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Uma breve história de (quase) todos os hot hatches da Citroën – parte final

Há poucos dias, começamos a contar aqui no FlatOut a história de quase todos os hot hatches da Citroën. Começou lá nos anos 80, com uma versão apimentada do Citroën Visa, e ao longo dos anos 1990 a fabricante francesa lançou alguns dos hot hatches mais curiosos já feitos – como o pequeno AX GTI, um compacto com menos de 100 cv e era o exemplo perfeito de que menos é mais; e o BX 4TC, que era um especial de homologação do Grupo B e acabou sendo comprado de volta pela fabricante por problemas de confiabilidade.

Em direção aos anos 2000, a Citroën passou a focar-se menos no exotismo e mais no desempenho bruto – seus hot hatches ficaram mais “normais”, mas jamais haviam sido tão potentes. Com exceção do último deles, o DS3, que trouxe de volta a ousadia no visual e um motor turbo com tecnologia alemã.

Vamos, então, à segunda e última parte da história dos hot hatches da Citroën.

 

Citroën Saxo VTS

Boa parte dos Citroën da lançados os anos 80, 90 e 2000 compartilhavam plataforma e mecânica com carros da Peugeot. O Saxo, lançado em 1996, deixava explícito o parentesco: ele era praticamente igual a um Peugeot 106, exceto pelo formato dos faróis e da grade, e do posicionamento da placa na traseira – na tampa do porta-malas, e não no para-choque. Ele também tinha linhas mais arredondadas no interior, em linha com a identidade visual da Citroën na época.

Como quase gêmeo do Peugeot 106, o Saxo também ganhou versões esportivas parecidas. A primeira delas foi o Citroën Saxo VTR, equipado com um motor 1.6 8v de 90 cv a 5.600 rpm e 14 mkgf de torque a 3.000 rpm. Pesando 920 kg, o Saxo VTR ia de zero a 100 km/h em dez segundos, e tinha velocidade máxima de 187 km/h. Não eram números alucinantes, mas pocket rocket tinha a seu favor a experiência dos franceses com carros de tração dianteira – e o fato de a Peugeot já ter explorado bastante o potencial da plataforma com o 106 Rallye, lançado em 1994.

Em 1999, com sua primeira reestilização, o Saxo VTR ganhou 8 cv no motor, o que diminuiu seu tempo de zero a 100 km/h para 9,5 segundos e aumentou sua velocidade máxima para 193 km/h. Mas a melhor versão do Saxo foi lançada em 1997: o Saxo VTS 16v, que como o nome dizia tinha um cabeçote de 16 válvulas no motor 1.6.

Com 120 cv e 14,8 mkgf, o Saxo VTS 16v era um pouco mais pesado, com 935 kg. Mas a potência extra compensou a ligeira engorda: ele ia de zero a 100 km/h em 7,7 segundos, com máxima de 205 km/h. O visual de todas as versões era bem parecido, com para-lamas ligeiramente alargadas, rodas de 14 polegadas com pneus 185/55, para-choques na cor da carroceria com borrachões pretos e um spoiler no para-choque dianteiro – chega a ser difícil distingui-las só de olhar.

 

Citroën Xsara

A Citroën decidiu adotar, na segunda metade da década de 1990, uma nova nomenclatura para seus esportivos – depois do Saxo, foi a vez de o Xsara adotar a sigla VTS.

O Citroën Xsara era o sucessor do ZX – e o visual do carro, em formas e proporções, era evolucionário, e não revolucionário. E a plataforma do Xsara era, realmente, uma evolução da base usada no ZX e no Peugeot 306. Ele utilizava o mesmo arranjo de suspensão, com um sistema MacPherson na dianteira e braços arrastados na traseira. E também tinha o sistema passivo de esterçamento das rodas traserias, com buchas que se deformavam nas curvas, ainda que de forma menos pronunciada que em seu antecessor.

E o motor da versão esportiva VTS também era o mesmo dos ZX mais apimentados: o 2.0 16v da família XU, calibrado para entregar 167 cv a 7.500 rpm e 19,7 mkgf a 5.500 rpm. Com câmbio manual de cinco marchas, o Xsara VTS ia de zero a 100 km/h em 8,7 segundos, e chegava aos 221 km/h.

Dos hot hatches da Citroën que aparecem nesta lista, talvez o Xsara VTS seja o mais conhecido no Brasil, para onde começou a ser importado já em 1998, um ano depois do lançamento na França.

A partir de 2002, porém, começou a ser vendido o Xsara VTS reestilizado, que perdeu o motor de 167 cv e passou a usar um 2.0 16v de 138 cv, igual ao do Citroën C5 e da minivan Xsara Picasso.

 

Citroën C2 VTS

Criado para substituir o Saxo, o Citroën C2 era derivado do C3 – e dividia com ele parte da plataforma, porém encurtada em cerca de 15 cm. Como resultado, o C2 era mais curto e levava apenas quatro ocupantes, sendo voltado a pessoas solteiras e casais descolados; já o C3 era um carro para cinco ocupantes, e podia ser até mesmo o único carro da família.

Isto ajuda a explicar por que a Citroën decidiu dar uma versão esportiva apenas ao C2. Enquanto os modelos mais simples usavam motores 1.1, 1.2 e 1.4 emprestados do C3, o C2 VTR lançado em 2003 tinha um 1.6 16v de 110 cv a 5.750 rpm, com 15 mkgf de torque a 4.000 rpm – não muito diferente daquele utlizado pelo Peugeot 206 Soleil vendido no Brasil. Com isto, ele era capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 11,4 segundos, com máxima de 187 km/h.

Foi apresentado em 2004 o Citroën C2 VTS, que usava uma versão do motor 1.6 16v com 125 cv a 7.200 rpm. Mesmo com o torque mais baixo, de 14,6 mkgf a 3.750 rpm, o 0-100 km/h passou a 9,2 segundos, com máxima de 199 km/h.

O visual esportivo era garantido pelas rodas de 16 polegadas e pelo body kit que deixava o C2 mais largo e agressivo. A suspensão era mais baixa e firme, para garantir que a estabilidade complementasse a maior potência. O câmbio também recebeu escalonamento diferenciado, com marchas mais próximas, e a direção tinha relação mais direta.

Mas o Citroën C2 VTS não teve sucessor: seu substituto, o Citroën C1, assumia uma personalidade mais conservadora, sendo projetado pela PSA em parceria com a Toyota. A versão japonesa era o Toyota Aygo.

 

Citroën C4 VTS

Se o sucessor do Saxo foi o C2, quem entrou no lugar do Xsara em 2004 foi o C4 – este sim uma revolução em plataforma e design. Feito a partir do Peugeot 307, o C4 tinha formas arredondadas e alongadas e trazia diferenças radicais entre as versões de duas e quatro portas. A versão de duas portas era chamada de “Coupe” e tinha a tampa traseira em dois níveis, com as lanternas incorporadas às colunas “C”.

A versão esportiva VTS usava como base o modelo de duas portas, por razões óbvias. Embora não tivesse mais suspensão independente nas quatro rodas por questão de custo, adotando um eixo de torção na traseira, o C4 VTS tinha suspensão mais baixa e firme e um motor 2.0 16v com comando duplo no cabeçote e generosos 180 cv, que apareciam às 7.000 rpm e eram acompanhados de 20,6 mkgf de torque a 4.750 rpm. Com câmbio de cinco marchas, o propulsor levava o carro de zero a 100 km/h em 8,3 segundos, com máxima de 200 km/h.

Foram trazidos alguns poucos exemplares do C4 VTS ao Brasil pela própria Citroën, para testes e uso interno, e alguns acabaram nas mãos de entusiastas. No entanto, oficialmente nós só tivemos o C4 VTR, que tinha o mesmo visual do VTS, porém motor 2.0 16v de 143 cv.

 

Citroën DS3

Lançado em 2009, este foi o último hot hatch da Citroën. Baseado no C3 de segunda geração, ele foi o primeiro de uma linha de carros premium, a DS, que inicialmente era focada em esportividade. O motor era o brilhante 1.6 THP desenvolvido em parceria com a BMW – um quatro-cilindros turbo com comando duplo no cabeçote, 165 cv a 6.000 rom e 24,5 mkgf de torque a partir de baixas 1.400 rpm, moderados por um câmbio manual de seis marchas.

Embora o motor THP tenha se tornado onipresente em diversos modelos do grupo PSA e também da BMW, no compacto e leve DS3 ele era melhor aproveitado – conseguia levar os 1.165 kg do carro de zero a 100 km/h em 7,3 segundos, com velocidade máxima de 220 km/h.

O entre-eixos curto, de 2.464 mm, a bem acertada suspensão (MacPherson na dianteira e braços triangulares sobrepostos na traseira), e as rodas de 17 polegadas com pneus 205/45 tornavam o DS3 extremamente ágil. Somados ao visual inusitado da carroceria, com a característica “barbatana de tubarão” nas colunas “B”, eram os ingredientes de um belo pocket rocket. E o motor turbinado tinha um belo potencial de preparação.

O DS3 permaneceu em linha até o fim de 2018, quando a DS (já estabelecida como submarca da Citroën) anunciou que seu substituto seria um crossover compacto, o DS 3 Crossback.