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Governo deve propor alteração na gasolina para 2025
Você talvez tenha visto há alguns dias que tramita no Congresso Nacional, em caráter de urgência, um projeto de lei que pretende alterar o teor de álcool anidro na gasolina para até 35%, além de aumentar progressivamente o teor de biodiesel adicionado ao diesel brasileiro. O projeto causou polêmica pois foi aprovado na Câmara sem um parecer técnico.
Alguns dias depois, foi colocado em pauta um outro projeto de lei que visa proibir a venda de carros a gasolina, diesel e gás natural no Brasil após 2030, sendo permitida a comercialização apenas de carros novos movidos a etanol após esta data.
Ambos os projetos parecem convergir com a agenda ambiental proposta pelo Fórum Econômico Mundial, que visa combater as mudanças climáticas controlando as emissões de carbono pelos meios de transporte, entre outras medidas.
Como o projeto do “combustível do futuro” foi aprovado quase que por unanimidade na Câmara — com apenas 19 votos contra e três abstenções entre os 513 deputados —, e já levando em consideração a proposta da proibição dos veículos movidos a gasolina, alinhada com Califórnia e Europa, o governo estuda a possibilidade de inverter a atual proporção de álcool anidro na gasolina comum: em vez dos atuais 27% de álcool anidro e 73% de gasolina, esta nova gasolina teria 73% de etanol e 27% de gasolina. Como mais de 70% dos carros brasileiros são flexíveis em combustível, não haveria impacto significativo nestes motores.
Os outros 30% da frota são compostos por carros movidos a diesel (SUV e picapes de passeio) e modelos somente a gasolina ou somente a etanol — estes últimos podendo ser premium ou mais antigos, o que seria “indesejado” para as emissões. Para estes, o governo pretende manter a proporção das gasolinas premium, que atualmente contêm 25% de álcool anidro.
A decisão, claro, não será imposta pelo governo federal. A proposta deverá ser redigida pela presidência e enviada à Câmara, que a colocará em pauta para que ela seja discutida pelos congressistas. Como ela tratará do mesmo tema que a proposta do “combustível do futuro”, ela certamente será apensada à proposta atual, substituindo o texto parcial ou integralmente. Caso o projeto seja enviado em regime de urgência, ele deverá tramitar até o final do ano.
Japoneses de olho nos clássicos da Gurgel
Depois do sucesso dos JDM, os carros exclusivos para o mercado doméstico japonês, parece que é a hora e a vez dos BDM, Brazilian Domestic Market, os carros exclusivos do mercado brasileiro no período de importações restritas. Como vocês lembram bem, não faz muito tempo que os europeus e americanos compraram todas as Kombi brasileiras que puderam, além de SP2 e Karmann-Ghia TC. Agora, ao que parece, é a hora e a vez dos japoneses vindo comprar o mais nacional de todos os veículos: os Gurgel bicilíndricos.
Já é difícil achar os Moto-Machine, já que o modelo foi produzido em um número baixíssimo de unidades e, ao que tudo indica, alguns destes poucos carro já foram restaurados e enviados para a Terra do Sol Nascente, onde a procura pelo raro e pequeno carro brasileiro se tornou uma pequena febre entre os colecionadores, e que iniciou uma subcultura chamada Suizokukan no kyūban ou na forma reduzida da gíria local, “Suiz-Kyú”.
E a procura parece não arrefecer: agora também estão ficando populares os BR-800 e Supermini. Exemplares antes renegados da história nacional estão sendo vendidos à preços inimagináveis pouco tempo atrás, com carros originais chegando a custar até R$ 45.000 em anúncios por aqui. Se você sempre quis ter um BR800, parece que perdeu o bonde da história: nunca mais serão baratos como foram.
Por algum motivo perdido na tradução, por lá os Gurgel nunca são modificados e permanecem originais. João Augusto do Amaral Gurgel parece ter seguidores de fervor quase religioso, e qualquer modificação em suas criações é motivo para vergonha “para todas as gerações de sua família”, disse o presidente do Clube Gurgel de Osaka, Paulo Hideki Akiyama (sim, ele é filho de imigrantes nipo-brasileiros). Curiosamente, apenas os Gurgel bicilíndricos são procurados no Japão; todos os outros “não são Gurgel de verdade”, segundo o clube, que os considera meros “kit cars” baseados na mecânica Volkswagen.
O BR800, lançado em 1989, vinha com um bicilíndrico arrefecido á líquido contraposto de 800 cm³ e 36 cv; o Gurgel Enertron. Tinha tração traseira e durou até 1991, quando foi substituído pelo mais sofisticado Supermini, que durou até 1995, quando a empresa desapareceu. Os japoneses já compravam Ferrari nos anos 1970; de novo estão à frente da valorização.
Mercedes recua com os elétricos
Quem diria, não é mesmo? A Mercedes, aparentemente, percebeu da pior forma possível a eletrificação universal dos carros na Europa não será viável no prazo definido pelos burocratas da União Europeia, e decidiu recuar no desenvolvimento dos elétricos.
Em 2021, no auge das certezas sobre o futuro, a Mercedes anunciou que teria metade de sua linha de produtos composta por híbridos ou elétricos, e que teria apenas modelos elétricos a partir de 2030 — cinco anos antes do prazo final da União Europeia. Só que… o futuro nem sempre depende das nossas ações e, por isso, a Mercedes decidiu recuar nestes planos ousados: não terá os 50% de híbridos e elétricos a partir de 2025, nem somente elétricos a partir de 2030.
Em vez disso, eles irão se concentrar na produção dos atuais motores modulares de 500 cm³ por cilindro (1.5 de 3 cilindros, 2.0 de quatro cilindros, 3.0 seis-em-linha e 4.0 V8), mas também voltarão a equipar seus sedãs e peruas com motores diesel híbridos leves, depois que um estudo recente aponto que a tecnologia moderna aplicada aos motores deste ciclo podem reduzir as emissões ainda mais rapidamente que os elétricos — a revista alemã Auto Geselschacht apurou que é possível até mesmo a criação de um novo modelo AMG diesel (lembra do C30 CDI AMG?).
Ao que tudo indica, o futuro da Mercedes voltará a ter V8 e diesel — ao menos até a próxima pesquisa indicar algo diferente do presente.
União Europeia questiona emissões das baguettes do Renault 5
Um aceno cultural do Renault 5 E Tech está dando o que falar no parlamento europeu: o suporte de baguetes, de acordo com a União Europeia, pode incentivar o aumento indireto das emissões de carbono por estimular o consumo do alimento – tradicionalmente assado em fornos à lenha, que emitem 11 vezes mais CO2 que a cocção a gás.
Em coletiva à imprensa na prova francesa da Fórmula E, o porta-voz de Governança e Sustentabilidade da UE, Jérome Ahon Badeau, declarou a ideia como criminosa: “enquanto incentivamos a alimentação sustentável por pílulas nutricionais, temos esse incentivo ao crime ambiental dentro de um automóvel — que, mesmo elétrico, é parte dessa coisa repugnante chamada transporte individual. Bem, a Renault terá de arcar com a aquisição de 1/8 adicionais de suas cotas de carbono caso não queira lidar com punições mais severas do parlamento.”
Questionado por jornalistas se a política de créditos de carbono não está cada vez mais intangível e adquirindo traços de “criar dificuldades para vender facilidades” em um greenwashing de escala governamental, Ahon Badeau demonstrou irritação em sua réplica, mas sua resposta foi coberta pelo ruído dos geradores a diesel da Formula E.
Ao tabloide Tout Le Monde, o diretor global de engenharia da Renault, Davide Mustain, também presente no evento, disse que haverá um trem de consequências ao questionamento da UE. “É ridículo pensar que alguns países da Europa, França incluída, ainda queimam carvão e óleo para gerar eletricidade e querem punir os pequenos empreendedores que alimentam este país. Querem vender a paz, mas quem está comprando?” – Essas são minhas últimas palavras” complementou Mustain, pouco antes de vazar todos os planos originais de powertrain do novo Renault 5 à imprensa: o carro seria um 2 lugares, com um V6 central traseiro aspirado de apenas 2 litros e 240 cv a 7.500 rpm. Como opcional Alpine, um motor elétrico de 100 cv aplicado no eixo dianteiro, alimentado por um módulo de bateria de 25 kWh – conjunto modular que seria utilizado num novo subcompacto.
“A pressão política da UE está destruindo sonhos e matando a competitividade da indústria europeia. Enquanto discutimos se pães e padeiros são criminosos, estamos sendo forçados a entrar no segmento de BEV, onde todos os principais componentes e commodities, como o Lítio, estão nas mãos de um certo governo da Ásia, de forma direta ou indireta. Mais que um jogo de mercado viciado, pergunto a quem se importa com o planeta: as emissões dessa produção de baterias, entre contaminação de lençóis na América do Sul, Oceania e África, particulados emitidos em doses jamais registradas, tudo feito em plantas asiáticas alimentadas por carvão e com uma logística marítima de complexidade e emissões assombrosas…. essa bagunça não entra na conta por que? Porque é do lado de fora do quintal da União Europeia? Não é um planeta só este onde nós e esse tal de Ahon Badeau vivemos?” finalizou mais uma vez David, enquanto degustava um pedaço de baguete fresco.