É difícil encontrar algum entusiasta que encha o peito e diga “eu gosto de como as coisas na Fórmula 1 estão, hoje em dia é muito mais legal do que antigamente”. Diríamos até que é impossível. Mas você sabia que existe uma categoria disputada hoje em dia que reúne os monopostos da era de ouro da Fórmula 1 em circuitos da elite do automobilismo?
É exatamente este o mote da FIA Masters Historic Formula 1. Disputada apenas com monopostos construídos entre 1966 e 1985, a categoria revive um tempo quando os motores eram puramente mecânicos e a pilotagem era muito mais orgânica. Os carros eram movidos a combustão, pois não existiam sistemas de recuperação de energia cinética, e as expressões “suspensão ajustável” ou “câmbio semi-automático sequencial” mal faziam sentido.
A única exigência para que um carro seja apto a participar da competição é que ele tenha motor de três litros, não importa a configuração ou o número de cilindros. Com isto, nivela-se a competição pela potência, e pode-se separar os carros em duas categorias: pré-1978 e pós-1978. Todos os carros correm juntos na pista, e ao final da temporada, têm-se dois campeões, um para cada categoria.
Isto ocorre porque, no período de vinte anos que é compreendido pelo regulamento, diversas inovações tiveram impacto significativo no desempenho dos carros que disputavam as corridas – aerodinâmica, efeito solo e motores turbo, para citar apenas três exemplos.
Com isto, há uma diferença considerável no desempenho do Tyrell 001 que Jackie Stewart pilotou em 1970 e o passo do Tyrrell 012 que Michele Alboreto e Danny Sullivan estrearam em 1983, ainda que ambos tivessem um V8 Cosworth DFV de três litros: o primeiro ainda era um charutinho quase sem aparatos aerodinâmicos, enquanto o segundo demonstrava a preocupação da época com aerodinâmica e downforce. Não seria justo colocar ambos para competir no mesmo barco. E este é só um entre diversos exemplos possíveis.
A temporada dura de abril a outubro, e é disputada em oito fins de semana, cada um com duas corridas. O calendário de 2017, por exemplo, inclui Hockenheim, Monza, Nürburgring e Estoril. No passado, já foram realizadas corridas em Silverstone, Monaco e Spa-Francorchamps.
A FIA Masters Historic Formula 1 é disputada desde 1995 mas foi só em 2013 que assumiu o atual formato, quando passou a ser organizada pela Masters Racing, a divisão de automobilismo histórico sancionado pela FIA. Até então, chamava-se Toroughbred Grand Prix e dividia os carros em quatro categorias, e não duas. No mais, era a mesma coisa: os carros das décadas de 1960 a 1980, de equipes como Ferrari, BRM, Tyrrell, Brabham, Lotus, Arrows, Ligier, Matra e outras tantas, extintas ou sobreviventes.
Que tal um onboard a bordo de um Copersucar de Emerson Fittipaldi em Silverstone?
Os pilotos não são famosos mundialmente, mas alguns possuem certo renome no circuito de corridas históricas – o britânico Bob Berridge, por exemplo, já conquistou três títulos consecutivos na Historic F1, entre 1997 e 1999. Steve Hartley foi o campeão em 2006 e em 2007, em ambos os anos ao volante do Arrows A6.
São caras que têm coleções de carros de corrida antigos e não fazem questão nenhuma de preservá-los em garagens climatizadas, iluminadas e hermeticamente fechadas. Claro, eles não pilotam seus bólidos no limite – alguns deles têm valor inestimável e não possuem qualquer tipo de assistência eletrônica para o caso de alguém se empolgar demais. No entanto, também não desfilam. Digamos que, como é norma neste tipo de corrida, os caras assumam uma tocada gentleman driver – rápida, sim, mas sem atropelos ou disputas muito agressivas por posições.
Dito isto, o espetáculo visual e sonoro é memorável – ao menos é o que diz quem tem a oportunidade de conferir tudo de perto. A nós resta o Youtube, não é mesmo?