Fala galera, meu nome é Luiz Sergio, tenho 28 anos e sou administrador de restaurante. Moro no Rio de Janeiro, mas fico um pouco distante do meu Project Car. Trata-se de um Fiat Palio 2008 carinhosamente batizado de Nunka. Vou contar essa história com a ajuda de meus amigos Antonio e William que sabem mais do carro do que eu (rsrsrsrs), pois o carro fica em Brasília, onde eles moram.
Como tudo começou
A história desse Project Car, assim como grande parte do seu desenvolvimento, é feita a seis mãos. Em ordem o dono do carro já apresentado, eu, William que estou escrevendo essa parte (porque sou apaixonado por Fiat e o especialista em Palio da turma) e o Antonio que, alem de revisor dos nossos textos, é o catálogo humano de datas e acontecimentos importantes.
Tudo começou em 2007, bem antes do Palio existir. Nessa época, eramos estudantes de engenharia mecânica no CEFET/RJ e tínhamos em comum a paixão por um projeto, chamado Baja SAE. Pra quem acompanha o FlatOut já sabe bem do que estou falando. Mas, em resumo, é um projeto estudantil de um carro off-road monoposto, que compete em 2 etapas anuais com outros semelhantes, também fabricados por universitários. Naquela época eu era o capitão da equipe e, dentre muitas seleções de integrantes naquele ano, que em especial foi o melhor, ingressaram o Antonio e o Luiz Sergio (doravante conhecido pela alcunha de Luizão).
Não demorou muito, começamos a falar de carro e acompanhar track days, naquela época só como espectadores do saudoso autódromo de Jacarepaguá (que Deus o tenha e que castigue o Cesar Maia quando for a hora), já que a grana era muuuuito curta. Na foto abaixo, a glamour de comer um pão com mortadela pra ter dinheiro pra entrada no evento.
Naquela época nem pensávamos em que um dia, alguem teria um track car, no máximo faziamos conta pra ver em quantos anos daria pra participar num evento. Pudera, a nossa “frota” era composta do meu palio 1.0 16v com colchões de ar no lugar das molas, o Antonio com o Fusca Itamar, ainda sem freios e pneus diagonais e o Luizão com um Celta VHC 2005 rodando com GNV.
O apelido “Nunka”
Em 2008 devido a uma fatalidade esse Celta encontrou um poste na rua Três Rios e virou ferro velho. Graças a Deus ninguém se machucou. O substituito para ele foi um incrível Palio G1 Fiasa 1.0 8v, noooovo demais, porém com GNV, que matou toda a “performace” dos 61cv dele. Lembro como se fosse hoje dos xingamentos que o carro recebia a cada retomada. O inevitavel aconteceu, depois de alguns meses o Fiat popular foi vendido e a frase “eu nunca mais vou ter um Palio” ecoou no tempo e ficou eternizada no nome do novo amigo. Anos depois, esse foi o motivo do apelido do palio “Eu nunca” ou “Nunka” para os íntimos.
Avançando um pouco o tempo, devido a um empreendimento o dono do bólido teve que abandonar a faculdade de engenharia e ingressou em gastronomia, área mais afim do seu negócio. Porém a nossa amizade não acabou. Assim, mesmo depois que eu e Antonio mudamos para Brasília, continuamos nos falando e, como a lombriga por velocidade mesmo adormecida continuava nos atentando, logo arrumamos um Track Day no saudoso autódromo de Brasília (que Deus o tenha e que castigue o Agnelo Queiroz quando for a hora) para assistir. Por coincidência, nesse evento, em 2014, um Fusion preto estava na pista e, para atentar o juízo do amigo do RJ, enviamos algumas fotos do carro no evento. Não demorou muito e a resposta foi: “Vou levar o Fusion pra Brasília no próximo TD”. Na hora não acreditamos, mas, em julho de 2014, ajudado por uma cegonha de carros que veio do RJ, lá estava o Ford, que acelerou bravamente nos 2 dias de Track Day.
O primeiro Track Day (Fusion)
Esse TD foi maravilhoso. O carro desceu da cegonha ainda com pneus radiais originais. O hodômetro marcava cerca de 5.000 km. Levamos o carro para uma loja de pneus e trocamos os pneus 18” por slicks da mesma medida. Rodas balanceadas e voltamos ao autódromo. O briefing foi emocionante. Lembro que fique dentro do carro na fila da vistoria, escutando Linkin Park e conversando com o Loroza, outro amigo que tinha vindo junto para conhecer BSB.
Como era de se esperar, os tempos desse primeiro evento não foram expressivos, devido à falta de “braço” na pista (vide foto de uma bela freada dentro da curva), mas a zueira e a diversão foram muito boas.
Pronto! Se a lombriga estava lá quase morta, bastaram dois dias de pista para os planos de vir em outras edições se concretizarem. Infelizmente o sedã de rua não gostou muito das pistas e cobrou um preço caro: dois discos de freio, quatro pastilhas e uma conta cara na semana seguinte. Foi o momento que percebemos que além da distância, o custo de manutenção e o risco não compensariam usar o carro de rua na pista.
A compra do “Nunka”
Luizão estava empolgado com aqueles dois dias, então decidiu procurar algum carro para transformar em Track Car. Vimos anúncios diversos, mas três chamaram atenção: um gol 1.8T que estava no RJ e eu conhecia o dono, mas que foi vendido antes mesmo de ser visto, um Fiesta 1.6 que tinha o chassi remarcado e estava num preço excelente, mas também já vendido e um Palio 2008 1.6 16v “Rally” aqui de Brasília.
Mandei uma mensagem pro Luizão com o anuncio do carro e perguntei se ele queria que fosse ver. Logo gostou do Fiat e marquei com o dono anterior para conhecer o brinquedo. Depois de quase uma hora de desencontros (Eu tinha poucos dias de BSB e não sabia andar aqui), marcamos em uma quadra da asa norte e lá fui eu, seguindo o Waze.
De longe avistei o branquinho. Estava com rodas de ferro 14” e pneus Yokohama de rali. O antigo dono usava ele como carro de rua, então dentro dele tinha cadeirinha de bebe, pertences pessoais, som com 6X9 e tapetes de borracha. Como em casa tivemos oito Palios, não foi muito difícil perceber quão o carro estava íntegro de motor e lata. Na época ele estava com escapamento original, com exceção do abafador reto na ponta, suspensão com molas originais e amortecedores TAG.
Pedi para dar uma volta e logo percebi que o carrinho era esperto. O motor SEVEL 1.6 16v, que não era original ao modelo G4, estava perfeito e era bem elástico. O vendedor me falou que o carro tinha um “chip” e que os bancos concha, originais tinham sido retirados junto aos cintos de cinco pontos. Apesar dos bancos originais de tecido e alguns lascados na gaiola do carro, a base era perfeita pra um race car.
Terminei a “vistoria”, negociei valores e liguei pro Luizão. Acho que eu estava tão empolgado com o carro que convenci ele a comprar o brinquedo. Uma semana depois, arrumamos uma vaga na garagem do Antonio e ele veio morar aqui.
O “Nunka”
A TED Racing, conhecida no mundo de rali, teve uma parceria com a Fiat onde ela recebia Palios originais e modificava, com intuito de venda para pessoas que quisessem participar de eventos. Não sei muito da regra, mas na categoria que o Nunka corria só eram permitidos motores até 1600 cm³ e poucas, ou nenhuma, modificação na sua potência.
Era logicamente obrigatório o uso de uma gaiola de proteção, homologada pela CBA e a suspensão era modificada, se eu não me engano, com amortecedores Bilstein e molas Koni. Pelo texto acima, já deu para perceber que o Nunka já havia perdido esse “chão”. O carrinho contava também com bancos Lico e cintos de cinco pontos, também subtraídos do mesmo, além de uma caixa de marchas modificada.
Essa caixa era basicamente a mesma do 1.6 16v, com o diferencial original encurtado (original: 3,765 / rali: 3,909) e quinta encurtada (original: 0,872 / rali: 0,971), fazendo o pobre Sevel gritar em qualquer reta acima de 120 km/h. Já o motor era o Step B ou Corsa Lunga, que saiu em sua maioria nos Brava mais modernos. A grande diferença para o motor que saiu nos Palio eram os pistões menores e o curso maior, já que esse motor originalmente era muito girador e com fama de falta de torque em baixa. A ficha técnica é a seguinte:
- Categoria N2 – 1401cc à 1600cc
- Carro | FIAT PALIO | 2 portas
- Motor | 1.6 cc | 16 válvulas | Original | 112cv
- Tração | 4×2 dianteira
- Eletrônica | Original
- Suspensão | Ted Racing
- Pneus | Yokohama
- Rodas | Liga leve FIAT | aro 14
- Bancos | Sparco
- Cintos | Sparco
- Caixa | 5 marchas | Original
- Combustível | Gasolina
- Santantônio | Cromo Molibidênio
Depois de muito procurar, descobrimos que o motor que lá está, apesar de ser um Step B, já havia tido o coletor de admissão substituído pelo do Step A, o que não é ruim, levando em consideração a borboleta maior do segundo. Também descobrimos que esse motor já tinha sido retificado. Porém, ao abri-lo, constatamos que continuava nas medidas originais, somente com novos pistões, casquilhos e anéis.
Na compra do carro vieram de brinde um jogo de rodas deliga leve 14” originais com pneus 195 70 R14, o jogo de rodas de ferro 14 com pneus Yokohama de rali e um jogo de amortecedores Fênix estourados.
Uma ou duas semanas antes do primeiro Track Day do Nunka paramos o Fiat num posto para trocar óleo e filtros. Como o carro era usado domesticamente, até o filtro de ar era original. Assim que o carro subiu no elevador constatamos o histórico de rali dele: placas de poeira e lama seca caiam do assoalho.
Óleo trocado, estacionamos o Nunka em frente à loja de bolos para trocar as rodas pelas de liga leve, com os pneus radiais montados. Estava impraticável rodar com ele na cidade, mesmo suave, com os pneus de rali. Está certo que os 195/70 não eram um primor de estabilidade, mas…
Ali pudemos ver como o Palio chamava a atenção dos populares. Todos paravam para ver o interior “gaiolado” e perguntavam se o carro era “di currida”.
O Primeiro Track Day (Nunka)
Track Day marcado, óleo trocado, pneus radiais: receita do sucesso. Luizão entrou num avião no Galeão com o bicho carpinteiro girando na redline. Antonio levou o Nunka no aeroporto de Brasília para finalmente ser conhecido pelo dono. Luizão, todo empolgado com o carro, dava leves esticadas para conhecer o motor. Apesar dos avisos do copiloto, entrou forte de 2ª em um retorno e o Palio fez questão de apresenta-lo ao que viria a ser seu amigo íntimo: o contra esterço.
Já no autódromo o carro continuava chamando atenção. Todos admiravam a qualidade da gaiola da Ted Racing, e alimentavam o capetinha no ombro do Luizão, dizendo que o carro “merecia ser mexido”.
O desempenho do Nunka na pista ficou abaixo do Fusion, óbvio (2:59 e 2:44, respectivamente). O motor era praticamente original ainda, e ele estava calçando pneus radiais que pareciam andaimes. O asfalto de BSB dobrava os pneus e fazia o carro soltar a traseira. Porém, enquanto o Fusion dava 4 ou 5 voltas antes de o conversor de torque abrir o bico e a chavinha de boca aparecer no painel, o Nunka dava dez voltas tranquilo.
Nossa percepção foi de um carro muito bem feito, com um chão excelente (apesar de alto), e que sobrava carro para pouco motor. O Nunka enchia 140 km/h no fim da reta de Brasília, e desenvolvia bem nas saídas de curva. Era necessário aliviar o pé para tracionar, o que deixou claro que faltava pneu também (lógico).
Desse TD saímos com um projeto para os próximos: escapamento, filtro, CAI, pneus slick e suspensão regulável.
Bom, esse foi o primeiro capítulo da história do Nunka Racing Team e do carro que já é famoso nos grupos de Whatsapp e Track Days de Bsb e Gyn. Continuem acompanhando os próximos textos dessa história que ainda vai envolver escape gigante, muito barulho, pneus que mais pareciam uma esteira de trator, dedos quase perdidos e etc.
Até breve!
Por Luiz Sergio Costa, Project Cars #288