Nesses loucos dias é praticamente impossível manter qualquer coisa em segredo – smartphones com boas câmeras, conexão de internet no seu bolso e redes sociais para todos os gostos dificultaram bastante a vida de quem quer guardar algo para si e mais ninguém.
Portanto, é impressionante que, em pleno 2016, alguns mistérios continuem sendo mistérios, mesmo depois de observados, analisados e stalkeados por toda a internet. É o caso deste carro.
Seu nome parece ser 600 Royale — afinal, é o que está escrito em sua traseira. Isso é tudo o que se sabe a seu respeito. Quem fez, quem mandou fazer, quando ele foi feito e a quem ele pertence é um grande mistério. Chega a ser empolgante, não?
Pois bem, vamos aos fatos: este carro apareceu pela primeira vez na internet há quase exatamente um ano, em meados de dezembro de 2015, na página da Galpin Auto Sports no Facebook. Para quem não lembra, a Galpin é uma companhia americana famosa por aparecer no antigo programa Pimp My Ride da MTV americana. Em 2014, os caras revelaram o Galpin-Fisker Rocket, um Mustang com compressor mecânico, 735 cv e carroceria alargada feita de fibra de carbono.
Lembrou? Então, continuando: não há um link para a publicação original na página da Galpin porque as fotos foram removidas logo depois da publicação. Isto dificultou um pouco as coisas, pois desde então, tudo o que restou a respeito do 600 Royale na internet foram alguns vídeos curtos, como este:
Procurando mais um pouco, topamos com outros vídeos – alguns deles, em formato slideshow, mostrando mais flagras do carro nas ruas:
O carro está licenciado na Califórnia e costuma sair da garagem com relativa frequência. Há muitas fotos dele feitas por car spotters de plantão, porém quase todas são feitas na Europa. No entanto, nenhum deles jamais conseguiu falar com seu dono a respeito do Royale. Por isso, esta é uma história cheia de suposições e com pouquíssimas certezas.
As suposições começam com o visual do carro. À primeira vista, os elementos retrô e o nome 600 (que não aparece mais na traseira do carro nas fotos recentes), nos levam a crer que ele foi inspirado no 600 W100, a limousine favorita dos ditadores e astros do cinema das décadas de 1960 e 1970.
Há ainda quem diga que se trata de uma homenagem ao W112, o Classe S dos anos 1960, embora não vemos muito sentido em homenagear um modelo relativamente comum.
Por outro lado, o W112 e o 600 W100 compartilhavam a mesma identidade visual, com faróis verticais, grade dianteira cromada, uma enorme área envidraçada e três volumes muito bem definidos – além da profusão de elementos cromados no exterior, que até hoje é uma característica comum em carros de alto luxo.
Pesquisando mais a fundo, também descobrimos qual o carro usado como base para a homenagem. A imprensa estrangeira decidiu chamá-lo de S600 Royale pensando se tratar de um S600 da geração atual (W222), lançado em 2014, e também devido ao badge 600 que ele ostentava até meados deste ano. Mas pesquisando a placa do carro descobrimos que se trata de um S550 2014. Isto significa que, se for original, o motor é um V8 biturbo de 4,7 litros e 455 cv, e não um V12 de 6 litros. Faz sentido: o W100 usava o primeiro motor V8 produzido pela Mercedes: o lendário M100 de 6,3 litros.
Continuando, os emblemas do carro também são estranhos: em vez da estrela de três pontas, um círculo com um único bastão. Não conseguimos ligar o símbolo a nenhuma companhia.
No vídeo, podemos ver mais detalhes do carro: os faróis e lanternas do Mercedes-Benz SLS AMG, as rodas que parecem ter sido feitas sob medida, os respiros nos para-lamas dianteiros e a grade, que é bastante fiel à dos carros que lhe serviram de inspiração.
Da carroceria original do S550 W222 não restou nenhum painel. A coluna C foi modificada para ficar mais vertical, o que alterou completamente a silhueta do veículo e fez com que a homenagem ao W100 ficasse ainda mais evidente.
No fim das contas, o resultado ficou até interessante, ainda que alguns dos componentes tenham um aspecto moderno demais para se encaixar com harmonia no carro. Dito isto, o projeto parece ter sido muito bem executado, sem adaptações grosseiras aparentes, e com capricho na construção.
O que nos traz à nossa última e maior dúvida: quem fez este carro? Quando a Galpin excluiu as imagens originais, muita gente pensou se tratar de um carro feito pela preparadora americana, que tentou exibir sua criação, porém acabou repreendida pelo cliente. Nesta época, a Galpin também estava trabalhando em parceria com Henrik Fisker no desenvolvimento do Mustang Rocket. Ligando os pontos, inicialmente parecia claro que o carro havia sido projetado por Fisker e construído pela Galpin.
Contudo, o designer dinamarquês responsável por carros como o BMW Z8 e o Aston DB9 negou que o excêntrico Mercedes tenha sido obra sua. De fato, o carro não tem nada da assinatura de estilo de Fisker.
Depois, falou-se na preparadora alemã Carlsson Fahrzeugtechnik, famosa por seus projetos extravagantes baseados nos carros da Mercedes-Benz. Os rumores diziam que o carro era uma encomenda de um milionário do Oriente Médio. Só que, como já dissemos, o 600 Royale está rodando na Europa. Os milionários sauditas até costumam ficar no circuito Londres-Paris-Oriente Médio, porém emplacam seus carros em seus países de origem, e não nos EUA.
Não há muitas empresas no mundo capazes de fazer modificações assim extensas a um carro moderno como o Mercedes Classe S W222. Além disso, um Classe S é caro em qualquer lugar do planeta e um projeto desse tipo pode facilmente superar o valor de compra do próprio carro. Estamos falando de alguém muito rico — e também muito reservado. Ou talvez seja apenas um cara comum, que se apaixonou pelo W100 quando garoto e, depois de fazer fortuna decidiu dar a si mesmo uma releitura moderna do modelo.
Tudo o que sabemos é que qualquer que seja a história por trás deste carro, seu proprietário não quer sair contando-a por aí.