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Automobilismo Zero a 300

Uma visita à exposição “Ayrton Senna L’Ultima Notte” no Museu Lamborghini

Olá a todos! Meu nome é Erich Policarpo e hoje venho contar um pouco da minha viagem até o Museu da Lamborghini que fica em Sant’Agata Bolognese, Itália. A região é bem rica em cultura para quem gosta de automobilismo; o museu da Ferrari é próximo além do museu da Ducatti. Os Autródomos de Imola e Mugello também não ficam muito distantes.

O museu da Lamborghini nunca foi um ponto de grande visitação e, na verdade, ele é um pouco pequeno, mas tive um motivo bem especial para decidir por essa visita: uma exposição de todos os carros que Ayrton Senna piltou na sua carreira! Sim, no museu da Lambo – o que talvez em um primeiro momento não faça muito sentido.

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Banner na entrada do museu

Eu e mais três amigos saimos de Graz, Áustria, e dirigimos por 560km até chegar ao museu. A cidade é bem pequena, fica na região metropolitana de Bolonha, a maior cidade e capital da região Emilia-Romana (valeu Wikipédia!). O Museu é um espaço em conjunto com a fábrica e possui um pequeno bar em frente, no qual é possível alugar um Lamborghini Huracán para andar nas ruas ou até mesmo em circuito. O preço, como é de se imaginar, é um pouco salgado. Sao €120 para 10 minutos e €200 para 20 minutos, isso para dirigir na rua. Para andar em circuito você precisa agendar e desembolsar algo em torno de €1.800 por cinco voltas.

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Huracán para aluguel

Entrando pelo portão já é possível sentir a atmosfera no lugar – os carros são tratados como obras de arte e tudo, desde o prédio até a iluminação, tem todos os detalhes muito bem pensados, bem ao estilo italiano. Como dito, o museu e a fábrica ficam no mesmo lugar, sendo a fábrica a entrada pela direita e o museu pela esquerda.

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Entrada da Lamborghini

Pois bem, chega de enrolação e vamos ao que interessa. No térreo do museu estavam expostos cerca de 15 carros da Lambo e alguns poucos motores. Dos carros que mais chamaram a atenção estavam o Miura, o Diablo e o mais extremo de todas, o Sesto Elemento – esse um dos carros mais insanos que já vi.

O Miura exposto era o segundo protótipo produzido pela Lamborghini e, como esperado, estava em perfeito estado de conservação.

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Segundo protótipo do Lamborghini Miura

O Diablo, apesar de estar pintado com uma cor que não é uma das minhas favoritas, chamava muita atenção. O seu design está marcado na mente dos gearheads nascidos na década de 80 e que cresceram vendo esse carro em revistas. Nunca tinha visto um de perto e o carro é realmente impressionante. Equipado com motor V12 6.0 era capaz de produzir quase 600cv. O carro exposto já é um dos modelos com faróis de lente lisa, não os clássicos com faróis escamoteáveis.

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O veículo exposto já com faróis de lente lisa

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Pneus traseiros com 335mm de largura

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Detalhe do escapamento

O Sesto Elemento está em um outro nível de insanidade. O carro é totalmente feito de fibra de carbono (inclusive as rodas) não tem assentos, apenas espuma presa no chassis, o para-choque traseiro é basicamente composto pela tampa do diferencial entre outras loucuras. O resultado final é um carro que tem massa de impressionantes 999 kg e combinado com um motor V10 5.2L de 570hp é capaz de acelerar de 0-100km/h em 2.5 segundos.

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Lamborghini Sesto Elemento

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Fibra de carbono em todas as partes do veículo

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A carroceria parece ser mais curta do que o powertrain, deixando exposta a tampa do câmbio.

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Roda em fibra de carbono

Nesse video é possível ver o carro em ação no circuito de Imola pilotado pelo Richard Hammond do Top Gear:

A primeira parte do museu é bem bacana mas subindo as escadas… aí ficou mais interessante. Estavam todos lá, desde o kart até a Williams que infelizmente levou o nosso ídolo no dia mais triste na história recente do Brasil. A exposição é cheia de fotos nas paredes contando a história do nosso querido Ayrton, mostrando desde o dia a dia até momentos de preparação para as corridas. Além das fotos um telão exibe o documentário “Senna: O Brasileiro, O Herói , O Campeão” a todo momento.

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Visao geral dos carros

Os carros expostos foram todos carros guiados por Senna e apenas a Williams e a Mclaren estavam sem motor/câmbio; os outros carros estavam todos completos. A Toleman tinha um adesivo da sua participacão em Goodwood e parecia que era guiada com certa frequência (inclusive ela pingava óleo no chão!).

Além dos carros, alguns capacetes e a primeira edição da moto Ducati 916 Senna também estavam lá expostos.

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Diversos capacetes expostos

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Ducati 916 Senna

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Variás fotos contando a história de Senna

Senna guiou o carro da Formula Ford 1600 em 1981, ano em que ganhou 12 corridas das 20 disputadas. Esse desempenho o colocou na Formula Ford 2000 em 1982, ano em que teve uma performance ainda mais impressionante, ganhando 22 das 27 corridas, e garantindo assim o campeonato britânico e europeu de Fórmula Ford 2000.

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Carro da Formula Ford 1600 a esquerda e Formula Ford 2000 a direita

Já na Fórmula 3 em 1983 Senna foi campeão ganhando 13 corridas. Naquele ano o seu maior rival foi Martin Brundle, hoje comentarista da Sky Sports britânica.

Pra quem tiver o inglês afiado, vale a pena procurar um streaming da Sky Sports F1 para assistir as corridas de Formula 1 (pra quem assim como eu ainda acompanha) pois a transmissão deles é muito completa. Fica a dica.

O carro da Fórmula 3 já era bem mais refinado do que o das categorias anteriores. O carro de Senna era da equipe West Surrey Racing e tinha um motor Toyota aspirado, quatro-cilindros 2.0, com potência máxima de 165 cv.

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Detalhe da entrada de ar do motor do carro de Fórmula 3

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Interior do carro de Fórmula 3

 

Toleman

Já na Formula 1, Ayrton correu no seu primeiro ano, 1984, com a Toleman. A grande corrida de Ayrton esse ano foi o GP de Mônaco, o qual chovia muito e Senna depois de largar em 13° chegou em segundo, muito próximo de Prost. Aquela tinha tudo para ser a primeira vitória de Senna. Esse exemplar exposto foi o mesmíssimo carro que Senna pilotou naquela corrida!

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O pequeno adesivo cinza com o número 19 na lateral indica a participação no Festival de Goodwood

A Tolleman era equipada com um motor Hart 415T, 1.5L Turbo que produzia mais de 600cv na época. Infelizmente a foto do interior do carro nao ficou muito boa. Os carros estavam virados de frente a uma grande área envidraçada e o interior do carro escuro com a câmera virada pra muita luz nao deu muito certo.

Podemos ver esse carro em ação aqui:

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Sistema de dois aerofólios na traseira

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Motor Hart 1.5L Turbo 4 cilindros

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Detalhe do turbo e da “pequena” válvula 

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Vista traseira. Reparem no motor exposto – uma coisa impensável nos dias de hoje

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Interior da Toleman

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Parte traseira do cockpit

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O pneu naquela época também era bem largo

 

Lotus

Após o primeiro ano de Fórmula 1, Senna foi contratado pela Lotus, equipe a qual ele defendeu de 1985 a 1987. O carro exposto é de 1986 e está equipado com o motor Renault EF15B, 1.5L V6 Turbo. Foi com esse mesmo carro que Senna ganhou o GP da Espanha e o GP de Detroit daquele ano.

O GP da Espanha foi marcado por uma grande disputa de Senna e Mansell, e no final, o Mansell de pneus novos chega a 0.014s (sim, 14 milésimos!) de Ayrton em um dos finais mais acirrados da história da Fórmula 1. O vídeo abaixo mostra os melhores momentos dessa corrida:

No GP de Detroit as coisas foram um pouco mais tranquilas e Ayrton cruzou a linha de chagada a mais de 30s do segundo colocado. Sei que a maioria dos leitores não gosta da Fórmula 1 atual mas olhando os resultados das corridas da época é possível notar que a média de abandono por problemas mecânicos era de +- 50%, ou seja, se 24 carros largavam, 12 em média tinham algum problema de direção, suspensão, câmbio ou motor, principalmente.

O espetáculo nao tem o mesmo apelo, o piloto não briga tanto pelo controle do carro e tudo parece “mais fácil” mas o nível de engenharia do carro é fantástico. Os profissionais que trabalham com isso sao realmente os melhores do mundo em suas respectivas áreas, logo pra quem gosta de engenharia como eu, ainda vale a pena seguir de perto a Fórmula 1.

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Lotus de 1986

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Na minha opnião um dos carros mais bonitos que Senna guiou

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Painel com mostradores analógicos – pressão de admissão menor do que 2 bar nem era considerada

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Os três pedais – reparem como são próximos

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A alavanca do câmbio era um pouco inclinada

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A lateral do piloto era muito menos protegida nessa época

 

McLaren

A Mclaren provavelemente é o carro que os fãs devem mais associar a Senna pois seus trÊs títulos mundias foram conquistados com a equipe, sempre equipado com o motor Honda, que nada lembram os motores Honda de hoje na Fórmula 1. Senna foi campeão em 1988, 1990 e 1991 com a mítica McLaren com as cores vermelha e branca da Malrboro. O carro exposto infelizmente nao tinha motor nem câmbio, além de um painel que não era real.

Foi nessa época em que Senna viveu os melhores e piores dias na Formula 01. Os melhores momentos sao diversos, como a sua “volta mágica” em Donington Park – 1993, a sua vitória no Brasil em 1992 depois de sofrer com problemas no cambio e Senna segurando Mansell em Monaco 1992.

Volta em Donington Park:

Senna vencendo em Interlagos depois de problemas mecânicos:

Senna e Mansell em Mônaco:

Vídeo On Board de Senna perseguindo as Williams

A sua intensa batalha com Prost foi uma das mais famosas da história da Fórmula 1 e um momento muito duro para Senna, momento o qual exigiu muito do piloto.

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Vista frontal da Mclaren vermelha e branca de número 8 com a parte mais triste do documentário passando ao fundo

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A McLaren tem o design muito clean, sem muitos adereços aerodinâmicos.

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Inexplicável ver todos esse carros juntos

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Interior da Mclaren

 

Williams

Foi a Williams o último carro. Ele é bonito e tem um desenho marcante, mas eu não gosto muito pelas muitas lembrancas tristes que esse carro traz.  A intenção de Senna era ter guiado para a Williams já em 1993, entretando ele foi vetado por Prost – Senna tinha se oferecido para guiar de graça pela Williams, tamanha a vontade de ser campeão novamente.

A Williams em 1993 tinha um carro muito superior mas após ter o seu complexo sistema de suspensao ativo banido para 1994, o carro de Ayrton era um carro muito dificil de guiar e com muito a ser melhorado.

O sistema ativo da Williams era capaz de ajustar o carro para cada curva do circuito, o que tornava o carro muito estável. Esse sistema pode ser visto em ação nesse vídeo: 

Quem estiver com o inglês afiado e tiver tempo, pode assistir esse documentário:

Nesse video é possível ver como a Williams era estreita, o que levou a mudança na barra de direção.

Na sua ultima pole postion no Brasil, mesmo tento problemas para controlar o carro, Senna enfiou mais de 1,5s em Damon Hill, seu companheiro de equipe.

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Williams de 1994

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Painel Fake da Williams. É possível notar botões para ajustes à direita, muito diferente das alavancas para regular a suspensão que eram usadas nos anteriores

Espero que vocês tenham gostado e que eu possa ter passado pelo menos um pouco da emoção que foi ver todos esses carros juntos.

Claro que Senna tinha muitos defeitos e ele colecionou vários desafetos na sua carreira, mas em um momento tão complicado como o que estamos passando no país, nada melhor do que alguém para nos inspirar como Ayrton. “If you are no longer go for a gap which exists you are no longer a racing driver” aplique isso na sua vida – mesmo que voce nao seja um racing driver — e muito provavelmente voce será bem sucedido. Um abraço!