Algumas fabricantes de automóveis são conhecidas por tratar a criação e a construção de um carro como arte — é o caso da Bugatti e da Rolls-Royce, que volta e meia comparam seus modelos com pinturas ou esculturas para milionários. Contudo, às vezes alguém leva esta abordagem para a uma direção mais literal, transformando carros em obras de arte de fato — daquelas que são expostas em museus frequentados até por quem nem gosta de carros ou em mostras ao ar livre. Alguns até viram monumentos, ainda que por pouco tempo.
Foi o que aconteceu com este Vauxhall Corsa, que foi colocado de cabeça para baixo em uma escultura que simula uma “onda” de asfalto:
A obra é do artista britânico Alex Chinneck e, ao que tudo indica, foi encomendada pela Vauxhall para chamar a atenção para a nova geração do Corsa — lembrando que as duas gerações que foram vendidas no Brasil entre 1994 e 2012 foram apenas a segunda e a terceira, e que o Opel/Vauxhall Corsa de quinta geração foi apresentado em outubro de 2014, no Salão de Paris.
Chinneck explica que o a escultura é “uma reinterpretação física do mundo material ao nosso redor”, e acrescenta: “com uma estrada que se curva sem esforço, eu tentei trascender a natureza material do asfalto e das pedras, dando a estes materiais tipicamente inflexíveis uma aparente fluidez”.
A escultura ficou exposta em Londres entre os dias 23 e 25 de fevereiro, e nos fez lembrar de várias outras vezes que alguém transformou um carro em uma obra de arte ou usou um carro como parte de uma criação artística. Veja só quais foram:
BMW Art Cars
Em 1975, o piloto francês Hervé Poulain quis fazer algo diferente com o BMW 3.0 CSL que usaria para competir nas 24 Horas de Le Mans naquele ano. Então, ele chamou o escultor americano (e seu amigo) Alexander Calder para pintar o bólido com motor de seis cilindros em linha e 480 cv. Calder usou cores vibrantes e linhas curvas sobre a carroceria.
Sem saber, Poulain havia criado uma tradição. Além de ser convidado para assistir à estreia de sua criação nas pistas, Calder foi o primeiro de vários outros artistas a convidados pela BMW a transformar um de seus carros em uma obra de arte sobre rodas. Foram mais de 15 carros criados ao longo destes 40 anos — e alguns, como o BMW M1 de Andy Warhol, se tornaram verdadeiros clássicos. Você pode ver todos eles nesta série de dois posts que fizemos no ano passado.
Animais feitos de calotas
Nem sempre é preciso usar o carro todo — diversos componentes de um carro podem ser transformados em arte. Até aqueles que, aparentemente, não servem para muita coisa, como as calotas.
Prova disso são as esculturas de animais do britânico Ptolemy Elrington, que cria peixes, tubarões (que também são peixes, mas isto não vem ao caso agora), corujas e outros animais apenas dobrando e cortando calotas de carros.
Repare no emblema da BMW como o olho da águia
São obras bastante complexas, que precisam de várias calotas e precisão na modelagem. Por isso, as esculturas de Elrington podem valer bastante dinheiro — de £ 250 (R$ 1,1 mil em conversão direta) a £ 7,5 mil (R$ 33 mil).
In Reverse — Fiat 500 esmagados
Em 2013 o designer, escultor e arquiteto israelense Ron Arad comemorou 30 anos de carreira. Para celebrar, ele criou a exposição In Reverse, que era uma seleção de seus melhores trabalhos ao longo de seis décadas. Entre eles, seis Fiat 500 “esmagados” na parede, como insetos que acabaram de levar umas bofetadas.
É um fim meio triste para um carrinho tão simpático que motorizou toda a Itália do pós-guerra, mas Arad disse ter escolhido o modelo justamente por sua importância histórica para seu país de origem, e explicou que eles “não foram destruídos, mas sim imortalizados”. Os carros foram expostos no Holon Design Museum em Tel Aviv em outubro de 2013.
Compressed Beetle
Esta mini-exposição do artista indonésio Ichwan Noor é exatamente o que o nome diz: o escultor pegou Fuscas e os comprimiu em cubos e esferas. Apesar de parecerem feitas com um carro só, cada uma das formas usa peças de cinco carros, além de componentes moldados em alumínio e poliéster.
De acordo com o artista, que já expôs as obras em diversos museus pelo mundo nos últimos dois anos, a ideia é mostrar sua percepção pessoal de objetos que são produtos da “cultura do transporte”. Ele acrescenta que “olhar um carro é ter uma identidade sobrenatural”, e que “esculturas representam a interação entre os humanos e o reino dos objetos”. Ele quer que o observador interprete a distorção dos carros e mude sua percepção sobre seu significado.
View Suspendend
Foto: Jonathan Moore/Speedhunters
Esta é, sem dúvida, uma das obras de arte mais legais desta lista. Em vez de tentar dar outro significado a um carro ou componente e nos forçar a reinterpretá-lo, as obras View Suspended e View Suspended II, do artista holandês Paul Veroude, nos escancaram a arte que já existe em qualquer automóvel — especialmente se for um bólido de Fórmula 1.
Em 2006, ele pegou um carro de Fórmula 1 da Honda — o RA106 —, separou componente a componente, e colocou todos pendurados por fios transparentes no Salão do Automóvel Britânico. Ao todo, mais de 3.200 componentes ficaram flutuando suspensos no teto, como um daqueles diagramas de “vista explodida” que vemos em revistas e sites.
Anos depois ele o fez novamente — desta vez, no museu Mercedes-Benz World, em exposição permanente. O MGP W02 pilotado por Michael Schumacher em 2011 está suspenso no teto do museu no Reino Unido, e é uma bela chance de apreciar a arte da engenharia da maior categoria do automobilismo em todos os seus detalhes.
Bonnet Artwork Collection
César Pieri é o designer brasileiro por trás do Jaguar Project 7 — a versão mais legal do já incrível Jaguar F-Type, inspirada nos carros de competição que a Jaguar colocou para correr nos anos 50 e 60 (temos até uma entrevista com ele bem aqui). Como se não bastasse criar carros matadores, César decidiu também investir em arte.
Suas obras mais legais, ao menos para nós, são estes capôs originais de modelos antigos da Jaguar que recebem pinturas coloridas e vivas, no melhor estilo pop art, feitas à mão por Pieri, que normalmente escolhe temas que homenageiem o legado racer da Jaguar. Os capôs (que ficariam bem legais em uma garagem estilosa ou na sala de estar de qualquer entusiasta) podem ser encomendados no site do designer.
Plastimodelismo com carros de verdade
Se você tem mais de 25 anos, é bem provável que já tenha montado (ou tentado montar, dependendo da sua idade) um kit de plastimodelismo da Revell, que trazia todas as peças de um carro em uma moldura plástica destacável. Em 2012, uma empresa chamada Evanta Motor Company criou uma versão em escala 1:1, usando uma réplica absurdamente fiel do Aston Martin DBR1.
Foi com esse carro que Carroll Shelby e Roy Salvadori venceram as 24 Horas de Le Mans de 1959. A obra de arte é uma réplica, mas ainda assim uma bela homenagem a um carro vencedor. O “kit Revell” de 590 kg foi leiloado em 2012 durante um evento em Goodwood.
Algo semelhante aconteceu com o McLaren MP4/6 que foi usado por Ayrton Senna em seu terceiro e último título na Fórmula 1. A McLaren, que raramente vende seus carros de competição históricos, abriu uma exceção, desmontando o monoposto e entregando as peças da carroceria para o artista britânico Jay Burridge. A decisão pela venda foi tomada devido ao sucesso do documentário Senna, de 2010. Na época, a McLaren pediu £ 30 mil, ou cerca de R$ 130 mil.
Cadillac Ranch
No mundo existem alguns monumentos históricos que acabam se tornando símbolos da paisagem local. As estátuas da Ilha de Páscoa são um deles, o Stonehenge também… e, se nos derem licença, nós do FlatOut gostaríamos de incluir o Cadillac Ranch na lista.
O primeiro deles é uma obra de arte localizada em Amarillo, no Texas, e foi feita em 1974 pelos artistas Chip Lord, Hudson Marquez e Doug Michels. Juntos, os três faziam parte do coletivo Ant Farm, que tinha a proposta de “subverter os valores vigentes da arquitetura”. A ideia veio de um livro para crianças chamado “The Look of Cars” (“O Visual dos Carros”) que, entre outras coisas, contava a história do surgimento e do fim dos “rabos de peixe”, uma das características mais marcantes no visual dos Cadillac da década de 50.
Ao todo, são dez modelos da Cadillac, fabricados entre 1949 e 1963 (período em que os “rabos de peixe” surgiram e desapareceram), enterrados até o para-brisa no chão e pintados com grafites de cores vibrantes. O Cadillac Ranch se tornou um símbolo da paisagem do local, e inspirou até uma recriação nos filmes da franquia “Carros”, da Disney — uma cadeia de montanhas que com formato que lembra a traseira dos Cadillac aparece ao fundo em algumas cenas na cidade de Radiator Springs.
Agora, temos certeza de que você se lembrou de outras obras de arte feitas com carros (ou pedaços deles). Como sempre, a caixa de comentários é toda sua!