e termômetro do motor – exatamente como o do Torpedo.
Preston conseguira salvar seu maquinário e ferramentas, por isso o Carioca seria construído com o maior número possível de peças já existentes. O motor permaneceria sobre o eixo traseiro, mas em vez de um gigantesco flat-6, ele usaria um flat-4 de 100 cv que levaria o carro aos 160 km/h e permitiria percorrer até 11 quilômetros com um litro de gasolina.
Preston Tucker acreditava que, no Brasil, poderia conquistar clientes que sonhavam com carros das Três Grandes, mas não tinham condições de comprá-los. Com os incentivos do presidente recém-eleito Juscelino Kubitschek – que era amigo pessoal de Tucker – a história do Carioca poderia ter sido diferente, mas a morte de seu criador acabou enterrando qualquer possibilidade de isto acontecer.
Agora, porém, o construtor de hot rods Rob Ida, de Nova Jersey, pretende realizar o sonho do Tucker Carioca. Para isto ele conta com o apoio e a ajuda de Sean Tucker, bisneto de Preston Tucker e engenheiro automotivo. Ambos estão envolvidos com a ideia desde 2011 – quando ainda existia o Jalopnik Brasil, para se ter ideia.
Após envolver-se em projetos de restauração de exemplares do Tucker 48, Rob Ida parece estar pronto para levar adiante o projeto de construção do Tucker Carioca. Desde o fim de novembro ele posta em suas redes sociais alguns insights do trabalho, incluindo desenhos técnicos pelo colega Thom Taylor para definir as dimensões gerais.
Os detalhes técnicos do carro ainda não foram definidos, mas é quase certo que o Tucker Carioca utilizará um motor flat-4 Franklin 4AC-199/O-200, de três litros e 102 cv. O que, considerando que o peso previsto para o Carioca era de menos de 900 kg, nos soa apropriado para a proposta do carro. Rob Ida e Sean Tucker só precisam encontrar um motor.
Rob Ida e seu pai, Bob, trabalharam recentemente na fabricação de uma réplica do Tucker Torpedo, o conceito que deu origem ao Tucker 48, utilizando desenhos e fotos como referência e passando os dados para o computador através de programas como o CAD e o Solidworks. Agora, o mesmo processo será feito com o Tucker Carioca.
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Não há uma data prevista para a conclusão, e ainda é muito tempo para falar em produção em série, mesmo que limitada. É provável que o Tucker Carioca de Rob Ida seja do tipo one-off, mas isto não faz tanta diferença agora. O que importa é que o Tucker brasileiro, que jamais passou de um desenho em capas de revista e projeções, poderá finalmente rodar. E, quando isto acontecer, queremos estar aqui para ver.
Via KBB Brasil