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Car Culture

Como fazer o Skyline GT-R R32 perfeito? Pergunte a esses caras

Dizem que nenhum carro é tão bom que não possa melhorar – sem exceção. De Chevette a Porsche 911, mesmo os carros universalmente aprovados pelos entusiastas não estão livres. O que também inclui, claro, o Nissan Skyline GT-R.

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É difícil falar do icônico esportivo japonês sem mencionar nostalgia, Gran Turismo e “Velozes e Furiosos” como explicação para seu sucesso. Mas a verdade é que, mesmo sem essa influência pesada da cultura pop, o Skyline GT-R seria um grande carro. Com ele, a Nissan investiu pesado em desenvolvimento, com um seis-em-linha biturbo e sistema de tração integral com diferencial eletrônico ativo há mais de 30 anos. Não foi à toa que a linhagem composta por R32, R33 e R34 (a tríade lendária do GT-R) durou 13 anos, de 1989 a 2002, com praticamente a mesma mecânica.

Mecânica essa que muita gente já decorou de cabeça: motor RB26DETT na dianteira – seis-em-linha da família RB, de 2,6 litros, com comando duplo no cabeçote, injeção eletrônica e dois turbos (é isso que significa seu nome completo) –, câmbio manual de seis marchas, tração integral e, normalmente, 280 cv declarados (que ficavam mais perto dos 300 cv em verdade).

A carroceria de três volumes bem definidos, cupê de verdade (sem molduras nas janelas, de acordo com a definição clássica e mais rigorosa) é bastante elegante – só não é formal porque estamos falando de um esportivo completo. O interior tem aquele acabamento bacana de todo carro japonês noventista, misturando sobriedade com toques rebeldes e materiais excelentes.

Mas nenhum carro é tão bom que não possa melhorar, lembra? E o Skyline GT-R sempre foi muito cotado pelas preparadoras japonesas em seus projetos. Uma infinidade de empresas que surgiram da cena de corridas ilegais do Japão, oficinas nascidas nas pistas e até a Nismo, preparadora e divisão de automobilismo da Nissan, fizeram o possível para deixá-lo ainda mais incrível.

E por que falamos tudo isso? Simples: tem novidade por aí – uma preparadora recente que trouxe uma abordagem nova à arte de modificar o Nissan Skyline GT-R.

Os projetos mais tradicionais e conhecido são inspirados em carros de competição (até porque há uma bela heritage para se espelhar) e no tuning que já está virando retrô. Mas o pessoal da Built by Legends, ou apenas BBL, faz diferente: eles decidiram modernizar o Skyline GT-R, dando a ele componentes de performance atuais, acabamento de alto nível por dentro e por fora, e tratamento completamente artesanal e sob medida. Tudo idealizado por gente verdadeiramente apaixonada pela história do carro, e que entende do assunto.

Foi o pessoal do The Drive quem nos apresentou a BBL e, cara, que inveja – eles foram ao Japão e puderam dirigir aquele que possivelmente é um dos GT-R R32 mais bem montados e bem acertados já feitos.

O carro é fruto da mente e do trabalho de duas pessoas – dois japoneses, Masaharu Kuji e Katsu Takahashi, que decidiram não mais guardar as coisas bacanas do Japão para si mesmos e, ainda nos primórdios da Internet, começaram a legendar vídeos da Best Motoring International. Você sabe, a revista que produziu centenas de vídeos f*dásticos com esportivos japoneses e Keiichi Tsuchyia, Daigo Saito e outros pilotos nipônicos importantíssimos e habilidosíssimos ao volante. Os caras da Best Motoring vivem o sonho e colocam todo tipo de esportivo japonês para andar como se deve, na pista ou em touges. É o mais perto que se pode chegar de Gran Turismo na vida real.

O material é considerado essencial para quem curte os maiores ícones do JDM, e Kuji e Takahashi sabiam disso. O website aberto por eles tornou-se a maior fonte de vídeos da Best Motoring no ocidente e, em 2001, eles acabaram oficializando a coisa – compraram os direitos de distribuição dos vídeos no Ocidente, devidamente editados e vendidos em fitas VHS. Depois, vieram os DVDs, e muito do que está no Youtube hoje em dia é resultado do trabalho dos dois.

Só por isso a dupla já merece aplausos, sinceramente – a barreira do idioma é uma das coisas mais tristes para quem curte carros japoneses mas não entende nada de japonês. Em inglês, mesmo que você não fale, as coisas ficam mais fáceis.

Acontece que o trabalho como distribuidores oficiais da Best Motoring para o mundo todo acabou abrindo portas. Kuji e Takahashi não dão detalhes sobre como aconteceu, mas garantem que foi graças aos vídeos que eles tiveram contato com vários preparadores famosos do Japão – além dos próprios apresentadores dos vídeos. Através desse contato, eles conseguiram suporte para criar a Built by Legends.

O nome da empresa explica: a ideia é usar o conhecimento e a ajuda dessas lendas da preparação para montar o carro perfeito – para si mesmos e para cada um dos clientes. Ou “fazer os restomods mais incríveis do mundo, construídos por verdadeiras Lendas da indústria”, segundo Takahashi conta em uma entrevista ao site Fatlace.

É claro que não foi uma decisão tomada da noite para o dia – foram quase 20 anos entre o início da distribuição de vídeos, em 2001, até a fundação da BBL, em 2018. Em quase duas décadas, além de estreitar os laços com preparadores, Kuji e Takahashi adquiriram experiência e angariaram fundos para fazer tudo da melhor forma possível.

A escolha pelo Skyline como carro-chefe (literalmente) da BBL tem a ver com as já citadas características – apesar de estarmos falando de um seis-em-linha, e não de um V6, a configuração mecânica tem ares atuais e imenso potencial para colocar esportivos do século 21 para suar a camisa. A BBL quer explorar esse potencial.

Para isso, o primeiro carro feito foi um GT-R R32 – o lendário Godzilla. Usar o primeiro dos Skyline com motor RB26DETT ajudaria a evidenciar o contraste entre clássico e contemporâneo.

Vale lembrar que a dupla da BBL não é especializada em colocar a mão na graxa: seu papel é conceber a receita e deixar quem é realmente especialista colocar a mão na massa. No caso do R32, quem contribui é a Mine’s, que abordamos aqui recentemente – a icônica preparadora que surgiu em 1985 e fez fama justamente com o Skyline GT-R, em suas três gerações.

O incrível Skyline R34 da Mine’s: o triunfo do equilíbrio sobre a força

A Mine’s ficou famosa por valorizar todos os aspectos do carro, e não apenas o motor, com muito equilíbrio. Aqui, porém, eles não economizaram em motor: o RB26DETT preparado por eles para a BBL entrega 507 cv e 51 kgfm de torque – graças a um aumento no deslocamento para 2,8 litros, novos turbos e ECU reprogramada (o que também permite que o limite de giro sela aumentado para 8.000 rpm). É quase o dobro da potência original, e fica ainda melhor quando se descobre que o GT-R ficou 120 kg mais leve que o original, pesando 1.350 kg.

A redução de peso vem através de peças de fibra de carbono – capô, para-choque dianteiro, componentes aerodinâmicos, peças do assoalho e também o túnel central. Afinal, a BBL desmontou o carro todo e realizou uma restauração completa, livrando-se de quaisquer imperfeições e aplicando cinco camadas de tinta em um serviço de alto padrão na mesma oficina de funilaria que cuida dos carros da Mine’s.

O trabalho da Mine’s, aliás, não se resume ao motor. Eles também instalam amortecedores Öhlins calibrados sob medida para o projeto, freios Brembo com discos de 355 mm na frente e 343 mm atrás. Estes são abrigados em rodas RAYS Volk TE037 (mais leves que as TE37, e com desenho levemente diferente) e pneus Bridgestone Potenza RE71RS.

O interior, por sua vez, é fruto de dois anos de trabalho para definir os melhores materiais e procurar mão de obra adequada. Os bancos, por exemplo, têm o revestimento fornecido pela mesma empresa que fazia os bancos do Lexus LS400 (o Mercedes-Benz Classe S japonês, para quem não lembra), que até criou uma estampa especial em homenagem ao Monte Fuji, símbolo do Japão – que também está no emblema da BBL.

The Drive teve a oportunidade de dirigir esse carro no Japão e, segundo eles, a diferença ao volante é perceptível: a embreagem de corrida aplicada ao câmbio original do carro é mais pesada e “morde” mais cedo, a suspensão está mais para firme que macia, e a qualidade de construção é absurda – especialmente por dentro.

Há pequenos toques que fazem muita diferença, como o volante (também feito pela Mine’s) que tem menor diâmetro e revestimento de Alcantara, mas o mesmo visual do original; ou a alavanca de câmbio feito sob medida. E o comportamento dinâmico do carro, plantado no chão e muito bem amarrado, não deixa dúvidas de que a base original do Skyline foi feita para aguentar muito mais que os 280 cv definidos pelo “acordo de cavalheiros” entre as fabricantes na década de 1980.

Não é por acaso que um projeto como esse não sai barato – o preço preliminar é de US$ 400.000 (quase R$ 2 milhões em conversão direta). Parece muito dinheiro para um carro cuja aparência não muda tanto assim, mas o que está por baixo é o que conta. Além disso, um Skyline GT-R R32, hoje em dia, não custa menos de US$ 40.000 – e os melhores já passam dos US$ 150.000.

E há outros projetos em mente: além do R32, um R34 está em processo de restauração nesse momento, e os trâmites para um Honda Civic EG6 igualmente caprichado já estão em curso – esse último será feito com a ajuda da Spoon.

É bom ficarmos de olho nesses caras.