O primeiro Volkswagen Gol foi meio que uma aberração na história global da Volks – um hatchback com motor boxer com arrefecimento por ar e tração dianteira, desenvolvido no Brasil. É bem verdade que o motor arrefecido a ar quase matou o Gol bem cedo, e que o carro só fez sucesso de verdade depois que o emblemático EA827 foi adotado. Décadas depois, porém, os exemplares com motor boxer são bastante cobiçados por entusiastas, tanto pelo valor histórico quanto pela natureza mais exótica do Gol “chaleira”.
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É comum que se pense que o Gol com motor a ar foi o único Volkswagen a utilizar o boxer aircooled na dianteira. Mas não é o caso – este título fica com um carro não muito mais antigo. Na verdade ele não era bem um carro, mas sim um furgão/picape extremamente rudimentar vendido em mercados seletos. Seu nome? VW EA489 Basistransporter. Mas pode chamar de VW Hormiga, como ele era conhecido no México (tente dizer “Hormiga” em voz alta e não ficar repetindo o dia todo).
O VW EA489 Basistransporter foi desenvolvido na Alemanha no início da década de 1970, e produzido a partir de 1976 na fábrica da Volks em Hannover. Ele foi criado para ser um veículo utilitário o mais básico possível – a ponto de utilizar chapas planas de aço corrugado na carroceria. Não havia preocupação alguma com a estética, e sim com o custo de fabricação. O emblema da Volks era a única “decoração” externa, que no mais era 100% voltada à funcionalidade e ao baixo custo – até os vidros eram todos planos.
Os primeiros protótipos tinham design diferente, com um capô ligeiramente destacado e para-brisa em uma única peça. Na versão de produção, a VW adotou formas ainda mais simples, eliminando o volume do capô e empregando o para-brisa bipartido.
Por dentro, havia sequer um painel de instrumentos de verdade – apenas um console na frente do motorista, com velocímetro e hodômetro, e o comando do farol. A cabine tinha espaço para três pessoas.
Pela mesma razão, o chassi era extremamente simples – do tipo escada, com longarinas e o motor boxer na dianteira para possibilitar um assoalho mais baixo e totalmente plano na área de carga. A suspensão era por barras de torção com braços triangulares na dianteira, e um eixo rígido atrás, com feixes de molas semi-elípticas.
O motor era o boxer 1600 da Volks, com exatos 1.584 cm³ e 45 cv, ligado ao conhecido câmbio manual de quatro marchas da VW. Com entre-eixos de 2,39 m, ele pesava 1.290 kg em ordem de marcha e tinha capacidade de carga de 1.000 kg – e velocidade máxima de apenas 85 km/h. A Volkswagen previa o uso como picape ou caminhão baú pequeno, mas também podia-se usá-lo como caminhão pau de arara (com assentos adaptados na caçamba).
O Basistransporter era produzido em kits CKD e enviado para países do leste da Ásia, como Filipinas (onde foi vendido como VW Trakbayan) e Indonésia (onde era chamado VW Mitra), mas ele também foi comercializado na Turquia, onde era vendido simplesmente como EA489. Na Indonésia, o Mitra até chegou a receber um facelift, ganhando uma cabine inspirada pela Kombi, porém com uma grade na dianteira para ventilar melhor o motor. Diferentes versões de carroceria, incluindo um furgão de passageiros e uma ambulância, foram oferecidas no mercado indonésio.
A versão mexicana foi fabricada entre 1977 e 1979, com um motor mais potente, de 50 cv, e o nome VW Hormiga – nome escolhido por ser apropriado a um veículo de trabalho. E foi lá que ele fez mais sucesso: enquanto a planta alemã fez 2.600 exemplares do Basistransporte, em Puebla, no México, foram produzidas cerca de 3.600 unidades do Hormiga.
Considerando sua simplicidade extrema e a ampla disponibilidade de peças (afinal, o Fusca foi produzido até 2003 no México), é provável que a maior parte deles ainda esteja prestando seus serviços aos mexicanos. E não apenas para carga – no México, a conversão do Hormiga para motorhome foi razoavelmente popular.