Desde que a placa do Mercosul foi finalmente implementada em praticamente todo o Brasil, tenho visto muitas críticas de antigomobilistas sobre como o novo padrão matou a placa preta e sobre como ele retira o charme dos clássicos com o novo padrão de cores. Até mesmo petições estão circulando para solicitar o redesenho da placa que irá identificar os clássicos. Eu concordo com eles — em partes.
Também acho que a nova placa tira o charme dos clássicos originais com um design moderno, dissonante das linhas do carro. Remete um pouco àquelas fotos de bastidores de filmes e séries de época, com câmeras Panavision em plena Idade Média. Também acho que o novo padrão de cores é feio, e que a diagramação da placa é amadora. Já viu quantas vezes aparece a identificação do País?
Vou além nas críticas: acho o padrão novo completamente desnecessário, sendo apenas uma cópia mal-feita do padrão europeu — que, ironicamente, tem futuro incerto com o enfraquecimento da União pelo Brexit. Mas isso é outro papo. O Brasil copiou o padrão europeu para nosso mercado comum — igualmente copiado do Velho Mundo — e ignorou as gritantes diferenças geográficas, políticas e econômicas entre o Mercosul e a União Europeia, como o fato de a União Europeia inteira ser quase a metade do território brasileiro.
Não havia realmente a necessidade de criar um novo padrão, quanto mais de unificá-lo com três países vizinhos — como falamos neste post. Especialmente com um design tão amador e mal-feito. A combinação de cores é incorreta — há cores complementares, que geram um contraste incômodo, caso do azul com o vermelho das placas comerciais; há placas sem contraste, caso do cinza e branco das placas de coleção (visto que o cinza, em impressão CMYK, é uma dosagem de branco com preto — daí os nomes “preto 90%, preto 50%, preto 10%) e do amarelo e branco das placas diplomáticas.
Fora isso, a placa mostra três vezes a identificação do país sem motivo algum: há a sigla, a bandeira e o nome por extenso na faixa azul. Para automóveis que raramente sairão de seus países!
O problema, para quem não gostou, é que agora é praticamente impossível reverter esta bizarrice. Os fabricantes e estampadores já compraram o ferramental e o maquinário, os Detrans já instalaram seus sistemas, Uruguai, Argentina e Paraguai já estão emplacando seus carros com as novas placas. Desfazer tudo isso custa dinheiro, dá trabalho e leva tempo. Dificilmente os governos voltarão atrás — mesmo no padrão da placa de coleção.
Por isso não adianta mais reclamar que a placa nova é feia, que a beleza clássica dos nossos carros será maculada por esta aberração estética. O que nos resta é tentar recuperar o tempo perdido.
Veja: a placa foi anunciada em 15 de dezembro de 2010 e teve seu padrão apresentado em 8 de outubro de 2014, com implementação prevista para 2016. É claro que tudo acabou atrasado e as primeiras placas só apareceram em dezembro de 2018. Embora soe como uma grande trapalhada, isso significou ao menos dois anos para uma mobilização — com os adiamentos tivemos seis anos e uma grande oportunidade na última suspensão, anunciada em 2019. Uma janela de tempo em que poderíamos até mesmo ter discutido a placa para veículos antigos modificados, uma demanda de longa data dos proprietários de hot rods e restomods.
Infelizmente não deu. As placas pretas acabaram e foram substituídas por uma placa que ninguém diferencia das placas regulares à distância — algo fundamental para a fiscalização presencial, não?
É importante lembrar, contudo, que a placa de coleção não foi extinta, somente seu padrão preto com caracteres cinza-claro. A nova placa de coleção, branca com caracteres cinza-claro, exigirá os mesmos requisitos da antiga placa preta: certificado de originalidade emitido por clube filiado à FIVA e idade superior a 30 anos.
Por um lado, os antigomobilistas acreditam que a nova placa irá espantar os especuladores, que procuram a placa preta apenas como forma de valorização de carros antigos — às vezes não muito originais — ignorando a verdadeira finalidade da placa de coleção. Ao mesmo tempo elas deixam de diferenciar visualmente os veículos de coleção, além da já citada falta de harmonia com o design dos carros antigos.
Diante da mudança consumada, os antigomobilistas iniciaram um movimento que pretende coletar 20.000 assinaturas em uma petição que será protocolada junto ao Denatran para solicitar uma reunião técnica na qual serão expostas as demandas dos colecionadores e verificada a viabilidade do retorno da placa com fundo preto aplicado ao padrão Mercosul. Como isso envolve relações diplomáticas, será uma batalha longa e árdua — mas mesmo as mais longas jornadas começam com o primeiro passo, não?
Se você gostaria de apoiar o movimento, clique aqui e assine a petição.