No Brasil, onde não existem muitas opções de carros acessíveis com tração traseira, o Chevette é uma das primeiras escolhas dos entusiastas – é um carro relativamente acessível, abundante e de mecânica simples, barata e robusta.
Seu cofre avantajado também estimula muita gente a colocar motores maiores nele, sejam o quatro-cilindros de dois ou 2,2 litros do Vectra (Chevectra), o 2.5 ou o seis-em-linha de 4,1 litros do Opala (Chepala) e até o V6 Vortec de 4,3 litros da Blazer (a diferença é que, neste caso, ninguém chama de “Cheblazer”). Como todo engine swap, não é uma manobra exatamente fácil, mas já existem receitas prontas que descomplicam bastante as coisas.
Se muita gente sabe que o Chevette é baseado no Opel Kadett de terceira geração europeu, nem todo mundo sabe que ele também foi vendido nos EUA como carro de entrada da Chevrolet entre 1975 e 1987. Sua proposta era unir baixo preço, praticidade e economia de combustível depois da crise do petróleo de 1973 (que ajudou a acabar com os muscle cars na época) e ele, de fato, conseguiu exatamente isto por doze anos. A única opção de carroceria é o hatchback, de duas ou quatro portas – nada de sedã ou perua, como aqui.
Acontece que o Chevette até vendeu razoavelmente bem, mas não tanto quanto no Brasil, e sua reputação não é das melhores: ele é considerado um carro apenas aceitável, mas ninguém quer um Chevette nos EUA. Em compensação, os que se aventuram a comprar um Chevette dispõem de muito mais opções de motor para colocar em seu espaçoso cofre – especialmente aqueles com oito cilindros em V.
É exatamente isto o que um cara chamado Jordan Frank está fazendo com seu Chevette 1985, que ele batizou de Red Rocket. Trata-se de um engine swap que envolve o V8 LR4 de 4,8 litros vindo de uma picape Silverado. Originalmente, o motor com comando no bloco é capaz de entregar até 288 cv e 40,8 mkgf de torque – quatro vezes mais que os 70 cv do quatro-cilindros de 1,4 litro que originalmente ocupava o cofre do compacto.
Acontece que não estamos falando aqui de um projeto bem calculado, feito com componentes de primeira e muito capricho na execução, não, senhor: o negócio aqui é achar o máximo de “soluções técnicas alternativas” (também chamadas “gambiarras”) e fazer o V8 caber no cofre do Chevette e funcionar direito custe o que custar — no sentido figurado, porque quanto menos dinheiro for gasto, melhor.
O estado do Chevette fala por si: a carroceria até que parece íntegra, mas a verdade é que o carro, comprado por Jordan há alguns meses como daily driver, é uma ratoeira, com ferrugem tomando conta do assoalho, dezenas de itens de acabamento faltando e… bem, olha só:
O caso é que, com o V8, Jordan queria que o projeto fosse duas coisas: barato e divertido. O que importava era fazer o motor e a transmissão caberem no carro e conseguir fechar o capô completamente para esconder toda a maldade.
É claro que não foi fácil, pois fazer o motor caber no cofre foi só o início do trabalho: ainda foi preciso abrir a parede corta-fogo e fabricar um novo túnel de transmissão, além de substituir a travessa dianteira por uma peça fabricada à mão usando uma placa de trânsito, como Jordan conta em seu tópico no fórum LS1Tech. Ele também mostrou os suportes do motor, feitos com pedaços de ferro que estavam jogados pela oficina.
Na hora de instalar os coletores de escape, Jordan viu que eles só caberiam se fossem instalados em posição invertida, o que incidentalmente liberou um pouco mais de espaço no cofre que, de repente, ficou apertado. Ainda assim, ele conseguiu instalar um radiador de alumínio (com uma ventoinha de 14 polegadas) e… um turbocompressor Garrett GT45.
Jordan não declara a potência do motor — provavelmente por que nunca a medio. Mas considerando que além do turbo ele também recebeu o comando de um V8 LS1, um intercooler, um módulo de Corvette e novos injetores, não seria exagero falar em 450 cv. Mas isso também pouco importa — importante mesmo é fazer o carro andar e não deixar que ninguém veja o que há debaixo do capô sem gastar muito.
Isto não significa, porém, que não existiram algumas dificuldades — especialmente porque, depois de colocar o carro para funcionar e dirigir oito quilômetros da oficina até sua casa, Jordan decidiu que era uma boa ideia viajar mais de 2.400 km de Ohio, onde mora, até o Kentucky, onde aconteceria um encontro de entusiastas dos motores V8 Chevrolet promovido pela Holley — o LS Fest.
Com peso extra na dianteira, suspensão cansada e estradas ruins, o carro acabou raspando o reservatório de óleo no asfalto e sofrendo um vazamento. O carro recebeu novos amortecedores e um novo cárter na estrada mesmo, e Jordan conseguiu voltar para casa.
O projeto começou em fevereiro de 2014 e o motor foi instalado e colocado para funcionar pela primeira vez em agosto deste ano – exatamente seis meses. E Jordan está atualizando tudo em seu canal no YouTube e em uma fanpage no Facebook que criou especialmente para o projeto.
Jordan não pretende consertar absolutamente nada na carroceria ou no interior, e não vai fazer nenhuma melhoria visual no carro — seu objetivo é deixar o carro exatamente com a aparência que tem hoje, porém com mecânica confiável e potente para dar sustos por aí. E, de vez em quando, deixar suas marcas no asfalto…
É o tipo de projeto que admiramos não por sua técnica, pelo visual ou mesmo pelo resultado (até porque ainda não acabou), e sim pelo modo como o dono só quer se divertir e fazer um carro rápido sem se importar com mais nada, buscando soluções alternativas eficientes e não-convencionais para realizar seu objetivo.
[ Fotos: Jordan Frank/Red Rocket Chevette ]