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Esta picape Volkswagen tem a estrutura impressa em 3D – e isto pode mudar a maneira de se restaurar clássicos

A adaptação é a forma como a natureza garante que os seres vivos sobrevivam a diferentes ecossistemas. Pegue as aves, por exemplo: por viver no gelo, os pinguins têm pernas, penas e asas curtas e não voam como a maioria dos pássaros. Eles se adaptaram a um lugar frio onde a maior fonte de alimento são os peixes, e por isso são verdadeiros torpedos quando estão debaixo d’água. Eles trocaram a habilidade de mergulhar nos céus pela capacidade de voar no mar.

Você deve estar se perguntando o que isto tem a ver com o VW Caddy, impressão em 3D ou mesmo com carros em geral. Simples: a adaptação também pode se aplicar aos carros, e esta VW Caddy com a estrutura dianteira toda impressa em 3D pode ser o primeiro passo em direção a um futuro bem interessante para quem curte carros antigos, mas está preocupado com a invasão meio inevitável dos carros elétricos nos próximos anos.

Há alguns dias Elon Musk anunciou que o novo Tesla Roadster, previsto para 2020, vai acelerar de zero a 100 km/h em dois segundos (ou menos) e terá autonomia de 1.000 km. Não foram poucos os que encararam a novidade como a confirmação final de que os carros elétricos são melhores e estão aí para substituir os ultrapassados e imundos carros com motor a combustão interna. Quem vai querer lidar com estas velharias quando todos os carros tiverem tomadas de energia em vez de tanques de combustível?

Bem, muita gente. Afinal os carros que funcionam à moda antiga ainda têm entusiastas old school suficientes para garantir sua existência, mesmo que as fabricantes realmente tirem das linhas de montagem os motores com cilindros, pistões, comandos de válvulas e todas estas coisas legais. E existe gente preocupada em expandir as possibilidades futuras dos carros que temos hoje. Claro, tudo ainda não passa de conceito, mas é algo viável e até promissor.

A empresa alemã csi entwicklungstechnik GmbH (assim mesmo, com letra minúscula) foi quem idealizou o projeto 3i-Print, com o objetivo de demonstrar todo o potencial da impressão 3D na indústria automotiva. Eles foram os responsáveis pelo design da estrutura frontal a ser aplicada em uma Volkswagen Caddy de primeira geração. A APWorks, subsidiária da fabricante de aviões Airbus, ficou responsável pela impressão em si, enquanto a Altair cuidou da programação e modificação do software de modelagem.

Em nove meses, as três empresas criaram um arranjo frontal completamente diferente para a picape – uma estrutura leve, rígida e, nos próprios termos usados pelo projeto 3i-Print, “funcionalmente integrada”. Isto significa que, além de pesar apenas 34 kg, a estrutura frontal impressa em 3D é tão firme (ou até mais) que o arranjo dianteiro convencional da Caddy e ainda cumpre dupla função: a parte da estrutura que corresponde às torres dos amortecedores e à barra de amarração também é utilizada como reservatório para o sistema de arrefecimento.

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A estrutura é feita de alumínio e é impressa por meio da sinterização: o metal é “pulverizado” e moldado a uma temperatura um pouco mais baixa que o ponto de fusão (no qual o metal derrete, no caso do alumínio a 660,3°C). Isto causa no material uma alteração estrutural a nível microscópico e possibilita que ele assuma a forma desejada de forma regular ao longo de toda a extensão da peça.

Para definir as formas e medidas da peça de metal, foi necessário escanear em 3D toda a estrutura da VW Caddy e, a partir dos dados escaneados, criar uma representação poligonal do espaço a ser ocupado pelo novo “subchassi” impresso pela 3i-Print. Dá para notar como o formato da peça reduz ao mínimo necessário o espaço ocupado pela mesma, sustentando os para-lamas e a face dianteira de maneira bastante integrada, quase como uma estrutura orgânica. O software também permite simular a reação da peça no caso de uma colisão, o que também foi levado em conta na hora de desenhá-la.

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A 3i-Print diz que a economia de espaço no cofre é uma boa notícia para os entusiastas de carros elétricos, pois possibilitaria acomodar melhor as baterias, por exemplo. No entanto, nós conseguimos enxergar outras vantagens mais interessantes aos entusiastas. Que ver só: imagine uma estrutura impressa em 3D como esta, porém feita sob medida para “abraçar” um motor convencional. Não parece absurdo – pelo contrário: manteria as formas originais do carro em um arranjo mais leve e rígido. Pensando nesta bonita Caddy vermelha com rodas BBS: ela poderia receber um motor VR6 ou mesmo um TSi de três cilindros igual ao utilizado no Up, e em qualquer um dos casos o motor ficaria apoiado em uma estrutura impressa em 3D feita sob medida.

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Futuramente, toda uma estrutura impressa em 3D poderia ser feita para acomodar uma carroceria clássica – abrindo espaço para um devaneio aqui, não nos parece absurdo um Jaguar E-Type, por exemplo, construído desta forma. Visual clássico por fora, motor seis-em-linha refeito do zero e um chassi tubular de alumínio sinterizado impresso em 3D, projetado para ser o mais rígido e leve possível. E, talvez o mais interessante, sem limitações técnicas por conta do formato das peças, diferentemente do que acontece com métodos tradicionais de dar forma ao metal, como usinagem, forja ou moldagem artesanal.

É claro que, antes de sair por aí dizendo que isto vai acontecer logo, é preciso lembrar que a impressão 3D em larga escala ainda é algo distante do nosso dia-a-dia e, naturalmente, dos nossos carros. Também é preciso lembrar que estamos trabalhando com suposições. Além da barreira técnica que estamos começando a atravessar, há a barreira cultural: muita gente aprecia a parte graxeira da coisa – desenhar os componentes, testá-los, descobrir erros, tentar corrigi-los, repetir o processo. Brincar com barras de amarração, pontos de fixação, posicionamento do motor em relação ao entre eixos – esta parte mais old school, mais romântica da coisa – aos poucos se tornaria passado. Em troca, teríamos um mundo de possibilidades.

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É impossível não ficar meio filosófico quando se trata de uma inovação com potencial para mudar significativamente o modo como nos relacionamos com os carros, o modo como os fabricamos ou modificamos. É nessa hora que a gente precisa lembrar que, assim ainda existem carburadores novos quase 40 anos depois da popularização da injeção eletrônica, dificilmente os carros que temos hoje vão desaparecer (a não ser que se tornem proibidos, mas preferimos não pensar nisso agora). Ainda há que compre vitrolas e discos de vinil na era do streaming, não? Mas só quem realmente gosta de música. Entende onde queremos chegar?