Em 1984, pouco depois do lançamento da terceira geração do Civic, a Honda pretendia ser a primeira fabricante japonesa a conquistar um título no Campeonato Mundial de Rali, o WRC. Para isto, seguindo as regras do Grupo B, eles criaram uma versão especial do recém-lançado hatchback, com um motor V6 central-traseiro e para-lamas alargados. No entanto, a ideia foi considerada inviável e apenas dois protótipos foram construídos. E um deles está guardado em uma garagem escondida no meio de Tóquio.
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O parágrafo anterior é totalmente falso. Nunca aconteceu. Mas o americano Andy Barcheck costumava contar esta história quando alguém lhe perguntava a respeito de seu project car, do qual ele tinha muito orgulho: um Honda Civic de terceira geração, com um motor V6 vindo do Acura Legend atrás dos bancos dianteiros e carroceria widebody, carinhosamente batizado “Hondura”. Ele dizia que seu carro era o segundo protótipo. E as pessoas acreditavam.
Andy, ex-engenheiro da marinha dos EUA, é um entusiasta de carteirinha – o Hondura estava longe de ser seu primeiro projeto, vindo depois de um BMW E30 restaurado, mas certamente era seu favorito. O carro foi feito com muito capricho, inspirado mesmo nos protótipos do Grupo B (em especial, segundo Barcheck, o Renault 5 Turbo), e execução primorosa. Barcheck queria que o carro parecesse mesmo um projeto secreto da Honda.
Isto já faz tempo: Andy montou o carro nos anos 1990, e o vendeu há mais de duas décadas. A vida é assim mesmo, e às vezes nos obriga a abrir mão de algo que amamos para seguir adiante. Mas Andy, hoje um senhor de cabelos brancos e ar jovial, jamais se esqueceu de seu Civic. E agora, ele reencontrou o carro – que está quase examente como era há duas décadas, para sua satisfação.
Quando estava nas mãos de Andy, o Honda Civic foi radicalmente transformado. O hatch foi desmontado por completo e os para-lamas foram alargados com material metálico, que formou tomadas de ar para o motor na traseira. O monobloco que recebeu uma estrutura tubular construída sob medida para abrigar o motor e os componentes da suspensão. Esta também foi projetada por Andy, que optou por um arranjo MacPherson com amortecedores ajustáveis no lugar do eixo rígido traseiro. Ele empregou o mesmo sistema na dianteira – que originalmente vinha com barras de torção.
Originalmente, o V6 de 2,5 litros usado pelo Acura Legend 1986 entregava 153 cv a 5.800 rpm e 21,7 kgfm de torque a 4.500 rpm, mas Andy deu a ele cabeçotes com maior fluxo e o sistema de injeção mecânica Bosch K-Jetronic de um Porsche 911 – o que deve ter garantido mais alguma potência. O sistema de arrefecimento de um Chevrolet Corvette (que também cedeu os freios) foi adaptado no cofre dianteiro, que também abrigava o estepe. Já o câmbio manual de cinco marchas foi aproveitado exatamente como estava.
O conjunto era suficiente para levar o Civic de zero a 402 metros em 14,9 segundos a mais de 150 km/h, com velocidade máxima de pelo menos 201 km/h. Mas a suspensão bem acertada, a distribuição de peso ligeiramente traseira (43/57) e os borrachudos pneus 205/50 na dianteira e 225/50 na traseira – calçando rodas Enkei de 15×7 e 15×8 polegadas, respectivamente – deixavam o carro mais à vontade em um track day do que em uma pista de arrancada.
Depois de curtir o Hondura por alguns anos e desfazer-se dele, Andy não teve muito mais contato com o carro. Ele sabia que o Civic havia trocado de mãos algumas vezes e que conservava boa parte das modificações que ele havia feito, mas nunca havia conseguido falar com nenhum dos donos anteriores. Até agora.
O pessoal da Turn10 Studios, desenvolvedora de Forza Motorsport, decidiu promover o reencontro entre Andy e seu Civic. O momento foi registrado em vídeo e publicado no Youtube no início do mês, como primeiro episódio de uma série chama da Along for the Ride (algo como “De Carona” em tradução livre). A ideia é justamente mostrar alguns project cars interessantes, tanto tecnicamente quanto por sua história.
No vídeo, o atual dono do carro conta que realmente não havia muito o que melhorar no Civic. Eric Schmidit comprou o carro há dez anos, e diz que Andy fez um excelente trabalho no acerto dinâmico do hot hatch – ele diz que é um carro neutro e fácil de conduzir, e que solta a traseira com facilidade em uma condução mais animada.
Isto posto, Eric fez uma mudança importante: removeu o motor C25A colocado por Andy e colocou em seu lugar outro V6, de 3,2 litro e 260 cv, vindo de um Acura CL Type S – uma versão rebatizada do Honda Accord.
Andy ficou satisfeito em saber disso, dizendo que havia mesmo acertado o carro para lidar com 100 cv a mais. Ele só não teve meios de fazê-lo. Mas, felizmente, este Honda Civic único no mundo encontrou um dono disposto a manter a essência do projeto intacta. Nem todo project car tem esta sorte.