De tempos em tempos me bate uma vontade danada de comprar uma Kombi. A perua da Volkswagen tem estilo e carisma incontestáveis, muita carga histórica, um conjunto mecânico interessante e barato de manter, e é extremamente versátil – meu sonho é transformar uma delas em camper. Mas… quando me lembro que os ocupantes da frente vão sentados em cima do eixo dianteiro, com o corpo bem no centro da zona de impacto, começo a ponderar se ela é mesmo adequada para a estrada hoje em dia.
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Há quem tenha muito mais coragem que eu, porém. Um bom exemplo é o sueco Stefan Bengs, que passou os últimos anos montando um projeto bem interessante: uma VW Transporter T1, primeira geração da Kombi, com o conjunto mecânico de um Porsche 911.
Não é a primeira vez que alguém faz isto – mas é a primeira vez que vemos um onboard completo de um projeto como este em Nürburgring Nordschleife. Cortesia do Youtuber Misha Charoudin, que mora ao lado do Inferno Verde e sentou no banco do carona:
Nos comentários do vídeo, o próprio dono do projeto dá alguns detalhes: ele conta passou “muito tempo” dedicando-se à Kombi, e que o nome dela é Kombi é Leichtbau (“baixo peso” em alemão). Ele diz que há pelo menos quatro anos ela é levada regularmente para Nürburgring – e que, nesta última vez, ela estava mais veloz e melhor acertada do que nunca.
Com um pouco de garimpo, conseguimos descobrir mais detalhes interessante a respeito da Kombi Leichtbau. O motor usado é um flat-six arrefecido a ar de 3,2 litros, naturalmente aspirado, acoplado a uma transmissão manual Porsche G50 de cinco marchas totalmente stock, retirados diretamente de um 964.
A suspensão traseira também veio do Porsche 911, e teve apenas os amortecedores originais trocados por componentes pressurizados da GAZ. Na frente, o arranjo original por braços arrastados foi mantido, porém acertado para conferir mais rigidez e uma cambagem levemente negativa. Os freios vieram do Porsche 911 Turbo 930, e são abrigados por rodas Fuchs de 19×6 polegadas, calçando pneus Toyo 265/45. Já a barra de direção original foi trocada pela peça do Fusca 1303 – de acordo com Stefan, o volante perdeu cerca de uma volta e meia e também ficou mais pesado, porém em compensação perdeu a folga característica da Kombi, além de ficar muito mais direta.
Não se trata de um conjunto revolucionário, mas é o bastante para garantir que a Kombi passe dos 230 km/h no retão de Nürburgring. A Velha Senhora on steroids consegue percorrer os 20 km do circuito em menos de dez minutos tranquilamente – o que, para uma Kombi das antigas, fabricada em 1965, é uma bela marca.
Além do swap, a Kombi também passou por algumas modificações para reduzir seu peso, incluindo a remoção de todo o acabamento interno. Os revestimentos de porta são painéis simples de compensado, as maçanetas internas deram lugar a tiras de tecido, e os bancos originais deram lugar a dois conchas da Sparco, com revestimento que combina tecido cinza e o clássico pied-de-poule da fabricante de Stuttgart.
O painel de instrumentos resume-se a um conta-giros que marca até 7.000 rpm, com um relógio Porsche no teto para aferir o nível de combustível e a temperatura. E, naturalmente, foi instalada uma gaiola de proteção integral, discretamente pintada na cor da carroceria – algo essencial, convenhamos, para quem quer acelerar uma Kombi no Green Hell. De acordo com Stefan, a Kombi pesa 1.035 kg com o tanque cheio.
Trata-se de uma receita relativamente simples, sem grandes extravagâncias. E há um bom motivo para isto: embora seja um projeto voltado para Nürburgring e acertado para o circuito, a Kombi precisa ser legalizada para as ruas: ela é usada diariamente e cada viagem para a Alemanha representa uma roadtrip de 4.000 km – 2.000 de ida e 2.000 de volta.
E eu aqui com medinho de ter uma Kombi…