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De lado na pista: um onboard matador com o clássico GT Malzoni

Em 1966, quando Emerson Fittipaldi tinha só 18 anos, ele e seu amigo Jan Balder fabricavam volantes esportivos que eram fornecidos ao pessoal de competições da DKW. Um dia, pouco antes das Mil Mihas Brasileiras e 1966, Jan foi à fábrica levar os volantes e perguntou se por acaso a DKW não teria um carro para emprestar para ele e Emerson disputarem a corrida.

Na época, a DKW já havia sido comprada pela Volkswagen, e a divisão de competições já havia sido desativada, mas eles ainda apoiavam a Equipe Brasil, que corria com três GT Malzoni, um esportivo de fibra de vidro projetado por Rino Malzoni e que usava o chassi encurtado da DKW e a mecânica dois-tempos do sedã Fissore. Ele começou a ser construído em 1965 e ao todo foram feitos cerca de 35 exemplares somando a versão de pista e de rua. Três destes 35 carros foram usados pela Equipe Brasil em 1966.

Depois de alguma discussão interna, os jovens pilotos conseguiram um dos três carros da equipe — o único com motor 1.0 (os outros dois eram 1.1) — e foram disputar a prova. Surpreendendo a todos, os dois “moleques” lideraram a prova a até quatro voltas do final. Foi quando um dos pistões quebrou e eles acabaram ultrapassados por Camilo Christófaro com a carretera #18, que venceu a corrida. Jan e Emerson ainda conseguiram terminar a prova em terceiro lugar.

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O carro hoje pertence a Carlos José Sarmento, mas durante algum tempo a originalidade deste exemplar foi colocada em dúvida por muita gente, ainda que Jan Balder e Miguel Crispim, mecânico-chefe dos carros de competição da DKW, garantissem que ele era de fato o carro das Mil Milhas. A originalidade acabou certificada pelo próprio Crispim e o carro continua acelerando em eventos de clássicos por todo o Brasil.

Recentemente o GT Malzoni esteve no Velo Città, o autódromo da Mitsubishi no Brasil, onde o piloto Roberto Aranha gravou um onboard com o clássico carro de corridas exibindo toda a sua glória em dois tempos.

De cara, o que mais chama atenção é o ronco do motor dois-tempos. Originalmente esse motor 1.080 cm³ e três cilindros produzia entre 50 e 60 cv, mas após passar pelas mãos de Crispim e sua equipe, chegava a 100 cv — suficiente para empurrar os 750 kg do carro até os 170 km/h.

Sendo um motor dois tempos de 100 cv, ele provavelmente também tem uma faixa útil de potência bem estreita, o que reflete diretamente no estilo da tocada do piloto. Para conseguir um bom desempenho, é preciso perder o mínimo de velocidade e de rotações (aqui ajuda o fato de o motor dois-tempos não ter freio motor) — tudo isso com pneus diagonais fininhos dos anos 1960. É por isso também que em algumas curvas o carro entra escorregando nas quatro rodas. Era uma das formas de conseguir manter o motor girando alto para não perder velocidade na saída das curvas, já que ele não tinha muito mais do que 10 ou 11 mkgf de torque.

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Além de ser o carro usado por Emerson e Balder nas Mil Milhas Brasileiras de 1966, esse exato exemplar do vídeo foi usado por Chiquinho Lameirão para quebrar o recorde de velocidade em sua categoria no antigo traçado de Interlagos. Foram 3:48,06 para completar os quase oito quilômetros de asfalto, uma média de aproximadamente 125 km/h.

Esse carro — como todos os outros da equipe — foi construído na fábrica da Vemag e modificado pela equipe do Departamento de Competições. Ele tinha uma série de modificações que só o pessoal da Vemag conhecia, como o suporte de fixação traseiro da carroceria, reforços com soldas no chassi, furações de alívio de peso no chassi, balanças aliviadas e amortecedores dianteiros com fixação modificada e mão francesa para maior resistência.

Por fora, ele foi decorado com o logotipo dos patrocinadores pelos próprios pilotos, que também incluíram dois adesivos bem-humorados relacionados aos seus apelidos: Rato (Emerson) e Omelete (Jan). Você pode vê-los em detalhe neste belo vídeo (acima) produzido pela Audi, que fez um excelente trabalho de preservação da história dos modelos brasileiros da DKW-Vemag, chegando a incluir um GT Malzoni de rua, um Fissore e um Belcar no acervo do museu da marca em Ingolstadt.

[ Foto: Blog do Flavio Gomes (carro na pista), Auto Bild (Jan Balder) ]