Você pode nunca ter ouvido o termo “vista explodida” ou “perspectiva explodida”, mas certamente viu aqueles desenhos ou fotos que, segundo o dicionário, “mostram a ordem, a relação ou a montagem de componentes de objeto manufaturado”. É exatamente disto que se trata a vista explodida, normalmente é utilizada em aulas de engenharia, manuais de operação e na fabricação de equipamentos, ferramentas ou máquinas.
Há quem diga que este tipo de imagem é arte, mais ou menos da mesma forma que os cutaways — aqueles desenhos de carros “transparentes”, que revelam todo seu esquema mecânico e arranjo do interior — são vistos como tal. E eles não estão errados. Só que a gente conhece um cara que realmente transforma estas imagens em arte, usando fotografia e miniaturas de carros. E o resultado é de tirar o fôlego.
Quer dizer, a gente não conhece ele de verdade, porque ele mora na Suíça, mas você entendeu. Sabemos, contudo, que seu nome é Fabian Oefner, e que ele é um cara que curte carros tanto quanto a gente e que seu sonho de infância era tornar-se designer automotivo. Só que, ainda muito jovem, ele conheceu a fotografia, e no fim das contas acabou por juntar suas duas paixões para criar a série Disintegrating, com imagens de carros clássicos, de corrida e de rua, “explodindo” e revelando todos os seus componentes mecânicos. Dá só uma olhada no Mercedes-Benz 300SL:
Não parece mesmo que o carro está explodindo, e que a imagem foi capturada no momento exato? É exatamente isto que Fabian quer expressar. O mais incrível é uma foto como esta, que parece retratar uma cena que dura uma fração de segundo, pode levar até dois meses para ficar pronta e atingir o resultado desejado.
Cada foto começa com um sketch a fim de definir a posição das peças e o aspecto geral da imagem. Em seguida, começa o processo de desmontar a miniatura (Fabian sempre usa modelos bastante detalhados, que reproduzem praticamente todos os componentes de um carro em escala) e ir posicionando as peças de acordo com o que foi estabelecido no primeiro rascunho.
Fabian, então, bate centenas de fotos — cada uma delas com um componente diferente, ou um pequeno conjunto deles. Ele utiliza um fundo branco ou preto bem simples, além de pedaços de isopor, arames ou mesmo as próprias mãos para colocar as pequenas peças em seus lugares corretos. É um trabalho que exige muita paciência e precisão, como dá para ver no vídeo abaixo:
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O fotógrafo conta tinha 14 anos quando viu sua maior inspiração pela primeira vez — a famosa imagem de uma maçã sendo atingida por uma bala, capturada no momento exato por Harold Edgerton. Por incrível que pareça, a foto foi capturada em 1964. Edgerton, que inventou o flash fotográfico de alta velocidade no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), utilizou equipamentos que valiam mais de US$ 500 mil na época.
Aos 15 anos Fabian comprou sua primeira câmera fotográfica e, imediatamente, começou a investigar em uma maneira de reproduzir este efeito com orçamento praticamente inexistente. Neste meio tempo, ele recebeu uma graduação em design de produtos na Suíça e, pouco depois, começou a trabalhar como fotógrafo de produtos para a Leica Geosystems, divisão da gigante da fotografia que fabrica equipamentos de geometria e fotografia.
Em 2012, Fabian abriu seu próprio estúdio de fotografia e, pouco depois, lançou a primeira parte de sua série de fotografias em vista explodida, chamada Disintegrating. De acordo com o próprio artista, “a sére explora questões essenciais a respeito da relação entre tempo e realidade, para no fim criar uma interpretação visualmente rica de um momento que nunca existiu.” Profundo, não?
A fotografia da Ferrari 330 P4, protótipo com motor V12 de quatro litros com injeção Bosch e 500 cv que foi a reposta dos italianos ao Ford GT40, foi a primeira a ficar pronta. Depois, vieram o Mercedes-Benz Uhlenhaut Coupé e o Jaguar E-Type — e o vídeo abaixo traz um making of bem detalhado deste último.
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A segunda série de fotografias, Disintegrating II, foi apresentada neste ano, e traz outras cinco lendas do automobilismo: os Porsche 917 K e 962C, que são duas lendas das 24 Horas de Le Mans; um monoposto Auto Union dos anos 1930, com motor V16; um Maserati 250F e um Bugatti Type 57 SC Atlantic. O realismo das fotos impressiona — a gente quase se pega pensando “como é que o cara desmontou os carros para fazer estas fotos” antes de lembrar que são miniaturas.
E este nem é o único trabalho com miniaturas de Fabian: em 2012 ele criou a série Hatch — não no sentido de hatchback, mas de “chocar”, como um ovo. Usando uma miniatura extremamente realista da Ferrari 250 GTO, o fotógrafo fez vários moldes de látex que seriam os “ovos”, e então fotografou o exato momento em que um dos carros “quebra a casca”.
Para criar este efeito, Fabian fez várias destas cascas e as jogou contra a miniatura. Cada vez que a casca atingia o carro, um microfone capturava o ruído e ativava o obturador da câmera por meio de um sensor, e foram necessárias centenas de tentativas para atingir o resultado esperado.
Para Fabian, o significado da série Hatch é “respresentar o carro como um organismo vivo que passou por uma gestação, desconstruindo a forma como se concebe um carro”. É coisa de artista, mas não é que faz sentido?