Quem foi conferir o Salão Duas Rodas em São Paulo/SP, nas últimas semanas, teve a oportunidade de ver de perto uma das motos mais curiosas já produzidas em série: a Yamaha Niken – uma motocicleta de três rodas que, de acordo com a fabricante japonesa, é uma das mais revolucionárias peças de engenharia motociclística já feitas.
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“Calma lá, FlatOut! Com três rodas, ela não deveria ser considerada um triciclo?” Quando você faz esta pergunta, obviamente há um bom motivo – motocicletas, por definição, são veículos motorizados com duas rodas em tandem (uma atrás da outra). Etimologicamente falando, também: a palavra “motocicleta” vem de “motor + bicicleta”, enquanto “bicicleta” deriva da junção de “bi” (dois) e “ciclo” (círculo, referindo-se às rodas). Aliás, falando em etimologia: o nome “Niken” vem das palavras em ni (dois, em japonês) e ken (espada). As “duas espadas”, segundo a explicação da Yamaha, são os dois garfos dianteiros.
Em termos de construção, a Niken está bem mais próxima de uma moto do que um triciclo, com um quadro do tipo berço duplo – este, derivado da esportiva Yamaha MT-09.
Além disso, as duas rodas dianteiras não estão suficientemente separadas para que a Niken seja considerada um triciclo nos mercados onde ela atualmente é vendida. Na Europa, por exemplo, ela pode até mesmo “costurar” o trânsito, como a legislação permite que as motos façam.
Sua presença no Salão Duas Rodas, e o fato de possuir até mesmo um sistema de escape já homologado para o Brasil, indicam que a Yamaha Niken pode ser lançada no Brasil em um futuro próximo. Mas, afinal, qual é a ideia por trás da Yamaha Niken? Qual é a vantagem de uma moto de três rodas, além da estética completamente diferente, quase alienígena, quando comparada a outras motos? E, mais importante: como a Yamaha conseguiu fazê-la funcionar?
Não é tão difícil de compreender, na verdade. A princípio, uma das intenções da Yamaha com a Niken fica mais clara que as outras: encorajar entusiastas das motocicletas que não se sentem seguros em andar sobre apenas duas rodas – afinal, a moto de três rodas se equilibra sozinha e diminui bastante as chances de uma queda. Não apenas com a moto parada, mas também em curvas – apesar das duas rodas dianteiras, a Niken consegue se inclinar em até 45°, com ambas perfeitamente coladas ao chão.
Isto é possível por causa do sistema de suspensão e esterçamento – que, apesar da aparência meio desajeitada, parece funcionar muito bem. O chamado Leaning Multi-Wheeler (“Inclinação com Múltiplas Rodas”, em tradução livre) consiste em um garfo dianteiro duplo com um suportes assimétricos para as rodas, ligadas na parte superior por uma barra de direção horizontal. Quando a moto se inclina em uma curva, a barra e os suportes garantem que ambas as rodas permaneçam perfeitamente paralelas, sempre com 410 mm entre as bitolas. Os amortecedores invertidos, dois para cada lado, dividem funções: a peça de trás absorve os impactos, e a dianteira ajuda a manter a roda na direção correta.
A Yamaha afirma que, de fato, o sistema inspira mais confiança em motociclistas inexperientes, pelas já citadas razões de equilíbrio. Por outro lado, com um motor tricilíndrico de 847 cm³, 115 cv e 8,9 kgfm de torque (moderados por um câmbio de seis marchas) dificilmente ela seria de fato indicada para condutores iniciantes. Ela é capaz de chegar aos 193 km/h, e pesa 263 kg.
De todo modo, a fabricante diz que o maior benefício se apresenta nas curvas em situações de baixa aderência. Como o esterçamento é reduzido e a área de contato dos pneus com o asfalto, mais uniforme, pode-se fazer curvas com bastante inclinação e mais estabilidade. Além disso, a fabricante garante que a sensação é exatamente a mesma de uma motocicleta convencional. Ainda que fique difícil acreditar sem realmente fazê-lo, é exatamente isto que dizem os reviews da Niken publicados em sites europeus. Por lá, ela já é vendida desde o final de 2018, meses depois de sua estreia no Salão de Milão.
Imaginamos que a legislação brasileira, que define a motocicleta como um “veículo automotor de duas rodas, com ou sem side-car, dirigido por condutor em posição montada”, poderia ser um empecilho para a homologação da Yamaha Niken no Brasil. Apesar disto, sua experiência de condução é intrigante – gostaríamos de experimentar na prática.