no inicio dos anos 1980 os motores turbo de quatro cilindros da bmw fornecidos a brabham para a formula 1 atingiram niveis de potencia jamais imaginados para um motor de quatro cilindros turbo mesmo para a formula 1 os numeros sao impressionantes mesmo hoje depois de 40 anos desde seu surgimento 1 100 cv nas configuraçoes de classificaçao e 800 cv na configuraçao de corrida o carater quase sobrenatural destes motores nao se deve apenas aos numeros de potencia mas tambem a receita dos motores que eram baseados em blocos usados de carros de rua e como se a mercedes pegasse o quatro cilindros do a250 e a partir dele fizesse o motor do w11 de lewis hamilton segundo relatos da epoca o segredo do desempenho insano destes motores estava na seleçao e no tratamento dos blocos de ferro fundido que envolvia motores com alta quilometragem intemperies e urina de engenheiros sim urina humana [caption id= attachment_281469 align= aligncenter width= 999 ] cheiro estranho nelsao [/caption] de acordo com uma lenda que acompanha estes motores por quase 40 anos alem de todo o processo de engenharia para trabalhar o bloco dos motores de f1 havia um processo mais organico no qual os funcionarios da bmw motorsport simplesmente esvaziavam a bexiga nos blocos seria isso parte da mitologia do automobilismo romantico ou ha um fundamento tecnico cientifico no tratamento diuretico dos metais a origem do m12/13 para começar a responder vamos aos anos 1950 quando o engenheiro alex von falkenhausen começou a desenvolver uma nova familia de motores de quatro cilindros para a nova classe de automoveis da bmw este motor batizado m10 era robusto superdimensionado para que pudesse ser aplicado aos diversos modelos derivados desta nova classe da bmw era um motor avançado para seu tempo lançado em 1962 ele tinha bloco de ferro fundido e cabeçote de aluminio com um comando simples no topo e teve versoes de 1 5 a dois litros o motor acabou usado por mais de 25 anos — so saiu de linha em 1988 — e foi a base da bmw para suas incursoes no automobilismo durante os anos 1960 [caption id= attachment_281516 align= aligncenter width= 999 ] paul rosche e seu desenvolvedor de motores da f1[/caption] o principal nome por tras da carreira esportiva do motor m10 e paul rosche o lendario engenheiro que serviu apenas a bmw em toda a sua carreira foi contratado pela fabricante bavara em 1957 logo apos sua graduaçao como engenheiro e teve como seu primeiro grande projeto a versao de 80 cv do motor m10 1 5 que mais tarde daria origem ao 1800ti/sa de 130 cv produzidos por dois carburadores solex depois de mostrar que sabia como transformar o m10 em uma maquina esportiva naquele inicio dos anos 1960 rosche acabou especializado na divisao esportiva da marca depois que seu chefe alex von falkenhausen convenceu o alto escalao da bmw a ingressar no automobilismo eles investiram principalmente em duas frentes o campeonato europeu de turismo e o campeonato europeu de formula 2 nas duas categorias as derivaçoes do motor m10 foram a base de seus carros conheça seus inimigos e copie o que eles tem de melhor quando a bmw ingressou no automobilismo as duas categorias que disputava eram dominadas pela mesma empresa a lotus de colin chapman e o segredo para seu sucesso eram os motores de comando duplo no cabeçote desenvolvidos por mike costin e keith duckworth nos carros de turismo este motor era o lotus ford twin cam uma derivaçao do motor kent com cabeçote de aluminio com comando duplo e fluxo cruzado na formula 2 a lotus usava uma outra variaçao do motor kent com um cabeçote ainda mais avançado que mantinha o comando duplo mas ganhava duas valvulas a mais em cada cilindro alem disso os angulos de valvulas foram modificados de forma que as valvulas de admissao e escape formavam um angulo de 80 graus entre si o que otimizava drasticamente o fluxo dos gases na camara de combustao e produzia quase 40% mais potencia que o motor anterior usado pela lotus fornecido pela coventry climax https //flatout com br/como e por que o ford cosworth dfv se tornou o motor mais vitorioso da f1/ era o motor four valve type a mais conhecido como fva este motor acabaria se tornando a base para o v8 dfv que dominaria a formula ate a consolidaçao dos motores turbo nos anos 1980 o fva era um assombro ele venceu os campeonatos de 1967 a 1971 em sequencia deixando as outras fabricantes em segundo plano na categoria uma destas fabricantes era claro a bmw diante de um concorrente imbativel rosche fez a unica coisa que qualquer pessoa sensata faria conseguiu um motor fva e aplicou um pouco de engenharia reversa foi quando ele percebeu que o segredo do desempenho do fva estava no cabeçote na posiçao das valvulas inclinadas a 40 graus nascia ali o motor m12 turbo enquanto o motor m12 acelerava no europeu de formula 2 nos carros de turismo paul rosche fez o primeiro dos motores turbo que escreveram um capitulo inteiro na historia da bmw novamente usando o bmw m10 como base rosche desenvolveu uma versao do motor 2 0 sobrealimentada por turbocompressor batizada m14 com uma tecnologia que ninguem tinha o carro tinha desempenho superior e venceu o campeonato naquele ano o sucesso do motor abriu o caminho para o bmw 2002 turbo em meados dos anos 1970 com a aposentadoria de falkenhausen em 1975 rosche assumiu o posto de diretor tecnico da bmw motorsport e com a ajuda de jochen neerspasch chefe da bmw motorsport na epoca iniciou uma campanha para colocar a bmw na formula 1 com o motor m12 nao deu certo neerspasch pediu demissao para piorar as coisas o motor turbo nao seria usado no supercarro da bmw que estava em desenvolvimento apesar de o 2 0 turbo ter sido usado no conceito bmw turbo a versao de produçao do esportivo acabou equipada com um seis em linha aspirado parecia o fim da era turbo para a bmw a formula 1 mas em 1980 o sucessor de neerspasch dieter stappert convenceu o conselho da bmw a iniciar um programa para a formula 1 desta vez eles conseguiram e depois de dois anos de testes o motor m12 estreou no brabham bt50 de 1982 combinando o cabeçote do m12 de formula 2 ao turbo do m14 do europeu de turismo depois de abandonar sua corrida de estreia na africa do sul o bt50 acabou substituido nas tres provas seguintes pelo antigo bt49b mas voltou a ser usado por nelson piquet a partir do gp da belgica daquele ano piquet terminou em quinto na zona dos pontos mostrando que o motor tinha potencial e que bastaria resolver os problemas de confiabilidade isso ficou claro no gp de monaco onde piquet abandonou com um problema no turbo e no gp de detroit quando os problemas do motor m12/13 o impediram de tentar a classificaçao — tanto no carro principal quanto no carro reserva na etapa seguinte contudo o gp do canada piquet venceu a prova dando a bmw sua primeira vitoria na f1 tres semanas depois em zandvoort nelson chegou em segundo tambem naquela temporada piquet conseguiu a volta mais rapida no gp da alemanha e da austria e mostrou o potencial do motor em configuraçao de classificaçao com uma pole no gp da austria apesar do desempenho nestas provas o motor ainda era pouco confiavel e depois do segundo lugar na holanda ele completaria apenas o gp da suiça no ano seguinte contudo a historia mudaria para piquet para a bmw e para a brabham com o motor melhor desenvolvido a brabham terminou o campeonato de construtores em terceiro lugar e nelson conquistou seu segundo titulo com tres vitorias tres segundos lugares um terceiro lugar quatro voltas mais rapidas e uma pole riccardo patrese apesar dos abandonos no inicio da temporada ainda conseguiu uma volta mais rapida uma pole e uma vitoria no encerramento da temporada o motor turbo da bmw chegava ao seu auge na formula 1 o m12/13 para entender o motor m12/13 e preciso considerar o contexto da epoca renault e ferrari as unicas que disputaram a temporada de 1982 com motores turbo usavam v6 as demais equipes ainda eram embaladas em sua maioria pelo v8 dfv da cosworth enquanto alfa romeo e matra usavam motores v12 somente a brabham e a toleman usavam motores de quatro cilindros ambos com apenas um turbo — ferrari e renault usavam um turbo para cada lado do v6 https //www youtube com/watch v=0w pokzmou4 em 1983 a maioria das equipes abandonou o antiquado v8 dfv e seus concorrentes aspirados para adotar motores turbo novamente a maioria correu com v6 e v8 turbinados e apenas a toleman e a brabham usaram os quatro cilindros naquele ano o bmw m12/13 produzia 740 cv com 3 bar de pressao em configuraçao de corrida nos treinos a pressao era pouco mais elevada e a potencia chegava aos 800 cv https //youtu be/6ko5bvtooog em 1984 o turbo garrett idm 5322 de aço inoxidavel passou a trabalhar com 3 8 bar na configuraçao de corrida produzindo 880 cv e 4 5 bar na configuraçao de classificaçao atingindo 1 150 cv em 1986 seu ultimo ano e seu auge em termos de eficiencia o turbo operava produzindo 3 6 bar para gerar 850 cv na configuraçao de corrida nos treinos o ajuste permitia atingir 4 9 bar e 1 300 cv mil e trezentos cavalos vapor em 1986 ate hoje a formula 1 nao atingiu esse patamar — estima se que a mercedes tenha chegado a pouco mais de 1 000 cv na temporada de 2020 os segredos da bmw motorport calma eu nao esqueci que o foco desta materia e esclarecer se o pessoal da bmw realmente despejava a sua produçao renal sobre os blocos e que para chegar a esta etapa da conversa era importante saber todos estes detalhes contados ate agora o principal aqui e saber que eram motores de carros de rua que foram usados como base do programa da bmw no automobilismo e que com uma ajuda involuntaria da cosworth acabaram se transformando em um motor muito mais eficiente que o original agora entra a parte da lenda os varios relatos sobre estes motores contados nas revistas dos anos 1980 nos livros dos anos 1990 e na internet dos anos 2000 dizem que os blocos eram tao resistentes tao capazes de suportar quase 5 bar de pressao porque eram selecionados de carros usados que tivessem rodado no minimo 100 000 km conta se tambem que os blocos selecionados eram largados a ceu aberto sob sol e chuva neve e umidade frio e calor para ficarem mais resistentes ha variaçoes sobre a seleçao dos motores uma delas diz que os blocos vinham de taxis porque rodavam muito sem tantos problemas isso supostamente resultaria em um estoque dos melhores blocos possiveis alem de tudo isso os blocos expostos ao tempo tambem serviam de mictorio para o pessoal da bmw e a urina supostamente causava uma açao fisico quimica no metal algumas fontes mencionam que o proposito de esvaziar a bexiga sobre os blocos era favorecer a nitretaçao que e um tipo de tratamento termico que afeta a estrutura cristalina da superficie dos metais tornando os mais duros entao o processo era louco mas perfeitamente eficiente os motores mais rodados em bom estado eram mais estaveis porque ja haviam sido usados por centenas de ciclos de aquecimento e resfriamento e desgaste em geral a urina era uma forma supostamente eficiente de arrefecer os blocos em seu tratamento termico seria um processo e tanto se fosse real nao infelizmente ele nao era a realidade nesse caso e bem menos interessante que a lenda caçando mitos os motores realmente ficavam a ceu aberto em um processo de climatizaçao natural mas este e um processo de estabilizaçao relativamente comum com varios materiais madeiras nobres por exemplo precisam secar naturalmente para ganhar rigidez e evitar empenamentos indesejados o metal tambem tem sua estrutura estabilizada pela alternancia de temperatura e umidade especialmente quando recem saidos da fundiçao pois e a bmw nao saia comprando carros usados nem trocava os motores de taxistas na concessionaria para separar seus blocos eles simplesmente fundiam blocos novos e iniciavam o tratamento termico e a estabilizaçao quem disse isso foi um dos personagens centrais da fase bmw brabham gordon murray o lendario projetista sul africano declarou a revista race car engineering que apesar dos blocos terem sido de fato climatizados ao ar livre para garantir a estabilizaçao de suas dimensoes eles eram novos quanto ao uso dos blocos como mictorio bem imagine uma corporaçao responsavel por produzir mais de 1 000 000 de automoveis com mais de 50 000 funcionarios com capital aberto e açoes nas principais bolsas do planeta essa era a bmw na epoca da para imaginar um cantinho a ceu aberto onde seus funcionarios iam regularmente urinar sobre os motores [caption id= attachment_281515 align= aligncenter width= 840 ] patio de tratamento de blocos de motores da bmw segundo a lenda[/caption] alem disso a nitretaçao precisa ser feita com os motores quentes — e aqui me refiro as temperaturas necessarias para alterar a estrutura cristalina do metal superiores a 800ºc os motores saem aquecidos do fogo e imediatamente sao arrefecidos com urina como a lenda da urina sobre os motores curiosamente nao existe em alemao os relatos sao contados em ingles e em portugues — provavelmente por traduçao das materias anglo americanas livros de credibilidade sobre o tema nao mencionam o suposto tratamento mijotermico some isso a improbabilidade de haver um cantinho de grama/brita onde a urina se acumulava a ceu aberto dentro de uma mega corporaçao como a bmw e voce vera que a chance de isso ter acontecido e zero agora como curiosidade a ideia de urinar sobre metal para estabiliza lo nao e tao absurda como pode parecer um dos primeiros registros sobre metalurgia publicado no seculo 12 relata que havia um armeiro que usava urina de um garoto ruivo para obter laminas mais resistentes que as convencionais com tempera feita em agua outras fontes mencionam que este processo ja era utilizado pelos armeiros romanos que perceberam que as laminas mergulhadas em urina eram mais resistentes que as laminas mergulhadas em agua faz sentido a agua fresca tende a se manter na casa dos 20ºc a 25ºc enquanto a urina e expelida em uma temperatura proxima a do corpo humano entre 35ºc e 37ºc os dez graus a mais poderiam realmente ter resultado em uma tempera mais eficiente so nao me pergunte como levaram esta historia para uma fabricante de motores do seculo 20
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