“Cadeira elétrica” é um termo curioso que a gente costuma usar para definir carros pequenos, leves e potentes além do que se pode considerar seguro. Mas quem disse que o automobilismo é um esporte seguro? De qualquer forma, “cadeira elétrica” é um termo que serve muito bem ao Maserati 250F “Piccolo” — um monoposto pequeno, leve e potente feito na década de 1950, quando nem se imaginava que, um dia, os carros teriam assistência eletrônica e equipamentos de segurança eram capacete, luvas e muita coragem.
O que dizer, então, de uma bela demonstração de pilotagem com um destes em Monaco? É exatamente isto o que você vai ver agora. O vídeo não é exatamente novo, tendo sido publicado no Youtube em 2014, mas nós nunca o colocamos aqui no FlatOut. Além disso, caso você já tenha visto, vai reclamar de um repeteco?
Trata-se de uma das corridas do Monaco Historic Grand Prix 2014, onde correram apensa monopostos anteriores a 1961. O Maserati 250F “Piccolo”, de 1954, é nada menos que o monoposto de competição mais lendário da marca italiana.
Seu desenvolvimento começou após a temporada de 1953, quando a equipe de engenheiros da Maserati estava dividida entre as duas possibilidades de motor permitidas pelo novo regulamento da F1: aspirados de 2,5 litros ou sobrealimentados de 750 cm³. Como era de se imaginar em plena década de 1950, o motor aspirado venceu, e o número 250 do nome é uma referência aos 2,5 litros do motor seis-em-linha de 220 cv adotado no modelo.
A letra F significa que ele é um Formula, ou seja: um monoposto com rodas descobertas. O 250 trazia algumas inovações, como os tubos De Dion na suspensão traseira. O câmbio era montado em posição transversal, junto com o diferencial e tinha quatro marchas no primeiro ano (1954) e cinco marchas a partir de 1955.
De qualquer forma, no primeiro ano o 250F já mostrou a que veio, com uma vitória logo em sua estreia no GP da Argentina de 1954 — detalhe: o piloto era Juan Manuel Fangio, que venceu em casa.
Depois de vencer de novo na Bélgica, porém, Fangio fez um acordo com a Mercedes-Benz e pilotou pelos alemães até 1957. Enquanto isso, Stirling Moss ficou encarregado de virar o volante do 250F, mas infelizmente não conseguiu resultados expressivos.
Quando Fangio voltou à Maserati em 1957, ele fez a melhor temporada de sua carreira e estabeleceu um novo patamar de desempenho na categoria além de transformar o 250F em um dos maiores carros de F1 de todos os tempos. Não é para menos, visto que ele rendeu os títulos de 1954 e 1957 ao lendário piloto argentino.
Avancemos algumas décadas no tempo e chegaremos ao Monaco Historic Grand Prix de 2014. O piloto do 250F, desta vez, é o alemão Frank Stipler, que já correu no FIA GT1 e na Deutsche Tourenwagen Masters, além de vencer a temporada de 2003 da Porsche Supercup. Não dá para dizer que o cara não tem experiência e muito menos que não sabe o que está fazendo.
Um vídeo mais recente do pequeno 250F, desta vez com foco no ronco do seis-em-linha
Vale lembrar que, como se trata de um GP histórico, os carros precisam usar pneus iguais aos da época — fabricados hoje com métodos de antigamente. São pneus finos, que dobram bastante e comunicam bem a situação ao piloto, mas não são os melhores em termos de aderência…
E, claro, um pequeno seis-em-linha de 2,5 litros e 220 cv não impressiona como os motores dos carros de corrida modernos. No entanto, considerando que o 250F pesa 545 kg, tem tração traseira e mais de 50 anos de idade, não há como não admirar o esforço que é controlá-lo. Detalhe: Stipler ultrapassa todo o pelotão nos dez minutos de vídeo, e termina a corrida em segundo colocado. Pega mal parabenizá-lo com dois anos de atraso?