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Car Culture Projetos

V8 LS e tração traseira: seria este o Renault Clio mais absurdo do mundo?

A gente adora projetos que abandonam o bom senso e são feitos simplesmente porque é possível. O Renault Clio V6 é um ótimo exemplo – na virada dos anos 2000, a Renault Sport simplesmente decidiu colocar um V6 de minivan atrás dos bancos traseiros de um Clio, criando um revival dos incrível Renault 5 Turbo do Grupo B de rali. Um projeto caro, complexo e que dificilmente daria lucro – mas que acabou sendo produzido em série. E, mesmo que sua dirigibilidade não fosse perfeita, ele era simplesmente legal demais para não se tornar uma lenda entre os entusiastas.

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Infelizmente, porém, questões econômicas e ambientais dificilmente permitirão que um novo Clio V6 apareça – ao menos em uma versão de rua. Cabe aos entusiastas usar a criatividade e a coragem para executar seus próprios projetos insanos. E a gente lembrou do Clio V6 porque o carro que viemos mostrar agora é um Clio V8. Um Clio V8 com motor dianteiro e tração traseira. E ele sequer foi feito na Europa, mas sim no Oriente Médio.

É uma pena que, em casos assim, a barreira linguística atrapalhe um pouco as coisas. Mas o projeto, publicado pelo dono do carro no Instagram, está começando a viralizar – com total razão, aliás. Então, conseguimos juntar algumas peças e entender melhor o projeto.

“LS swap everything” é uma frase bastante conhecida no mundo dos entusiastas – colocar um motor V8 LS da GM em praticamente qualquer carro é meio que um coringa: lá fora, não apenas nos EUA, mas em vários outros países, o V8 LS é fácil de encontrar, acessível, e conta com uma grande variedade de componentes de preparação. Existem até kits prontos, com suportes feitos sob medida para diversos modelos – caso do Toyota AE86, por exemplo, que é muito usado em projetos de drift com o V8 LS.

No caso do Clio, porém, as coisas não são tão simples. Não nos surpreenderemos se este for o primeiro Clio com motor V8 LS na dianteira já feito na história da humanidade – o que significa que não há receita pronta. Os caras certamente tiveram de estudar bastante a estrutura do carro e as dimensões do cofre e do motor.

O carro, um Renault Clio 2005, é obra de uma oficina chamada Auto One Work Shop, sob responsabilidade do mecânico Emad Aljamal. Os registros mais antigos do projeto datam de setembro de 2019, com o motor já no cofre – bastante recuado no cofre, mas não a ponto de invadir o habitáculo e impedir o uso do painel de instrumentos original. Também não foram feitas modificações externas visíveis – graças ao pequeno comprimento do V8 LS1 (não muito maior que um quatro-cilindros, na verdade), o capô fecha normalmente. Aliás, é possível perceber que até sobrou um espaço razoável à frente do motor, e um radiador superdimensionado com ventoinha coube ali perfeitamente.

O V8 é um LS1, utilizado pelo Chevrolet Corvette a partir de 1997 – o que significa que ele tem 5,7 litros de deslocamento e ao menos 350 cv, se for um dos primeiros.

De todo modo, dificilmente este motor tem “só” 350 cv agora: além de um sistema de óxido nitroso, no último vídeo divulgado pela Auto One podemos ver um supercharger Rotrex (parece um turbocompressor, mas usa uma polia acionada pelo motor) brotando pelo capô.

Em outro vídeo, mais antigo podemos notar que um dos pontos críticos do projeto foi a instalação dos coletores de escape. Foi preciso fazer peças sob medida de modo a deixar o conjunto o mais estreito possível e não interferir com os para-lamas – repare que as bitolas sequer parecem ter mudado. O stance não é agressivo como o de um track monster – a suspensão é mais baixa, sim, mas a postura do carro é a de um Clio com um leve veneno, não de uma cadeira elétrica com motor V8 e tração traseira. Admirável.

As imagens também deixam ver o diferencial traseiro, nos dando a dica de que o sistema de transmissão também foi doado por um Chevrolet.

De acordo com as descrições em um inglês apenas razoável que Emad posta no Instagram, o carro usa uma ECU aftermarket para gerenciar o motor, e o projeto está na fase de acertos finais. O que não o impede de comparecer a encontros e também eventos de pista, como arrancadas e provas de slalom. Sempre de carretinha pois, apesar de emplacado, o carro não deve poder rodar nas ruas em sua configuração atual. E nem deve ser confiável a este ponto.

O Clio, que é o carro-propaganda atual da oficina Auto One, ainda está com jeito de projeto inacabado – é visível que ele ainda é um work in progress, com acabamentos provisórios e outros detalhes a acertar. Mas o potencial é imenso, e isto fica evidente logo de cara. É o tipo de carro que queremos ver pronto, e esperamos que Emad e a Auto One Work Shop dêem mais detalhes a respeito em breve.