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Car Culture

Unicórnio rampante: esta Ferrari 348 é na verdade um dos protótipos da Enzo

A Ferrari 348 era o modelo de entrada da Ferrari no início dos anos 1990 — se você for acompanhar sua linha de sucessão, chegará na 458 Italia. Seu estilo, com entradas de ar nas laterais, ecoava as linhas da mais cara Testarossa. Olhando para ela, é difícil imaginar, mas um dia a Ferrari usou uma 348 como mula para disfarçar ninguém menos sua futura Enzo.

Sim, a Enzo, que veio depois da F50 e antes da LaFerrari e é dotada de um motor V12 girador de 660 cv a 7.800 rpm e 67 mkgf de torque a 5.500 rpm. A Ferrari sempre disfarça muito bem seus protótipos antes de lançar um modelo novo — é só lembrar das mulas com cara de bagre que precederam a LaFerrari —, mas desta vez a mula ficou estranhamente atraente. Para alguns (eu mesmo, na verdade), até mais do que a própria Enzo.

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A Ferrari construiu três mulas — M1, M2 e M3 — no breve período que antecedeu a revelação da Enzo, no Salão de Paris de 2000. Apenas o M3, que foi feito para o desenvolvimento do conjunto mecânico da Enzo, tem seu paradeiro conhecido.

Para a carroceria do protótipo M3, a Ferrari usou uma 348 e alguns componentes de sua sucessora, a F355 — principalmente na traseira.

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Para se ter ideia, boa parte dos componentes do carro foram feitos à mão e o processo durou exatamente dois meses — de 25 de setembro a 25 de novembro de 2000. Para acomodar o motor V12, o subchassi traseiro foi alongado em cerca de 25 cm usando peças da Ferrari 360 Modena.

As portas e a seção frontal — que teve as entradas de ar retrabalhadas para otimizar o fluxo de ar para o V12 — vieram da 348, bem como boa parte do interior, embora o painel tenha sido modificado para receber o cluster da 360. Para-lamas foram feitos à mão usando plástico reforçado com fibra de carbono — e os traseiros são removíveis para facilitar o acesso à parte inferior do motor. Removível também é a tampa traseira, que possui uma janela de Lexan. Todo o carro recebeu reforços estruturais, especialmente na área do motor.

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Mas você quer saber sobre o motor, não é? Pois bem: o F140A é bem semelhante à versão final usada na Enzo, o F140B. O bloco é idêntico, e apenas a caixa de ar — que, no protótipo, é de alumínio em vez de fibra de carbono — e outros detalhes foram modificados. A Ferrari não revela quais foram estes detalhes, limitando-se a dizer que a potência é de 680 cv, ou vinte a mais do que na Enzo. A transmissão é a mesma semi-automática de seis velocidades com paddle shifters, capaz de trocar marchas em 150 milissegundos.

O quanto ela anda? Também não se sabe mas, sabendo que a Enzo é capaz de acelerar até os 100 km/h em 3,6 segundos, dá para ter uma ideia. E o mais legal é que o visual é quase retrô para os padrões de hoje — dá para considerar este protótipo quase um restomod às avessas.

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Tudo neste carro é estranhamente bem construído e acabado, como se a Ferrari quisesse que ele ficasse para a posteridade —  algo bem diferente do destino de boa parte das mulas de testes, que costumam ser destruídas. Este carro já esteve à venda pelo menos duas vezes — em 2005, quando foi arrematado por singelos € 195 mil (R$ 570 mil em conversão direta), e em 2011.

Agora ela está à venda novamente, e os anunciantes são os mesmos da última vez: a Modena Motorsport, que é especializada em carros italianos clássicos de corrida e de rua — principalmente as Ferrari. Desta vez, porém, não há preço — então, se você realmente se interessou, melhor entrar em contato com eles.

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[ Fotos: Modena Motorsport ]