Não há dúvidas de que o drift é uma forma de automobilismo cada vez mais popular, e no Brasil não é exceção: presente no País desde o fim da década de 1990, o drift passou de um simples hobby a uma forma de unir pilotos, equipes e o público, que delira com os pneus cantando, a fumaça subindo e o motor girando no talo enquanto os carros andam de lado. Mas esta é só uma faceta da cena nacional – praticar drift no Brasil ainda é um desafio, em diversos sentidos.
Não é fácil traçar acontecimentos anteriores a meados dos anos 2000, quando a internet começou a se popularizar de verdade e fatos começaram a ser registrados em textos, fotos e vídeos e compartilhados com o mundo todo – e isto é especialmente verdadeiro no Brasil. Por isso a websérie “Além da Curva”, feita pela produtora Lens Flare, é fundamental para conhecer a história do drifting brasileiro.
É o tipo de história que só pode ser contada da forma certa por quem ajudou a escrevê-la. Assim, a Lens Flare foi entrevistar alguns daqueles que podem ser considerados os primeiros a divulgar o drift no Brasil. Caras como Sérgio Hanazono, que conheceu o drift em 1998, quando morava no Japão, e em 2008 voltou para cá trazendo quatro esportivos japoneses. Sua intenção? Montar uma equipe de drift nacional. A Drift Show foi a primeira equipe brasileira a praticar o drift. E mais: ela passou a recrutar outros entusiastas que queriam se tornar pilotos, como Elson Nishimura e Thiago Bortoto, que estão com a Drift Show desde o início.
Luciano Shiratori, de Brasília, e Rodrigo Meireles, de Goiás, também deixaram depoimentos para o documentário, que foi dividido em uma websérie de cinco episódios, todos publicados no YouTube entre março e abril de 2015.
Shiratori mudou-se para o Japão a trabalho e, inicialmente, ficaria por um ano – tempo que se estendeu para 11 anos depois que ele conheceu o drift, comprou um carro e começou a praticar. Voltando ao Brasil ele teve uma ideia um pouco diferente. Em vez de trazer um carro de tração traseira do Japão, ele montaria um carro brasileiro: um Chevette. Mesmo que depois tenha vendido o Chevette e comprado carros importados, ele conseguiu provar que um carro nacional conseguiria andar junto com os gringos.
Se hoje temos uma cena de drift cada vez maior e diversificada, com carros nacionais e importados dividindo o mesmo asfalto, por vezes a centímetros de distância um do outro, boa parte disto se deve a estes caras, que logo foram seguidos por entusiastas de norte a sul do País.
Agora, não foi fácil, e ainda não é – quando se trata de falar sobre as dificuldades de ser um adepto do dorifuto no Brasil, todos dizem as mesmas coisas: custo e falta de incentivos são os maiores obstáculos – pneus, carros de tração traseira e componentes mecânicos custam, no Japão, uma fração do que se precisa investir por aqui. Além disso, é extremamente difícil encontrar patrocinadores dispostos a colocar dinheiro em uma equipe de drift compreendendo que o retorno não é imediato.
Isto acaba levando o esporte a crescer em um ritmo bastante lento: ainda não é possível, por exemplo, fundar um campeonato nacional unificado – o que ajudaria a atrair mais público e transformar um carro de drift em uma plataforma atraente para patrocinadores e anunciantes. É uma conta que ainda não fecha.
Por isso, a maioria das equipes é patrocinada por pequenas empresas ou bancada pelos próprios pilotos. Eles, apesar de tudo, não escondem seus sonhos que, não por acaso, são variações de um mesmo tema: ver o drift como uma competição organizada, atraindo dezenas de milhares de espectadores aos circuitos e conseguir viver do automobilismo. A maioria esmagadora ainda leva o drift como um hobby – são médicos, empresários, funcionários públicos que tentam passar o máximo de seu tempo livre ao volante de um carro fazendo derrapagens controladas.
Mas não vamos contar tudo – você quer assistir não quer? Então aproveite: os cinco episódios estão abaixo. Dê o play, recoste-se na cadeira e conheça melhor a trajetória do drift no Brasil.
[ Sugestão do leitor Miguel V. B. Júnior ]