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Car Culture Zero a 300

WAT? Um Mustang fastback com motor V8 Hemi e a cara do Plymouth Superbird?

Por mais “liberal” que alguém seja quanto a modificações automotivas, sempre há aquele projeto ousado o bastante para colocar uma pulga atrás da orelha de qualquer um. Para muita gente, muscle cars clássicos são sagrados, e a rivalidade entre as três grandes de Detroit é algo com que não se brinca. Até que alguém aparece com um Ford Mustang 1966 todo modificado para lembrar um Dodge Charger Daytona, e ainda coloca um V8 Hemi (sim, um Hemi 426) debaixo do capô. Como é que a gente fica?

A verdade é que daria para ficar bem mais P da vida caso este Ford Mustang 1966 tivesse sido transformado recentemente, mas não foi este o caso: o proprietário, Dan Dhondt, já está com o Mustang há exatos 40 anos e foi o responsável por todas as modificações desde que ganhou o carro da mãe, em seu aniversário de 15 anos.

Dan, que vive na Califórnia, se apaixonou pelo carro em 1977 durante uma viagem de férias, quando o carro da família passou em frente a uma loja de carros usados. Alguns dias depois, ele pegou um ônibus, foi até a loja e fez uma oferta ao vendedor, que aceitou US$ 500. Faltava pouco tempo para o aniversário de Dan, e ele conseguiu convencer sua mãe a dar-lhe o cupê de presente.

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O Mustang de Dan no fim dos anos 70

Tendo pago o equivalente a US$ 2.000 em dinheiro de hoje pelo carro, Dan acabou com um Mustang com motor seis-cilindros que não andava, mas até que estava inteiro. Depois de consertar o carro sozinho, na base da “tentativa e erro”, Dan passou os meses seguintes curtindo seu Ford “novo” e, como todo jovem, pegou gosto por dar algumas esticadas. Não demorou muito mais para que a força do seis-em-linha Thriftpower (que não era exatamente forte, com 122 cv na versão mais potente, a de 3,3 litros) deixasse de satisfazê-lo.

Importante: se tratava de uma época diferente: Dan tinha 17 ou 18 anos de idade e seu carro ainda estava longe de ser um clássico – havia uma penca de Mustang seminovos rodando por aí, e o dele nem era dos mais legais. Olhando por este ângulo, parece até natural que Dan tenha decidido colocar um V8 Hemi no Mustang: era o fim dos anos 1970, e o big block de 426 polegadas cúbicas (sete litros) da Chrysler já havia se tornado uma lenda nas pistas de corrida. Basta mencionar que foi o Plymouth Superbird com motor Hemi 426 o responsável por trazer o lendário Richard Petty de volta à Chrysler na Nascar. E que, de tão rápido, foi banido das pistas pela organização.

Em 1980 Dan conseguiu encontrar um motor Hemi para instalar em seu Mustang. Era um Hemi dos mais antigos, vindo de um Chrysler Imperial dos anos 1950, mas era bom o bastante para o carro. Mas Dan logo notou que precisaria abrir um rombo no cofre para acomodar o big block. E assim foi: novamente fazendo boa parte do trabalho sozinho, Dan adaptou a suspensão com novos feixes de mola e reposicionou o eixo para que o V8 Chrysler coubesse no cofre (o que também exigiu que fosse feito um corte no capô, a fim de acomodar o scoop da admissão) e cortou o túnel de transmissão.

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Foi um projeto ao qual Dan dedicou-se no tempo livre, em fins de semana e folgas do trabalho, e por isto o andamento foi lento: no início da década de 1990, o carro estava com o motor Hemi instalado e o carro estava sobre suas quatro rodas, porém não havia mais a parte interna dos para-lamas e, por conta disto, não havia como usar o front clip original.

Foi aí que Dan encontrou um kit de fibra de vidro para a dianteira do Mustang à venda na Internet, fabricado pela empresa americana Fiberfab.

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O kit para a dianteira do Ford Mustang tinha forma de cunha, mas não fez muito sucesso na época simplesmente porque o visual do ‘Stang era muito agradável e os proprietários não faziam muita questão de modificá-lo. Dan construiu uma estrutura tubular para a instalação da nova dianteira e bem, instalou a nova dianteira. Aí, o projeto parou.

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Por quê? Bem, porque Dan casou, teve filhos e precisou focar em outras coisas. Só em 2014 foi que ele voltou a lidar com o Mustang. O primeiro passo foi instalar uma asa traseira fabricada por Ted Janek, americano especializado em peças de reposição para muscle cars dos anos 60 e 70 e terminar a pintura do carro, que ficou pronta em 2015. Os para-lamas traseiros foram modificados para acomodar os pneus maiores, o que deu ao Mustang um quê de Hot Wheels, enquanto o interior, ao que tudo indica, não passou por muitas mudanças.

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Foi só no ano passado que Dan decidiu tirar o Hemi ‘Stang do anonimato, criando um site para sua criação e até inventando uma pequena “história” para ele – que, obviamente, não passa de uma brincadeira: o carro é um protótipo que a Ford fez no fim dos anos 1960 ao espionar o desenvolvimento dos Winged Warriors (o Dodge Charger Daytona e o Plymouth Superbird), e por isso tem um motor Hemi e seu bodykit característico. Se fosse verdade, seria uma história e tanto (a história verdadeira do protótipo que a Ford fez está aqui).

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De qualquer forma, trata-se definitivamente de um projeto fora do comum. Acontece, mais do que isto, é um projeto de customização de época. E, por isto, ao menos na minha opinião, devolver a este Mustang a originalidade mecânica e estética acabaria destruindo boa parte de sua história – e, consequentemente, da história de seu dono. E isto não se faz.