Você não sabe qual é a desse cara, mas ele continua a te oferecer dinheiro para comprar supercarros — sempre te fazendo escolher um entre dois ou mais modelos. Primeiro, foi uma seleção de supercarros da Ferrari. Depois, uma árdua decisão entre um BMW M1 e uma Ferrari Testarossa, ambos, quase novos. Agora, ele está de volta, e a briga é entre dois touros.
É curioso pensar que, enquanto muitos de nós comemoramos sempre que vimos algum carro exótico ou muito admirado na rua ou em um estacionamento, há quem lide com supercarros raríssimos e clássicos de valor inestimável todos os dias. Os caras da concessionária Velocity Motorcars, por exemplo, que fica Nashville, Tennessee: o showroom, como de toda loja de carros de luxo, é repleto de sonhos sobre rodas. E os funcionários têm que lidar com eles todos os dias. Deve ser duro.
Não, não temos nenhuma ligação especial com os caras nem nada disso. Acontece que, por acaso, eles têm dois clássicos touros italianos com motor V12 em seu acervo, e a gente quer saber com qual dos dois você ficaria. Vamos apresentar os concorrentes:
Lamborghini Countach LP400S 1979
Já falamos muito sobre o Countach aqui no FlatOut — temos até uma lista com dez excelentes razões para venerá-lo. Afinal, foi o Countach que definiu o que seria todo Lamborghini dali para a frente: um carro veloz e de visual marcante, claro, mas com ênfase especial no perfil baixo, nas linhas agressivas e no perfil em formato de cunha.
Lançado em 1974, o Countach foi projetado por Marcello Gandini, que deu ao esportivo características já vistas em conceitos como o Alfa Romeo Carabo e o Bertone Zero. Isto explica a profusão de linhas retas, a altura extremamente reduzida e preocupação muito maior com aerodinâmica e estética do que com praticidade (nunca queira fazer uma baliza em um desses). E, mesmo com todas estas… “características” especiais, o Countach era um carro incrível.
Para começar, ele tinha o belo V12 de quatro litros (na verdade, 3.929 cm³) e 375 cv vindo do Miura, sendo capaz de atingir insanos 309 km/h e acelerar até os 100 km/h em 5,4 segundos — claro, hoje há hot hatches que chegam perto disso com oito cilindros a menos, mas há 40 anos estes números eram realmente insanos.
Isto porque a gente está falando do Countach dos anos 1970. Ao longo dos dezessete anos nos quais foi fabricado (a Lamborghini o descontinuou em 1990), o Countach passou por diversas mudanças — motor mais potente, interior mais refinado e, claro, visual cada vez menos discreto — com para-lamas alargados e aparatos aerodinâmicos em profusão, o Countach acabou, ao lado da Ferrari Testarossa, ajudando a definir a estética dos superesportivos oitentistas.
O exemplar que está na Velocity Motorcars é um Lamborghini Countach LP400S, fabricado em 1979. Isto significa que ele é equipado com um V12 um pouco menos potente, de 355 cv, e levava 5,9 segundos para chegar aos 100 km/h, com máxima de 290 km/h. Claro, ele andava um pouco menos, mas foi com o LP400S que o Countach adquiriu o visual icônico que manteve até o fim de sua existência.
Entre o final de 1978 e 1982, três séries distintas do Countach LP400S. A primeira delas, que foi produzida até 1979, é a mais rara: 50 exemplares foram fabricados, todos pintados de vermelho com rodas Campagnolo Bravo, suspensão mais baixa e painel de instrumentos com mostradores pequenos, da Stewart. Este é um deles — para ser mais exato, o nº 28 de acordo com a loja.
Eles ainda dizem que o carro tem 18 mil milhas (cerca de 29 mil km) marcados no hodômetro. Antes de completar 10.000 km, o Countach foi repintado e passou por uma revisão mecânica completa. Há marcas de desgaste no interior, mais notavelmente na manopla da alavanca de câmbio, mas nada que comprometa o aspecto geral da cabine. Pelo contrário.
No entanto, sendo um raro exemplar da primeira leva dos Countach LP400S, este carro cobra seu preço. Não se trata de um leilão: assinando um cheque de US$ 899.995, ou cerca de R$ 3,61 milhão, em conversão direta.
Mas você lembra que estávamos falando de dois carros?
Lamborghini Diablo VT 1994
Pois o segundo carro é nada menos que o sucessor do Countach. Quando seu desenvolvimento começou, em 1985, ainda não se sabia como o carro seria — seu nome, seu design e sua mecânica ainda estavam em aberto. Que seria um superesportivo com motor V12 central-traseiro e carroceria em forma de cunha, isto era óbvio. Havia também uma exigência no briefing: o carro deveria ter velocidade máxima superior aos 315 km/h.
O Diablo não teve o mesmo impacto cultural que o Countach, mas também foi um ícone. No início da década de 1990, o Countach já não tinha mais condições de continuar em linha e a demanda pelo SUV LM002, o Lambo do Rambo (leia mais sobre ele aqui), não duraria para sempre. Assim, o que a Lamborghini fez foi criar um supercarro mais moderno e competente, que marcou presença em diversos pôsteres em paredes e jogos de videogame — especialmente a série Need for Speed. Ele não revolucionou, mas manteve o nível estabelecido por seu antecessor com maestria.
Tudo isto, para começar, graças ao V12 de 5,7 litros e 500 cv da primeira versão. O motor tinha injeção eletrônica multiponto, comando duplo nos cabeçotes e 48 válvulas — suficiente para entregar 499 cv a 7.000 rpm e 59,1 mkgf de torque a 5.200 rpm. O resultado era um carro capaz de chegar aos 100 km/h em 4,5 segundos e tinha velocidade máxima de 325 km/h — 10 km/h mais veloz que a meta original.
Além disso, o Diablo contava com mais itens de conforto e conveniência do que o mais equipado dos Countach: bancos e volante ajustáveis em altura e distância, vidros elétricos e som Alpine. A partir de 1993, foram incorporados um sistema de direção hidráulica e freios ABS.
O carro à venda na concessionária é um Diablo VT 1994. Como contamos neste post, “VT” significava viscous traction, o que queria dizer que o Diablo VT tinha um diferencial central viscoso e tração integral. Quer dizer, até 25% do torque eram levados para as rodas dianteiras, melhorando bastante a estabilidade do superesportivo nas curvas.
De acordo com a loja, são apenas 20.700 milhas, ou pouco mais de 33.300 km, no hodômetro — o carro é absolutamente original, por dentro e por fora, e acompanha todos os manuais e documentos. Até mesmo o adesivo na janela, especificando os três opcionais (CD Player, acabamento de couro nos bancos e asa traseira) continua no lugar.
O motor era exatamente o mesmo V12 de 499 cv, mas o Diablo VT, além da tração integral, tinha outras novidaes: entradas de ar no para-choque para melhorar o arrefecimento dos freios, tomadas maiores na traseira, interior com um novo painel, amortecedores ajustáveis, novas pinças de freio e direção assistida.
O Diablo VT não é um carro tão raro quanto o Countach LP400S — cerca de 400 exemplares foram produzidos. Claro, ainda é um carro bastante especial, mas o caso é que ele custa menos (bem menos) que o antecessor, mesmo que ande mais: a loja quer US$ 249.995, ou cerca de R$ 1 milhão em conversão direta. E agora?
Parece óbvio a princípio, mas lembre-se: antes de ir pelo mais barato ou pelo mais icônico, lembre-se que você só vai poder escolher um, e que não há como comprar o Diablo para ficar com a diferença entre o preço dos dois. Tire um tempo para pensar e deixe sua decisão nos comentários!