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Project Cars Project Cars #323

Volkswagen Brasilia Puma: a história do Project Cars #323

Caríssimos leitores do “Pé na tábua!”, estou aqui pra dar início ao primeiro post do meu mais recente projeto, o Brasília Puma 1975.

Meu nome é William Rotea Junior, tenho 49 anos, farmacêutico. Posso dizer que comecei minha doença com carros aos três anos de idade, quando foram lançados o “Ford Corcel” e o “Chevrolet Opala” (era assim que eu me referia aos carros nessa idade). Devorador de revistas sobre carro na infância, eu acompanhava fascinado os lançamentos e o mundo dos acessórios nas gloriosas décadas de 1970 e 1980. Já um pouco mais velho eu ficava de “piolho” numa oficina ao lado de casa.

Ter carro nessa época era um luxo e, vindo de família pobre, a nossa possibilidade de motorização se deu somente com os modelos mais simples, Fusca e Brasília principalmente. Jamais poderia imaginar que um dia teria oportunidade de realizar projetos de restauração e customização de carros e ainda manter mais de um na garagem (veja a tabela com a retrospectiva dos últimos 17 anos na tabela de Projetos Executados). Na maior parte das vezes me envolvi com carros que fizeram parte da minha vida e usei orçamentos relativamente modestos, embora tenha “saído de giro” algumas vezes (caso do Mustang e do Puma).

Meu perfil é de restaurador, mas com um “defeito”: eu gosto de usar meus carros, e por isso dou extrema atenção à parte mecânica, e, além disso, também gosto de adicionar detalhes que diferenciem meus carros.

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A diversão é garantida!

Não gosto de comprar carros prontos, embora esteja claro pra mim que restaurar nunca é fácil nem economicamente mais interessante, mesmo quando falamos de um simples Fusca ou Brasília. Acho que a parte mais difícil é concluir o processo, pois quase sempre precisamos reunir profissionais diferentes (funileiro, pintor, mecânico, eletricista, vidraceiro, tapeceiro, etc.), que muitas vezes resolvem ser “criativos” e aplicar sua visão sobre do que deve ser feito (mesmo quando as instruções são claras), e isso é muito mais frequente com carros velhos conhecidos desses profissionais, como o Fusca ou Brasília (A frase “Fusca é assim mesmo” me deixa irado!).

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O tempo passa, a situação muda, o dinheiro acaba… muita coisa pode acontecer entre a concepção e a finalização. Aprendi também que um carro de sonhos pode se tornar um pesadelo (como meu primeiro projeto, o Mustang 1972) e que a diversão (por “diversão” leia reconstrução/ restauro/ upgrades mecânicos e estéticos) é a mesma com os carros mais simples, pois exige o mesmo planejamento e reserva monetária, pois nenhuma aventura nesse campo será barata. Sempre vai consumir tempo, dinheiro e paciência.

 

Carro certo na hora errada

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Projetos não finalizados

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Carros que ficaram no passado

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Garagem atual

 

Brasília Puma

Quando compro um carro eu olho pra ele e ele “me diz” como quer ficar. A escolha entre original e customizado e qual estilo seguir é o primeiro passo — ou seja: tenho que montar o projeto na minha cabeça. Curiosamente nesse caso o projeto já estava pronto antes do carro ser comprado.

Explico: sou um antigo frequentador do Fórum Fusca Brasil (www.forumfuscabrasil.com), e a história dos Brasília-Puma foi assunto de um tópico bastante comentado em 2011. A reportagem da revista Auto Esporte de janeiro de 1974, que foi resgatada e publicada no fórum, mostrava cinco Brasílias montados no Rio de Janeiro pela concessionária Lemos e Brentar.

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Na época um forista muito hábil em photoshop fez a montagem a seguir, e pra isso utilizou um Brasília bege alabastro.

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Várias pessoas se mostraram interessadas em reproduzir um carro assim, mas ninguém se aventurou de fato. Quando comprei o meu carro na cor Bege alabastro, a imagem de como eu queria o carro já estava na minha mente.  Houve também a coincidência de eu ter vendido meu Puma 1972, e estar muito ligado à história da Puma e seus veículos.

A reportagem dizia que, logo após lançamento do Volkswagen Brasília, esse revendedor Puma havia customizado 5 Brasílias com diferentes receitas de preparação com kits Puma de performance, que iam desde carburação dupla 32 (que virou opcional original VW em 1975) até uma versão 1800 com dupla Solex PII. A customização incluía outros detalhes dos veículos Puma, como rodas e interior com mostradores dos esportivos, além da característica frente preta com a cara da Fera. Os carros da matéria e nunca mais foram vistos ou comentados.

Meu projeto parte de um veículo 1975, que era de um vizinho e que conheço a mais de 10 anos. Após o falecimento do ex-proprietário a família me vendeu o carro no início de 2015 e comecei uma restauração completa. Como já havia definido como seria o carro, meu próximo passo foi fazer uma lista da sequência de serviços que deveriam ser executados. Com minha lista de projetos passados, eu já tinha uma rede de profissionais de confiança pra levar o carro.

 

A restauração

Fechei o negócio com a família do ex-proprietário com a condição de pegá-lo somente ao término do processo de inventário, o que aconteceu em menos de dois meses. O irmão do ex-dono é muito amigo do Milton, dono da oficina que fez o serviço na lataria, e foi graças a essa amizade que eu tive acesso ao carro. Outro motivo que me fez fechar o negócio foi que, na época da Controlar, o motor dele tinha recebido uma “meia-sola” (cabeçotes refeitos e troca de comando) e quem tinha feito o serviço foi o Penha, meu mecânico de confiança.

O que falar do estado do carro? Usado. Bem gasto. Mas sem batidas, sem podres estruturais, desde 0 km na família. Do jeito que a gente gosta…

O carro me foi entregue direto na oficina. Só dei uma volta pra me sentir dono e na sequência ele já começou a ser “desossado”. Foi mandado pro vidraceiro, que removeu vidros, borrachas e fechadura. De volta pra oficina foram removidos o motor e, claro, as peças da lataria.

Um fato interessante foi que esse carro havia sido restaurado 20 anos atrás pelo pai do Milton, na mesma oficina, e o serviço foi bom e duradouro. O que precisou ser feito de funilaria foi: troca de assoalhos, duas folhas de porta e dois para-lamas. Consegui um par de assoalhos antigos, chapa 16, e o restante das peças originais. Alguns pequenos danos por ferrugem precisaram ser reparados, mas eram danos mínimos pra um carro que não tinha garagem coberta e trabalhou de sol a sol praticamente a vida toda.

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As colunas traseiras e as caixas de roda dianteiras, lugares particularmente problemáticos em Brasílias, não tinham podres, o que ajudou a finalizar a carroceria rapidamente. Também não precisei correr atrás de peças difíceis, como o capô dianteiro de um vinco, pois o original estava sem massa e sem batidas.

Esse período foi muito tranquilo pra mim, pois, depois de compradas as peças de lataria, eu passava por lá uma vez por semana, às vezes tinha novidade, às vezes não. O combinado foi que ele trabalharia no carro se não houvesse outros serviços de maior giro na oficina, o que é compreensível. Mas em qualquer outra oficina isso é um risco, pois o povo “esquece” do seu carro e uma simples troca de assoalhos demora anos. Mas o Milton é mais ansioso que eu, e quando um carro fica muito tempo parado no mesmo lugar ele já pensa em despejo.

Finalizada a funilaria deu-se início à pintura, primeiro por dentro dos para-lamas e cofre do motor.

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As peças foram montadas e o porta-malas pintado na sequência.

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Só então a parte externa da carroceria recebeu tinta. O material escolhido foi PU, muito mais fácil de manter que a tinta original Duco, na cor bege alabastro original. Cogitei trocar a cor, mas ia encarecer demais.

Após três meses de trabalho  o carro estava com a funilaria e a pintura finalizadas. As etapas seguintes, mecânica, elétrica, tapeçaria acabamentos externos eu conto pra vocês no post 2.

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Abraços!

Por William Rotea, Project Cars #323

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