a culpa e da angina pectoris foi ela quem forçou carroll shelby a abandonar o volante e passar para o outro lado do balcao em tempo integral ele ate tentou chegando ao ponto de levar comprimidos de nitroglicerina no bolso de seu macacao listrado tipo jardineira para aliviar as dores que sentia no peito durante as corridas mas nao adiantou por orientaçao medica depois do fim de semana de corridas em laguna seca ele nao deveria voltar a pilotar se quisesse continuar vivo aquela era uma decisao dificil shelby vinha de uma carreira razoavelmente bem sucedida nos eventos do sports car club of america scca onde ganhara mais de 30 corridas com as ferrari de john edgar entre 1954 e 1958 e havia chegado ao auge de sua carreira apos vencer as 24 horas de le mans de 1959 ao volante de um aston martin dbr1 dividido com roy salvadori isso antes de ajudar a escrever a historia do maserati birdcage nas pistas da europa e dos eua fora das pistas ele passou a exercer seu lado empreendedor em tempo integral ele ja havia dividido seu tempo entre as pistas e uma representaçao dos pneus firestone no texas alem disso em 1957 ele e dick hall tinham uma concessionaria que vendia maserati e aston martin no sudoeste americano quando finalmente abandonou as pistas em outubro de 1960 ele ainda obteve a representaçao dos pneus goodyear e das velas champion mas shelby tinha um outro plano fazer seu proprio carro o conceito estava claro em sua cabeça colocar um motor americano em um carro europeu nao era uma ideia original — ela ja circulava nos paddocks nos encontros de entusiastas e nas pistas americanas desde os anos 1950 o proprio shelby começou sua carreira com um dos mais bem sucedidos crossovers da historia o cadillac allard j2 que combinava a carroceria leve britanica aos motores americanos de alta potencia mais tarde quando shelby foi correr na europa ele passou a visitar os fabricantes de esportivos para tentar entender como eles faziam aqueles carros tao superiores para corridas visitou a aston martin por intermedio de seu amigo john wyer que gerenciava a equipe da fabrica e depois foi a italia onde conheceu a maserati e tambem a ferrari — e tratado com descaso por enzo o que aconteceu exatamente e algo que nunca foi esclarecido dizem que enzo nao gostou nem um pouco do estilo daquele caipira americano que pilotava com uma jardineira listrada e andava de chapeu stetson e se gabava das vitorias nos eua algo que nao impressionou enzo outra versao diz que enzo ofereceu a shelby um valor simbolico para ter o privilegio de pilotar pela ferrari e shelby sendo um pai de familia simplesmente recusou o que e certo e que shelby e enzo tinham desavenças — e shelby estava disposto a mostrar que enzo nao era o todo poderoso que pensava ser um dos lister chevrolet shelby tambem visitou a lister motor company que vinha fazendo barulho com seus carros leves embalados por diferentes motores ingleses a visita resultou em uma parceria para levar seis chassis lister aos eua onde eles receberiam motores v8 small block do corvette e seriam vendidos pela loja de hall e shelby a empreitada convenceu shelby de que sua ideia de fazer um carro euro americano tinha muito potencial os americanos tinham apenas o corvette ainda em um processo de refinamento comandado por zora arkus duntov os europeus tinham agilidade e dinamica mas nao eram potentes como os americanos — e quando eram nao eram simples nem baratos como o corvette shelby queria juntar o melhor dos dois mundos o relacionamento de shelby com john wyer lhe rendeu uma vaga nas 24 horas de le mans de 1959 ele dividiria um aston martin dbr1 com o ingles roy salvadori durante a corrida shelby começou a sentir dores intensas no peito causados pela angina sempre que elas se tornavam intensas demais a ponto de comprometer a corrida shelby aliviava o pe e colocava sob a lingua um dos comprimidos de nitroglicerina que levava no bolso de sua jardineira mantinha o ritmo leve pelas voltas seguintes e assim que as dores aliviavam ele retomava o ritmo de corrida shelby e salvadori venceram a prova — e interromperam o dominio da ferrari em le mans foi nessa epoca que ele começou a perguntar sobre carros esporte a qualquer um que quisesse ouvi lo entre os interrogados estava seu amigo o piloto americano ed hugus os dois estavam hospedados em le mans apos a corrida de 1959 esperando o dia do voo de volta para os eua quando shelby perguntou ao compatriota se voce fosse construir seu proprio esportivo como ele seria hugus e shelby passaram os dias seguintes conversando sobre praticamente todos os carros esportivos existente — novos ou antigos uma dessas muitas discussoes girou em torno da sugestao de hugus sobre o ac ace um roadster que havia sido projetado por um engenheiro portugues chamado joao tojeiro e que acabou sendo produzido em serie pela britanica ac cars hugus havia corrido contra os ac ace na europa e se impressionou com o desempenho do carro ainda que seu motor nao tivesse tanta potencia quanto deveria o ac ace bristol de 1955 o caso e que hugus conhecia derek hurlock diretor da ac cars se shelby levasse a serio a ideia de fazer seu proprio esportivo ele poderia ajuda lo a conseguir um acordo com os britanicos — especialmente por que ele tinha interesse em vender e correr com o carro nos eua naquele mesmo ano shelby teve uma nova oportunidade de fazer seu esportivo seu amigo gary laughlin piloto amador e explorador de petroleo perguntou a ele se seria possivel fazer um carro com visual de esportivo italiano sobre o chassi rolante do corvette shelby foi a gm e conversou com ed cole e harley earl eles ficaram entusiasmados com a ideia e providenciaram tres chassis para shelby com uma ajuda de pete coltrin um jornalista americano que era correspondente da road & track na italia shelby conseguiu o contato de sergio scaglietti e negociou com o carrozziere a fabricaçao das tres carrocerias os chassis foram enviados para a italia no final de 1959 e levaram quase dois anos para ficar prontos nesse tempo zora arkus duntov descobriu que earl e cole haviam fornecido o chassi a shelby e ficou furioso pois estava trabalhando na transformaçao do corvette em um esportivo capaz de enfrentar os europeus o que ele menos precisava era a concorrencia interna de carroll shelby no outro lado do atlantico mais problemas para o mesmo projeto enzo ferrari entrou na oficina de scaglietti e ao ver os carros perguntou o que voce esta fazendo sergio respondeu estamos fazendo tres carros ferrari intrigado questionou para quem eram aqueles carros estamos fazendo para um cara chamado gary laughlin sao tres texanos gary laughlin carroll shelby e jim hall — respondeu sergio enzo ferrari perguntou quantos carros seriam feitos sergio respondeu vamos fazer so os tres ferrari com seu intimidador 1 87 m de altura e seus oculos escuros respondeu bom se voce fizer mais um nunca mais fara outro carro para mim e foi embora somente o primeiro dos tres carros voltou montado para os eua — o exemplar azul de laughlin os outros dois vieram desmontados para piorar quando laughlin começou a usar o carro ele descobriu que o design da carroceria nao casou com o chassi do corvette causando uma sustentaçao violenta da dianteira a ponto de tornar o carro perigoso alem disso sem o apoio da gm para o desenvolvimento dos motores eles nunca foram bem acertados o projeto estava condenado shelby sequer ficou com seu exemplar depois de vencer le mans controlando suas dores com pilulas de nitroglicerina shelby tentou continuar correndo ao longo de 1960 mas as dores recorrentes e o diagnostico do cardiologista o convenceram a parar shelby ja sabia que seu problema cardiaco era congenito e hereditario seu pai teve um ataque cardiaco fatal aos 46 anos a perspectiva de shelby segundo seu medico era de somente mais cinco anos de vida o prognostico negativo tambem convenceu shelby de que era hora de se dedicar a fazer o carro de seus sonhos shelby no maserati birdcage em sua ultima corrida a historia começou a mudar em junho de 1961 quando shelby encontrou seu amigo ray brock editor da revista hot rod que lhe contou sobre um novo motor v8 de bloco pequeno que a ford estava terminando de desenvolver como resposta ao small block da chevrolet era parte do programa total performance idealizado pelo entao diretor da ford lee iacocca que visava consolidar a ford como uma marca de carros de alto desempenho por meio de investimentos no automobilismo e em carros esportivos para as ruas nessa mesma epoca um outro amigo de shelby conta um segredo enquanto tomava umas e outras com o editor da revista sports car graphic john christy shelby descobre que o motor bristol seis em linha estava deixando de ser produzido e que o ac ace passaria a usar o motor zephyr 6 da ford inglesa com tres carburadores e preparaçao da ruddspeed de ken rudd o carro ja estava em desenvolvimento na inglaterra e seria lançado em outubro daquele ano parecia que shelby estava no lugar certo e na hora certa com a ideia certa no mes seguinte shelby foi a subida de montanha de pikes peak pois era representante dos pneus de competiçao da goodyear la encontrou dave evans chefe do departamento de competiçoes da ford e disse que ouviu dizer que a ford estava fazendo um novo v8 de bloco pequeno e que tinha uma ideia de como aproveitar aquele motor os detalhes sao escassos mas shelby voltou de pikes peak com uma reuniao marcada com a direçao da ford em detroit shelby precisava apenas entender se a instalaçao do v8 seria possivel na carroceria do ac ace por intermedio de ed hugus shelby foi a inglaterra encontrar se com derek hurlock e seu tio charles hurlock e explicar seus planos de construir um esportivo combinando o chassi do ace a um motor americano a ac ja havia feito a maioria das modificaçoes necessarias para acomodar o v8 small block quando adaptou o motor ford zephyr ao chassi do ace — o que exigiu uma reconfiguraçao extensa da dianteira que a tornou mais longa e mais baixa diante da possibilidade shelby e os hurlock fecharam o acordo para o fornecimento dos chassis o ac ace com motor ford ruddspeed repare a diferença da dianteira em relaçao ao ac ace bristol de volta aos eua shelby reuniu se com lee iacocca dave evans e don frey entao vice diretor da ford shelby disse ao pessoal da ford que tinha um chassis e que se conseguisse esses motores ford acreditava que poderia construir um carro que deixaria o corvette para tras ele so precisava dos motores e de um adiantamento de us$ 25 000 para construir dois prototipos iacocca concordou e antes mesmo do final do ano shelby enviou para a ac cars um v8 221 3 6 litros para a montagem do primeiro prototipo que faria a validaçao da adaptaçao do v8 a unica modificaçao necessaria para acomodar o v8 foi o deslocamento da caixa de direçao para a frente liberando espaço para o bloco mais largo do novo motor a modificaçao mais importante contudo nao tinha a ver com a instalaçao em si mas com a operaçao do v8 um diferencial mais forte para lidar com o torque do novo motor o diferencial escolhido foi um salisbury 4hu com freios a disco inboard — o mesmo usado pela jaguar no e type o prototipo foi montado e testado como ac ace 3 6 no final de 1961 depois dos testes o conjunto mecanico foi retirado e o chassi foi enviado a shelby em los angeles em fevereiro de 1962 aquela altura shelby ja havia recebido o segundo motor prometido pela ford evans contara a shelby que a ford estava terminando o desenvolvimento de uma versao de 260 pol³ do v8 de bloco pequeno entao eles decidiram substituir o 221 por aquele novo 260 melhor ainda ele nao seria o 260 usado nos modelos de serie e sim uma versao experimental de competiçao com carburador de corpo quadruplo tuchos solidos comando mais agressivo pequenas revisoes nas cabeças e taxa de compressao maior com potencia na faixa dos 250 cv shelby optou por montar o carro na california devido a disponibilidade de pessoal qualificado para o projeto ele nao queria operarios de fabrica e sim hot rodders que tinham experiencia em preparaçao e fabricaçao de componentes o primeiro prototipo foi todo montado na oficina de dean moon em santa fe springs na california em apenas oito horas apesar de parecer apenas um ace com um v8 o trabalho dos hot rodders foi bem mais extenso o carro ganhou reforços no chassi novas mangas de eixo e novas molas traseiras o carro foi identificado com o codigo de chassi csx2000 que se tornou o primeiro de todos os cobra shelby com o csx2000 dias depois do primeiro teste do csx2000 shelby convidou john christy da revista sports cars graphic aquele que deu a dica sobre o fim do motor bristol para um passeio ele e o fotografo da revista levaram o carro para um ensaio em los angeles e o primeiro artigo saiu na ediçao de maio de 1962 da revista christy ficou claramente impressionado com o cobra e um dos carros esportivos de produçao mais impressionantes que ja dirigimos sua aceleraçao so pode ser descrita como explosiva e pelo menos igual a dos melhores corvettes preparados e ferrari que ja dirigimos depois desta previa era hora de testar a reaçao do mercado algo que seria fundamental para shelby fechar um acordo de produçao com a ford e a ac ate aqui ele so tinha um acordo para construir o prototipo a ford concordou em exibir o cobra em seu estande no salao de nova york em abril de 1962 e o csx2000 precisava de uma pintura chamativa para sua estreia shelby mandou o carro para o hoje lendario dean jeffries que pintou o cobra com um amarelo metalico brilhante pensando em destaca lo sob as luzes do salao pete brock um dos primeiros funcionarios da shelby contou mais tarde que eles poderiam ter aceitado 500 pedidos somente no salao mas carroll shelby optou por pegar o suficiente para tirar o projeto do papel os executivos da ford acabaram fechando um contrato com a shelby american para produzir o cobra em serie o acordo e que a ac fabricaria a carroceria e o chassis e a ford forneceria motor e transmissao e tudo seria montado por shelby na california o carro seria vendido atraves das concessionarias ford como shelby cobra com emblemas powered by ford carroll shelby finalmente tinha um contrato com a ford e um parceiro para distribuiçao dos carros restava agora coloca los na lista de desejos do publico entusiasta e nas maos dos pilotos tal como a sports cars graphic havia criado uma grande expectativa no publico do salao as demais revistas automobilisticas dos eua ajudariam shelby a divulgar as capacidades do carro para o publico comum shelby contudo tinha apenas dois prototipos em maos o csx2000 do salao e uma versao de corrida que estava em desenvolvimento o csx2002 — que fora financiado por seu parceiro ed hugus shelby tambem queria passar a impressao de que tinha mais carros do que realmente havia construido entao teve a ideia de repintar o carro de outra cor assim cada revista tinha um shelby de cada cor fazendo o publico imaginar que a produçao ja estava a todo vapor quem le a historia hoje em dia depois de 65 anos imagina que shelby teve ajuda da sorte ao conectar pontas soltas que se completaram perfeitamente mas a historia nos bastidores foi muito mais dura e contou com ajuda de muita gente ed hugus por exemplo conta que shelby mal tinha dinheiro para pagar a ac cars pelo csx 2000 e que shelby ainda era incapaz de financiar qualquer produçao inicial dos esportivos sem o capital necessario shelby tinha poucas chances de garantir um contrato com a ford motor company a ac cars ou qualquer outra empresa na inglaterra os hurlock estavam relutantes em firmar um acordo de produçao com shelby e ao mesmo tempo ele nao tinha um plano viavel em mente para a ford — que achava o empreendimento de shelby interessante mas nao via nada alem de uma campanha publicitaria ed hugus com os cobra shelby tinha pouquissimas opçoes disponiveis todos com quem conversou sobre financiamento queriam ser socios dele ele precisava de muito dinheiro em um prazo curtissimo mas nao estava disposto a compartilhar a propriedade do projeto com ninguem ele so queria uma ajuda para construir alguns carros sem o compromisso da ford com o motor e o apoio financeiro o projeto nao seguiria em frente shelby precisava de alguem disposto a assumir o risco financeiro poucas semanas apos receber o prototipo do esportivo o csx 2000 shelby contatou hugus ao contrario de todos os outros amigos de shelby hugus nao estava interessado em ser socio dele ele queria apenas vender e correr com os carros em vez de fornecer financiamento a shelby hugus concordou em contatar derek hurlock da ac cars e encomendar os dois proximos aces inacabados e modificados por conta propria o primeiro carro o csx 2001 foi entregue a hugus em pittsburgh para ser montado em sua oficina a european cars o segundo carro foi entregue na oficina goodyear de shelby que ficava junto da oficina de dean moon para ser montado como um carro de corrida com motor ford hugus concordou em assumir o pagamento inicial a ac cars a european cars instalaria os conjuntos de motor e cambio e terminaria os cobras para venda no varejo e para distribuiçao shelby precisava apenas convencer a ford a fornecer os motores e as transmissoes para hugus a preço de revenda — ou pelo menos com um bom desconto hugus sequer havia guiado csx 2000 de shelby se tivesse — ou se tivesse consultado seu amigo o piloto augie pabst talvez nao tivesse continuado a empreitada pabst visitara shelby no inicio de 1962 quando ele tinha acabado de montar o prototipo e lhe ofereceu uma volta no carro pabst achou o carro terrivel e disse a shelby que ele jamais venderia aqueles carros sem contrato algum hugus se tornou o primeiro fabricante do shelby cobra e tambem o primeiro distribuidor e revendedor do modelo ele ate concordou em assumir parte da divida de shelby com o cobra de corrida quando a ford assumisse o financiamento do projeto shelby prometeu reembolsar hugus integralmente e garantiu que a european cars ainda receberia uma compensaçao justa por cada cobra montado vendido ou distribuido para revendedores da costa leste segundo hugus todo o acordo foi um simples acordo de cavalheiros baseado em um aperto de maos com a european cars iniciando a produçao inicial ou o processo de conclusao do cobra shelby foi atras do apoio da ford — que ja havia reservado um espaço para o cobra no salao de nova york em abril de 1962 ate entao contudo nenhum acordo ou contrato de produçao havia sido discutido ou assinado hugus sabia que a ford estava altamente comprometida com o programa total performance mas tudo o que eles tinham era um slogan a unica conexao da ford com as corridas era um historico com a nascar e um relacionamento timido com a equipe holman moody a ford precisava mesmo era de um carro que pudesse competir com o chevrolet corvette eles haviam tentado responder o corvette com o thunderbird mas ainda que ele tenha sido bem sucedido comercialmente ele nao era realmente um esportivo e nao era visto como uma alternativa ao chevrolet a ford estava desesperada por publicidade nas corridas e carroll shelby era tudo o que eles tinham mesmo assim a proposta do cobra nao foi bem recebida na ford em um primeiro momento os executivos da ford nao viam valor no cobra — achavam o design antiquado como esportivo eles tambem nao confiavam em shelby — achavam que ele era mais um representante do que um fabricante e estavam muito relutantes em arriscar dinheiro dos acionistas no projeto do cobra para piorar a situaçao de shelby a operaçao da hugus era mais um empecilho para assinar um acordo com a ford hugus tinha um sistema logistico para receber os carros pelo porto de nova york prepara los e vende los em duas lojas com uma carteira de clientes consolidada quando os executivos da ford souberam disso concluiram que nao precisariam de shelby especialmente por que shelby e hugus nao tinham um contrato formal — como a ford poderia financiar um projeto desse impaciente shelby ligava para seus contatos na ford diariamente ate que um executivo da ford abriu o jogo sobre a discussao interna da ford eles nao teriam problemas em assinar um contrato com hugus mas estavam inseguros quanto a shelby pois o consideravam um risco para o projeto shelby logo percebeu que hugus poderia roubar seu projeto e em panico entrou em contato com o parceiro hugus o tranquilizou dizendo que nao tinha intençao de roubar o projeto e se ofereceu para entrar em contato com a diretoria da ford e reiterar que a european cars estava interessada apenas em vender os carros de shelby e que qualquer contrato com a ford para o financiamento da produçao de carros esportivos de shelby teria que ser assinado com shelby o contrato acabou assinado em junho de 1962 apesar do acordo hugus nao gostou da postura da ford e do tratamento desigual — shelby tinha credito com a ford ele pagava tudo a vista ainda assim seguiu completando e vendendo o cobra mandando alguns para revendedores como a tasca ford e a reed paralelamente preparava um cobra de corrida para le mans com apoio da propria ac cars a parceria com shelby e a ford so piorava burocracia reclamaçoes de concessionarios disputas sobre custos de transporte e reparos tudo se acumulava hugus tambem adiou os planos de correr com o cobra — algo que era sua motivaçao inicial no começo de 1963 sem acordo sobre pagamentos e peças hugus bateu o martelo ligou para shelby e para a ford e avisou que a european cars estava fora cancelou todas as vendas devolveu ou despachou imediatamente todos os cobras em estoque e encerrou de forma unilateral a montagem e distribuiçao no leste shelby correu para realocar os carros e redirecionar os chassis que chegavam da inglaterra tentou convencer concessionarios parceiros da european cars tasca e reed a assumir a funçao de hugus mas ouviu nao de todos quando a poeira baixou shelby tinha o controle total da produçao e distribuiçao dos cobras — mas tambem herdava um rastro de revendedores insatisfeitos e duvidas na ford sobre sua capacidade de tocar o programa hugus por sua vez deixava para tras uma contribuiçao essencial foi ele quem viabilizou a montagem dos primeiros carros quem manteve a operaçao viva ate a ford entrar no jogo e quem mesmo fora da historia oficial tinha sido o alicerce para que o cobra deixasse de ser so um sonho de carroll shelby em 1963 shelby e hugus se reconciliaram e ele voltou a ser revendedor shelby desta forma hugus nao precisou mais lidar com as dores de cabeça da produçao do cobra mas continuou vendendo peças e carros shelby american ate sua aposentadoria e a venda de sua concessionaria em 1968 tasca e reed tambem voltaram a revender os modelos shelby depois que carroll e hugus se acertaram com o empurrao inicial de ed hugus e depois com o contrato firmado com a ford mais a estrategia de apresentar o carro a imprensa em diferentes cores shelby finalmente colocou o cobra nas ruas entre fevereiro de 1962 e maio de 1963 foram feitos 75 exemplares do cobra no final de 1962 o engenheiro chefe da ac alan turner continuava refinando o chassi do esportivo e trouxe como principal mudança uma nova caixa de direçao de pinhao e cremalheira substituindo a antiquada caixa de setor e rosca sem fim mais precisa a nova caixa vinha do mg mgb e usava a coluna de direçao do fusca estes shelby com a nova direçao ficaram conhecidos como mkii um cobra mkii outra novidade para 1963 foi o motor 289 4 7 litros de 275 cv que substituiu o 260 4 3 litros original a shelby ainda faria 51 carros com a direçao antiga porem com o motor novo — para compensar os compradores dos modelos 260 shelby ofereceu um upgrade para o motor 289 algo que foi aceito pela maioria dos compradores — e faz do cobra 260 algo raro atualmente o primeiro cobra 289 ainda um mk1 com o shelby cobra bem encaminhado nas ruas era hora de descobrir o que ele seria capaz de fazer nas pistas shelby nao tinha um programa estruturado um time de fabrica polido ou verba para gastar como ferrari ou corvette tinha um chassi ingles do ac ace modificado as pressas um v8 ford de 260 polegadas cubicas e a teimosia de um texano que ja sabia que seu coraçao nao aguentaria mais corridas a estreia aconteceu em outubro de 1962 no riverside international raceway shelby escalou bill krause para guiar o carro e a estrategia era simples largar andar o mais rapido possivel e mostrar a ford que o cobra podia humilhar quem estivesse pela frente e por um tempo funcionou krause colocou o cobra na frente de ferrari 250 gto corvette e maserati birdcage liderando por quase uma hora ate que um cubo de roda traseiro cedeu e o sonho da vitoria evaporou na caixa de brita mas a semente estava plantada aquele hot rod anglo americano era claramente mais rapido que o corvette depois de riverside o cobra atravessou o inverno indo para onde havia corridas em dezembro de 1962 shelby levou o csx 2002 para as bahamas nas speed weeks de nassau um festival que misturava turismo e corridas ali a performance foi menos brilhante — problemas de acerto e a falta de desenvolvimento deixaram os cobras longe do podio o verdadeiro teste de resistencia veio em março de 1963 nas 12 horas de sebring o csx 2002 foi confiado a ken miles e lew spencer com dan gurney dando algumas voltas a corrida como em riverside começou promissora mas terminou com outro did not finish era a confirmaçao de que o cobra podia ser rapido em tiros curtos mas ainda nao tinha folego para provas longas shelby entao passou a concentrar o desenvolvimento nas provas da scca em pistas menores e corridas mais curtas ao longo de 1963 ja com o motor ford 289 em lugar do 260 o carro passou a acumular vitorias dave macdonald com seu estilo agressivo e preciso foi o grande nome dessa virada em corridas como as de kent road america e laguna seca ele mostrou que o cobra podia nao so enfrentar mas derrotar o corvette de igual para igual bob johnson e ken miles tambem somaram pontos cruciais e logo a briga pelo titulo na a production estava inclinada para shelby o que fez a diferença nao foi apenas potencia — embora o v8 289 tivesse torque para empurrar o cobra nas saidas de curva — mas o pacote completo o carro era mais leve que o corvette tinha uma relaçao peso/potencia muito superior e nas maos de pilotos comprometidos compensava a suspensao de feixes transversais herdada do ace em um campeonato decidido pela regularidade o cobra começou a se distanciar na pontuaçao no fim da temporada o improvavel aconteceu o reinado do corvette na scca a production que parecia intocavel desde o final dos anos 1950 foi derrubado o titulo de 1963 foi do shelby cobra coroando um ciclo que começou menos de um ano antes com um carro improvisado numa pista californiana e terminou com um trofeu que nao so validava o projeto mas tambem a filosofia de shelby juntar a robustez e potencia americanas ao refinamento europeu para a ford era o começo da era total performance para shelby a prova definitiva de que ele estava certo em apostar na receita seu carro dos sonhos era campeao mas a historia nao pararia ai enquanto carroll shelby quebrava a hegemonia do corvette nos eua ed hugus e seus parceiros britanicos levavam o cobra para le mans em junho de 1963 hugus e a ac cars inscreveram dois cobras — sob o nome ac cobra — equipados com o motor 289 rodas de magnesio dunlop para lamas alargados para acomodar pneus mais largos capo com entradas de ar e tanques de combustivel maiores para fazer menos paradas o primeiro carro com chassis csx2132 foi pilotado pelos britanicos peter bolton e ninian sanderson ja o segundo chassis csx2142 contou com os americanos ed hugus e peter jopp ao volante ambos tinham a missao de provar que o cobra poderia suportar a pressao das 24 horas mais famosas do automobilismo ao longo da corrida o csx2132 mostrou resistencia e desempenho solido mas nao era pareo para os europeus a unica vantagem era o torque em saidas de curva mas nas curvas de alta e nas longas retas nao havia nada que o cobra pudesse fazer o maior problema dos shelby cobra era que eles geravam muito arrasto aerodinamico e por isso mal passavam dos 240 km/h no retao de la sarthe enquanto as ferrari 250 gto chegavam aos 280 km/h como a hunaudieres tinha 4 8 km sem chicanes os italianos abriam uma vantagem imensa no trecho que chegava a quase 10 segundos por volta a ediçao de 1963 contudo provou a durabilidade do conjunto o carro da ac cars terminou a prova em setimo lugar geral e terceiro na classe gt se shelby quisesse ter alguma chance de conquistar o mundo ele precisaria fazer algo por sorte ele tinha um funcionario que sabia exatamente o que era este algo pete brock era um engenheiro de 25 anos que havia saido da gm para trabalhar na shelby american foi o primeiro funcionario de shelby contratado em 1961 para ser instrutor de sua escola de pilotagem em riverside depois participou da criaçao do primeiro cobra no inicio de 1962 e como todos os funcionarios da shelby na epoca se tornou um faz tudo alem de ser o designer da empresa dos logotipos as jaquetas e uniformes; dos powered by ford as diversas modificaçoes nas carrocerias dos cobra tudo foi feito por ele sendo um pouco mais novo que aqueles hot rodders que shelby havia trazido da scarab quando a equipe se retirou do ramo brock tambem tinha outros interesses e pontos de vista diferentes sobre os carros uma destas diferenças era seu fascinio por aerodinamica na gm ele teve acesso a biblioteca da fabricante onde encontrou um livro de reinhard von konig faschenfeld um discipulo do alemao wunibald kamm o grande teorico da aerodinamica moderna apesar de ser um livro em alemao brock conseguiu entender o contexto devido aos graficos e calculos ciente de que o problema do cobra era a aerodinamica brock descobriu que poderia usar a homologaçao fia do cobra para homologar uma carroceria opcional contanto que o chassi fosse mantido o mesmo alem das vantagens aerodinamicas uma estrutura tubular para esta carroceria fechada ajudaria tambem a reforçar o chassi tornando o mais rigido brock aplicou os fundamentos ao projeto do cobra e fez um esboço mostrando como ele deveria ser para conseguir mais velocidade e menos consumo na epoca acreditava se que a forma de gota com cauda longa era o modelo aerodinamico mais eficiente mas brock que conhecia os principios de kamm ja entendia que aquele formato gerava arrasto se a traseira fosse abrutamente cortada uma regiao turbulenta de vortices se formaria atras da superficie vertical formada pelo corte essa regiao turbulenta imita o efeito da cauda afilada pois o ar do fluxo livre sobre a carroceria nao entra nessa regiao o que evita a separaçao da camada limite e consequentemente mantendo o fluxo de ar suave reduzindo o arrasto a expectativa da equipe sobre a proposta de brock era alta mas quando o jovem designer apresentou o esboço a reaçao geral foi um misto de desdem e ceticismo phil remington que era o grande talento da shelby achou o design estupido e por ter mais experiencia influenciou a opiniao dos demais funcionarios dan gurney viu o carro e achou que ele seria ate 200 kg mais pesado que o roadster o que acabaria com a vantagem do motor shelby estava cetico mas nao descartou a ideia chamou o pessoal da ford aeronutronic — a divisao que cuidava de projetos de defesa — e pediu que os aerodinamicistas analisassem o projeto eles foram unanimes nao funcionaria com aquela traseira cortada ela precisaria ter a forma de gota ken miles contudo conhecia os alemaes e achava que aquilo tinha algum fundamento ele convenceu shelby e se prontificou a ajudar brock no projeto shelby aprovou mas com restriçoes o orçamento era limitado e eles teriam que se virar com o carro batido de skip hudson que tinha o chassi intacto o maior desafio contudo era o tempo naquele final de 1963 a shelby american construia os carros de corrida e os cobra de rua e ele precisava tanto de brock quanto de miles na fabrica por isso pediu que os dois terminassem o projeto em 90 dias brock começou o projeto decidindo a posiçao de pilotagem e colocou miles sentado no chassi enquanto os dois decidiam onde ficaria o para brisa que foi a primeira parte feita depois eles começaram a definir o posicionamento do volante e dos comandos — tudo feito com pedaços de madeira e fita adesiva com as posiçoes definidas brock e miles começaram a cortar os moldes com serra tico tico montando uma estrutura que parecia uma forma de gelo de madeira a medida em que o carro ganhava forma contudo os mecanicos começaram a se empolgar com o projeto vendo que ele poderia sim funcionar no fim todos contribuiram de alguma forma com a construçao do carro que ganhou uma carroceria de aluminio feita ali mesmo na shelby american em fevereiro de 1964 dentro do prazo o carro ficou pronto e foi para o shakedown em riverside era a hora da verdade pete brock era um genio prestes a ser descoberto ou aquele projeto era uma grande perda de tempo miles entrou no carro e nas primeiras cinco voltas o carro foi 3 5 segundos mais rapido que o cobra no circuito e chegou a 300 km/h na reta principal em todas as cinco voltas miles contudo alertou que o volante ficava leve demais a partir de 260 km/h devido a uma sustentaçao da dianteira o carro foi desenvolvido por mais 30 dias e voltou ao circuito para novos testes nos quais miles atingiu 310 km/h todos se convenceram shelby pediu para levar o carro de volta a oficina e prepara lo para os 2 000 km de daytona foi assim que o carro ganhou seu nome cobra daytona coupe naquele mesmo fevereiro de 1964 o shelby daytona coupe entrava oficialmente em cena nos 2000 km de daytona — etapa de abertura do campeonato mundial de marcas apos sua performance dominante em sebring onde conquistou a vitoria na classe gt o daytona chegava a florida com expectativas altissimas a dupla formada por bob holbert e dave macdonald foi escalada para conduzir o carro #14 desde as primeiras voltas o daytona demonstrou competitividade liderando a classe gt com facilidade e superando nao apenas os corvette como tambem as ferrari em 110 voltas o daytona ja estava 10 minutos a frente de todo o restante do grid shelby começou a calcular o consumo e descobriu que o carro era 25% mais economico que o cobra roadster — isso significava tres voltas a mais que a ferrari por stint seria uma vitoria facil mas para terminar a prova em primeiro voce primeiro precisa terminar a prova durante uma parada para reabastecimento na volta 203 ainda com combustivel no tanque a entrada de gasolina sob pressao provocou um vazamento o combustivel entrou em contato com o escape o diferencial e os freios do carro resultando em um incendio nos boxes a açao rapida dos bombeiros conteve as chamas mas o carro precisaria ser recuperado para continuar shelby achou que a corrida estava perdida os mecanicos confiantes disseram que o desempenho do daytona seria capaz de recuperar o tempo perdido com o conserto mas shelby nao se convenceu e retirou o carro da prova eles fizeram a volta mais rapida mas a ferrari venceu a corrida com a 250 gto de pedro rodriguez e phil hill no mes seguinte a shelby levou o daytona as 12 horas de sebring novamente com bob holbert e dave macdonald a bordo do chassi csx2287 agora com o numero 10 desta vez os rivais nao seriam apenas as ferrari 250 gto ou os corvette mas tambem os prototipos ferrari 275p e 330p — mais leves e mais potentes que o daytona 289 a corrida foi dominada pelos prototipos italianos mas logo atras do trio de ferraris o daytona despontava com uma ampla vantagem na classe gt superando as ferrari 250 gt com oito voltas de vantagem ao final das 12 horas o cobra daytona tinha provado que estava pronto para brigar em igualdade com os europeus o resultado acendeu em shelby a vontade de dar o troco em enzo pela desfeita nos anos 1950 ele ja havia feito isso como piloto em 1959 quando quebrou a sequencia de vitorias da ferrari em le mans agora ele estava prestes a fazer de novo mas como um construtor — assim como enzo ferrari em uma coletiva de imprensa depois da prova de sebring shelby declarou this year ferrari’s ass is mine em junho de 1964 com apoio da castrol e das vendas do cobra roadster shelby embarcou para a frança ele iria disputar as 24 horas de le mans e tentar vencer a ferrari em seu proprio jogo aquela altura de 1964 henry ford ii ja estava colocando em pratica seu plano de vingança ele queria vencer a ferrari em le mans depois de ter sido humilhado por enzo ferrari que usou ford para negociar com a fiat shelby portanto nao era o unico que queria acabar com a ferrari apesar da convergencia de interesses tudo o que shelby tinha da ford para aquela incursao francesa eram os motores e mais nada toda a estrutura e operaçao em le mans era propria — e por isso muito modesta a ford so queria saber do gt40 que ia disputar a categoria principal dos prototipos shelby levou dois cobra daytona que disputariam a classe gt como fizeram ate entao um deles foi inscrito por briggs cunningham e tinha jochen neerpach dividindo o volante com chris amon o outro era 100% americano inscrito pela shelby american com dan gurney e bob bondurant ao volante durante os treinos de classificaçao o daytona ja se mostrou ameaçador dan gurney levou o carro a mais de 315 km/h na hunaudieres/mulsanne quebrando o recorde da classe gt — algo que intimidou os rivais europeus na corrida os dois cobra começaram disputando posiçoes com as ferrari gto mas depois de 11 horas o daytona inscrito por cunningham teve um problema no alternador e durante o conserto carregou a bateria com um carregador portatil — o que era proibido pelo regulamento acabou desclassificado o cobra de gurney e bondurant ficou na pista — atras dos tres prototipos ferrari do ford gt40 mas a frente de duas 250 gto a ford que ja tinha perdido um gt40 na sexta hora da prova por uma quebra de cambio se viu fora da disputa no meio da madrugada quando o segundo gt40 abandonou pelo mesmo motivo o fraco cambio colotti nao aguentou ruim para a ford mas nao para shelby a briga de henry ford ii com a ferrari havia atraido a atençao do publico para le mans mas com o abandono dos gt40 toda essa atençao se voltou para o daytona da shelby em certa altura o daytona chegou a ameaçar os prototipos da ferrari — bob bondurant contou que a certa altura se deu conta de que eles tinham chance de vencer um furo no radiador de oleo contudo frustrou qualquer possibilidade de isso acontecer o regulamento nao permitia a substituiçao da peça entao os mecanicos precisaram modificar a linha para contornar o radiador e o daytona sem arrefecimento de oleo teve que baixar o ritmo para chegar ao final bondurant mais tarde revelou que a temperatura do lubrificante chegou a 150ºc em certa altura da corrida mesmo assim eles se mantiveram a frente das ferrari 250 gto e conquistaram o quarto lugar geral e a vitoria da classe gt pela primeira vez um carro americano ganhou a categoria — e pela primeira vez shelby derrotava enzo ferrari como construtor e chefe de equipe shelby comemorou mas nao cantou vitoria ele queria o campeonato afinal o sucesso do cobra daytona em le mans ironicamente seria o começo do fim do cobra de certa forma henry ford ii se convenceu de que ele precisava da ajuda de carroll shelby para vencer le mans — afinal ele ja havia vencido como piloto e agora como chefe de equipe nao havia outra pessoa que nao carroll shelby para ajudar a ford a derrotar enzo ferrari a shelby american foi arrastada para o programa de le mans do gt40 e nao apenas isso era o auge do programa total performance a ford queria colocar tambem o mustang nas pistas e pediu a shelby que desenvolvesse uma versao de corrida do pony car — que se tornaria o gt350 e o gt350r com isso a operaçao da shelby ficou gigante eles se mudaram para um hangar no aeroporto internacional de los angeles onde produziam os cobra roadster de corrida e de rua alem de fazer as modificaçoes do mustang e a operaçao do gt40 com sua atençao dividida em tantas frentes shelby nao conseguiu desenvolver o daytona no restante da temporada eles terminaram apenas as 12 horas de reims e o titulo acabou com a ferrari no ano seguinte contudo o daytona foi no embalo do gt40 e ganhou em daytona sebring monza spa nurburgring le mans e reims — um dominio completo do mundial de marcas com uma vantagem de quase 20 pontos sobre a ferrari shelby fazia do cobra um campeao mundial superando os europeus e americanos — exatamente como imaginara quase dez anos antes enquanto isso o gt40 estava longe de superar a ferrari henry ford ii ja estava furioso e deu um ultimato a shelby e todos os envolvidos no programa e mais ele colocou tambem sua equipe da nascar a holman moody no programa forçando uma concorrencia interna shelby se viu forçado a dedicar 100% do seu esforço de competiçao ao gt40 e o daytona foi simplesmente abandonado ele sequer quis trazer os daytona de volta aos eua — quando richard mann um dos chefes de equipe que correram com o daytona na europa perguntou o que fazer com os carros shelby mandou descarta los no mar do norte mann nao teve coragem e bancou o frete de volta aos eua os carros ficaram largados na sede da shelby e toda a equipe do daytona foi demitida assim que eles voltaram da europa ate mesmo pete brock ele nao foi formalmente demitido mas percebeu que nao tinha mais o que fazer ali pegou suas coisas e foi trabalhar na toyota que estava iniciando um programa para disputar o campeonato do scca com o 2000gt a vida do cobra nunca foi facil depois de chegar com tudo e conquistar os titulos nacionais em 1963 a chevrolet começou a preparar uma resposta a shelby o proprio zora arkus duntov era um engenheiro como shelby — havia sido piloto hot rodder e agora liderava uma empreitada para fazer os melhores esportivos americanos a primeira resposta veio na forma do pacote rpo z06 que era oferecido no corvette com o motor 327 5 4 litros com injeçao mecanica rochester e consistia em barra estabilizadora 20% mais espessa na dianteira servo freio por hidrovacuo cilindro mestre duplo linhas de freio metalicas tambores de freio aletados amortecedores e molas com carga/rate mais rigidos que no corvette basico com os coletores de admissao originais exigidos pelo regulamento do campeonato do scca esse motor produzia 360 cv combinado aos refinamentos dinamicos era um desafio imenso ao cobra — entao com 275 cv shelby fez inicialmente um teste com o motor fe 390 6 4 litros para descobrir qual era o limite do chassi da ac a experiencia foi um desastre o carro foi inscrito em uma corrida em sebring com ken miles ao volante o carro era incontrolavel e nao conseguiu terminar a corrida de sebring indomavel que era — e sem papas na lingua — miles apelidou o carro de the turd algo como o coco shelby ainda insistiu no carro fazendo modificaçoes no chassi para torna lo mais comportado desta vez com um motor 390 de aluminio reduzindo o peso excessivo sobre o eixo dianteiro nao adiantou o carro correu em nassau e mais uma vez nao terminou a prova a ideia de usar o fe nao era ruim os galaxie equipados com o fe 427 — ja da nova geraçao — dominaram a temporada de 1963 da nascar ele so queria usar um motor vencedor o problema e que o ac ace original o cobra mki e o cobra mkii ainda que dotados de suspensao independente nas quatro rodas usavam molas semi elipticas transversais — um arranjo que se mostrou inadequado para o maior peso do big block se carroll shelby quisesse instalar o maior dos v8 americanos em um cobra ele precisaria mudar ainda mais o cobra ken miles tentando dirigir o turd agora trabalhando em colaboraçao carroll shelby os engenheiros da ac e a ford modificaram o ac ace para receber o fe de segunda geraçao o 427 do galaxie a principal modificaçao foi a substituiçao dos tubos de tres polegadas do chassi por tubos maiores de quatro polegadas as molas transversais deram lugar a molas helicoidais mas os braços simetricos foram mantidos a tomada de ar frontal para o radiador foi aumentada para otimizar o arrefecimento e os para lamas foram alargados para acomodar as rodas e pneus maiores — o que resultou em um visual mais agressivo e imponente o primeiro cobra mkiii foi enviado pela ac cars em outubro de 1964 sem motor cambio e pintura shelby começou a trabalhar nele em janeiro de 1965 o carro ja fora projetado para o motor ford fe v8 side oiler 427 7 0 litros — o termo side oiler refere se ao fato de possuir um canal lateral de oleo que lubrificava primeiro o virabrequim e os mancais principais antes de enviar oleo para o cabeçote e o comando de valvulas esse motor foi oferecido em duas versoes para o cobra mark iii a versao basica usada nos carros de rua tinha 425 cv a 6 000 rpm e torque de 66 2 kgfm chegava a 264 km/h e acelerava de zero a 100 km/h em 4 5 segundos a versao de competiçao era claro mais potente com 485 cv e maxima de 298 km/h — mesmo com a aerodinamica precaria o consumo de combustivel do v8 427 obviamente nao ganharia premios de economia mas ninguem se importava com isso na epoca os modelos de rua vinham com tanques de 68 litros enquanto a versao de competiçao recebia um tanque de 159 litros ambas as versoes eram equipadas com carburador holley de corpo quadruplo e 780 cfm a produçao dos mark iii começou em janeiro de 1965 mas nao foi possivel cumprir a homologaçao de 100 unidades exigida para competir na temporada de 1965 — apenas 53 carros ficaram prontos dentro do prazo isso deixou carroll shelby com cobras de especificaçao de corrida que nao podiam ser vendidos para competiçao assim 31 desses 53 carros foram modificados com instalaçao de para brisas e motores ajustados para uso em estrada esses modelos ficaram conhecidos como s/c semi competition alem do mark iii 427 cu in shelby produziu uma versao mais acessivel equipada com o motor 428 7 01 litros de curso longo destinada ao uso em estrada a versao mais famosa do cobra mkiii contudo e — sem sombra de duvida — o super snake criado para fazer barulho e ganhar espaço na midia ele foi anunciado como o cobra para acabar com todos os cobras a ideia era fazer do cobra de competiçao um carro de rua um dos cobra s/c foi modificado para ser habilitado ao licenciamento nos eua recebendo para brisa abafadores de escape e para choques cromados shelby e seus mecanicos no entanto nao resistiram a tentaçao de ver ate onde o carro poderia chegar e instalaram dois superchargers paxton no 427 nao ha nenhuma fonte oficial sobre a potencia mas considerando que eles tinham 485 cv originais nao e exagero pensar em 800 cv com os dois superchargers o carro acabou sendo usado por carroll shelby em sua rotina diaria — e em algumas competiçoes esporadicas como a cannonball run em nevada houve ainda um segundo exemplar do super snake produzido especialmente para bill cosby o comediante um grande entusiasta de esportivos cosby tinha algumas ferrari mas shelby o convenceu a usar um esportivo americano e fez um super snake automatico para cosby a ideia era fazer as ferrari parecerem fracas demais cosby dirigiu o carro ao redor do quarteirao assustado com o ronco do motor ao voltar do teste devolveu as chaves a shelby e disse que ficaria com a ferrari mesmo depois disso o carro foi enviado para uma concessionaria da shelby em san francisco onde foi comprado por um cliente chamado tony maxey a historia teve um final tragico o acelerador travou e maxey perdeu o controle do carro caindo de um penhasco diretamente no oceano pacifico o carro foi destruido e maxey nao resistiu aos ferimentos quando o cobra mkiii chegou ao mercado shelby ja estava completamente envolvido com os programas de automobilismo da ford — tanto com o gt40 quanto com o gt350 — e sua atençao se voltou a estes projetos em 1966 shelby finalmente superou a ferrari e venceu as 24 horas de le mans com o gt40 em 1967 ele repetiu a dose com o gt40 mkiv um carro totalmente novo e desenvolvido na shelby american — uma all american victory equipe americana com um carro americano pneus americanos motor americano e pilotos americanos — dan gurney e aj foyt shelby e o gt40 mkiv americano a dose dupla em le mans satisfez o desejo de vingança de henry ford ii mas nao suas expectativas de vendas depois de gastar muito dinheiro e nao ver os resultados em pista se reverterem em vendas ele cancelou o programa de le mans e manteve os esforços de competiçao nas categorias americanas o fim do programa o foco da ford no gt350 e no gt500 — ambos agora voltados tambem para as ruas — e a pressao por mais segurança e a propria obsolescencia do projeto levaram shelby a encerrar a produçao do cobra em 1967 depois de pouco mais de 1 000 unidades produzidas — foram 75 mki 260 580 mki e mkii 289 e 348 mk iii uma produçao relativamente pequena para um carro americano — e menor ainda se comparada ao impacto que ele provocou no mercado americano e na historia do automobilismo isso porque o cobra foi mais que um mero esportivo ele foi a materializaçao de um momento unico na historia do automobilismo e da industria automobilistica o fim do cobra tambem coincidia com o fim de uma era a decada de 1960 havia sido um turbilhao de criatividade risco e testosterona sem filtro mas o mundo mudava a guerra do vietna deixava o publico mais cetico e menos interessado em velocidade as seguradoras começavam a apertar o cerco sobre carros potentes e as fabricantes passavam a temer os processos judiciais em breve a crise do petroleo seria a pa de cal nos v8 de rua de mais de 400 cv para carroll shelby no entanto aquilo nao era o fim — era apenas a transiçao para a mitologia mesmo longe das pistas o nome cobra permaneceu na memoria dos entusiastas e ganhou novos contornos com o tempo nos anos 1970 começaram a surgir replicas — algumas feitas com grande rigor outras nem tanto o numero de cobras circulando pelo mundo logo superaria em muito os exemplares originais nos anos 1980 e 1990 o culto so aumentou o carro havia se tornado uma especie de ideal platonico de esportivo puro leve brutal analogico sem concessoes o tipo de maquina que em tempos de carros cada vez mais assepticos representava uma rebeliao romantica contra o presente shelby soube capitalizar isso em diferentes momentos ele mesmo endossou ou participou de series de continuaçao versoes construidas com base em chassis originais nao usados ou com licença direta de sua empresa mas isso tambem gerou polemica — havia quem defendesse a pureza dos carros construidos entre 1962 e 1967 e quem acreditasse que com o aval de shelby qualquer cobra era um verdadeiro cobra sim o cobra jamais foi um carro perfeito era traiçoeiro o conforto era quase inexistente e o projeto era no fim das contas uma gambiarra genial entre um chassi britanico e um motor americano mas nada disso importa quando se trata de lenda o que faz o cobra transcender e exatamente o que ele nao teve filtros comites cautela era um carro criado por um homem doente do coraçao com prazo curto e objetivos quase impossiveis que ousou desafiar gigantes e venceu clique aqui para ver os capitulos anteriores
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