Imagine uma coleção Corvette formada por um modelo de cada ano de produção — desde o início, em 1953 até 1989 quando ela foi completada. Seria um belo pedaço de história sobre rodas, não? Pois ela existe: é a coleção do artista Peter Max que, por si só, já é impressionante. E fica mais ainda quando se descobre sua incrível história, que começou com um concurso do canal de TV VH1 em 1989 e só agora tem seu desfecho revelado — um final feliz, para alegria de todos os apreciadores do Corvette: eles serão totalmente restaurados.
Em 1989 o VH1 abriu um concurso cujo prêmio era uma coleção de 36 Chevrole Corvette. O canal não ia muito bem das pernas e contratou o produtor de TV Jim Cahill para bolar uma maneira de levantar fundos para a emissora. Ele, entusiasta do Corvette, teve a ideia quando viu um exemplar 1962 impecável pelas ruas de Hollywood: comprar um Corvette de cada ano em que o modelo fora fabricado até então: 36 carros, de 1953 a 1989, e oferecer a coleção como prêmio em um concurso.
Cahill gastou US$ 610 mil (pouco mais de R$ 1,5 milhão) em todos eles, sempre procurando exemplares que eram usados regularmente e estavam em boas condições gerais. Ele dirigiu todos eles para casa — um por noite —, por 36 noites e os manteve nas melhores condições possíveis enquanto fazia fotos promocionais e divulgava o concurso.
Para participar bastava ligar para a emissora e esperar. Cada ligação custava US$ 2 e, nos primeiros dias, mais de 1,3 milhão de pessoas haviam participado. O VH1 recuperou seu investimento rapidamente e o carpinteiro Dennis Amodeo, de Long Island, estado de Nova York, foi o vencedor. Ele só ligou uma vez, e voou para Hollowood para receber seu prêmio.
Só que o prêmio não ficou com o carpinteiro para sempre. Antes mesmo de conseguir levar os carros para casa ele recebeu uma ligação do artista Peter Max, um dos maiores responsáveis pelo movimento psicodélico na década de 1960, que se interessou pelos carros para executar seu novo projeto — que incluía, entre outras coisas, pintar os carros com cores brilhantes e temática hippie.
Amodeo fechou o negócio por US$ 250 mil em dinheiro e US$ 250 mil em obras de arte (um belo retorno para seu investimento de dois dólares, diga-se), mais uma parcela do lucro caso os carros fossem vendidos novamente. Eles seriam levados para Nova York, e Jim Cahill cuidou de toda a logística do transporte assegurando-se de que os carros estivessem limpos e em perfeitas condições de uso quando chegassem.
No início, Peter Max até fez alguns testes de pintura nos carros, mas ao longo dos anos ele se envolveu com outros projetos (além de uma investigação por sonegação de impostos) e os ‘Vette acabaram esquecidos em diversas garagens nova-iorquinas ao longo dos anos até caírem nas mãos de Scott Heller que, com seu primo Peter Heller e os filhos Adam e Mike Heller, comprou os carros em julho deste ano. Agora eles serão restaurados e vendidos — os Heller vão tentar leiloar todos os 36 carros de uma só vez mas, se não conseguirem, irão vendê-los separadamente.
Antes disso, porém, os carros ficaram famosos entre os entusiastas na Internet. Tudo começou em 2005 quando um usuário do fórum Digital Corvettes encontrou os carros em uma garagem no Brooklyn. Todos já sabiam do que se tratava graças a um artigo da New York Magazine, e os fãs ficaram em polvorosa quando viram que todos eles estavam ali — alguns em melhor estado, outros mais judiados, mas todos precisando de bons cuidados — estes que, aparentemente, não viriam tão cedo.
Cada mudança de endereço dos carros foi rastreada pela comunidade de entusiastas do esportivo de fibra de vidro até 2010, quando eles simplesmente desapareceram. Peter Max dizia que eles estavam em um lugar seguro e que faria algo com eles assim que conseguisse fundos para isto. Mas ele acabou vendendo os carros para os Heller no início de 2014.
A oficina responsável pela restauração fica a cerca de 50 km do endereço atual dos carros — uma antiga concessionária Packard em Manhattan. Todos os carros estão sendo restaurados a todo vapor para ficarem prontos a tempo do leilão no ano que vem.
Os carros que estão em estado mais crítico são dois exemplares da década de 1950 — um 1955 e um 1953, e ambos receberão uma restauração ainda mais cuidadosa. Este último é o mais valioso de todos eles, pois é uns dos 300 exemplares fabricados no primeiro ano do Corvette. Todos os outros, porém, passarão por sessões de limpeza que podem durar até duas semanas, fora toda a recuperação de emblemas, detalhes de acabamento, componentes do interior e painéis da carroceria.
Segundo o New York Times, este tipo de restauração pode levar até dois anos, mas a expectativa é ter os carros prontos em meados de 2015. Vamos acompanhar o desenrolar desta história bem de perto mas, como dissemos ali no começo, já consideramos este um final feliz.
[ Fotos: New York Times, Digital Corvettes ]